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Aramis

Qualquer dia a mansão dos Gomm cairá (e com ela também memórias do Batel)

Um exemplo único de arquitetura no estilo da Nova Inglaterra, inteiramente construída em "Araucária angustifolia", está ruindo no Batel. Embora localizada num terreno desapropriado pelo ex-prefeito Roberto Requião e tombada pelo Estado há exatamente dois anos (*), a Mansão dos Gomm, na Avenida Batel, 1829, está abandonada desde 1988, sem qualquer conservação e interditada inclusive à inspeção oficial dos integrantes do Conselho do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado. Só com uma medida judicial - que está sendo providenciada pela Procuradoria Geral do Estado - se tornará possível verificar as reais condições em que se encontra uma das residências que fazem parte da história e da paisagem curitibana. Os atuais proprietários do imóvel - os empresários Gustavo Berman e Salomão Soifer, no seu natural desejo de dar um aproveitamento lucrativo ao imóvel que adquiriram há quatro anos, não permitem a ninguém o acesso àquele que foi, por mais de quatro décadas, um dos endereços chiques da cidade, espaço em que aconteceram notáveis recepções diplomáticas e encontros das mais tradicionais famílias paranaenses. Enquanto o ex-prefeito - e hoje governador Roberto Requião - declarou de utilidade pública a área, para em seus 19.430 metros quadrados, ser implantado mais um parque para a cidade - a atual administração municipal, mesmo com todo o marketing que faz em torno de "Curitiba, Capital Ecológica", descarta completamente esta idéia. Segundo o empresário Salomão Soifer - que também é o principal acionista do Shopping Center Muller - o prefeito Jaime Lerner, consultado se a atual administração teria interesse em levar adiante a idéia do Parque do Batel, afirmou que isto não faz parte, em absoluto, de seu programa de governo. Entende a Prefeitura ser totalmente dispensável reservar aquela privilegiada área encravada num dos pontos mais valorizados da cidade, para destiná-la a um parque público. Para a administração lerneana, desde que respeitadas as leis do zoneamento urbano (a área não permite construções elevadas) e preservada a quota mínima das árvores existentes, o espaço pode ter outras destinações. Assim não entendeu, há quatro anos, o hoje governador Roberto Requião. No final de sua administração municipal, num dos mais polêmicos decretos, declarou de utilidade pública a propriedade que a firma Soifer, Berman & Cia. Ltda. (Rua Carlos de Carvalho, 1442) havia adquirido por apenas Cr$ 21 milhões, pagos aos herdeiros da família Gomm. A repercussão do decreto de Requião foi imensa. Era a declaração de guerra ao grupo Soifer/Berman (que já havia enfrentado problemas em relação as exigências municipais no Shopping Center Mueller) que, naturalmente, foi para a Justiça. O volumoso processo, repleto de pareceres e páginas de arrazoado jurídico, está agora à espera de sentença final do Supremo Tribunal Federal. Berman e Soifer têm como advogado uma das eminências jurídicas do Estado, o professor Elio Narezi. Nota (*) Em reunião realizada no dia 6 de abril de 1989, o Conselho Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico aprovou o tombamento da casa de madeira, bosques e jardins da propriedade, observando o que prevê a Lei Estadual nº 1.211, de setembro de 1953. Em 14 de abril do mesmo ano, foi feito o registro do tombamento no 6º Cartório de Imóveis. Dos dez integrantes do Conselho do Patrimônio Histórico e Artístico, apenas um membro, Celso Fernando A. Gomes Carneiro, votou contra o tombamento.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
07/04/1991

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