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Aramis

Qualidade não vende

(Yolanda( Serra da Silveira, uma paulista que após 10 minutos de palestra dá a impressão de ser uma amiga de infância, tal a sua comunicabilidade e que, há 10 anos passados, em Curitiba, implantava o departamento de discos das lojas Hermes Macedo, nos últimos quatro anos foi a executiva da Basf Brasileira S/A, setor de audiovídeo. E como fez em 1973, quando percorreu as capitais do Sul, pesquisando junto aos donos de lojas de discos, da sobre quais os discos do catálogo de 1.200 títulos da Basf alemã, com condições de aqui serem lançados, agora veio com uma triste missão: comunicar que a partir de 1º de setembro, o selo Basf, em termos fonográficos, deixa de existir também no Brasil - dentro da decisão tomada pelo comando central da multinacional em acabar internacionalmente com este setor. Produzindo quase 6 mil diferentes produtos no Brasil - embora, em termos de consumo, seja identificada principalmente como fabricante de fitas de gravação, a Basf introduziu o setor de discos em fins de 1973. Yolanda Serra da Silveira, com experiência de 27 anos no setor fonográfico, foi convocada para assessorar o sr. Hecto Urbina, ex-dirigente da RCA Victor internacional e coube a ela acumular múltiplas funções neste período. Ao lado da edição de 120 discos de jazz, clássico e popular, prensados no Brasil, a Basf importou mais de 60 mil elepes, de 350 títulos entre os 1.200 disponíveis no "Gesamt Katalog", um dos mais gabaritados da Europa. Com uma qualidade técnica única, excelente acabamento, o grupo Basf - incluindo as etiquetas Harmonia Mundi, MPS, Cornet, First Class, Punkt, Peggy PEG - Jugendserie, Buk Records e Splash,(dispunha( de séries excelentes de jazz - com uma coleção de 25 álbuns, de Oscar Peterson, seis álbuns feitos por Baden Powell na Alemanha, George Shearing, Earl Hines, Duke Ellington, entre nomes conhecidos - ao lado de músicos de vanguarda, inclusive com trabalhos altamente experimentais. No campo erudito, então, o catálogo da Basf era o mais completo, mas apesar de toda a qualidade, em termos comerciais, os resultados foram decepcionantes: dos 120 elepês aqui editados a venda foi de apenas 130 mil cópias (só para comparar, um elepe de sucesso vende hoje, (tranqüilamente(, 300 a 400 mil cópias no Brasil). Ou seja: a qualidade foi insuficiente para criar um mercado - já limitado, pela existência de apenas 104 pontos de venda em todo o Brasil. Agora, está havendo liquidação do estoque - e com a colocação dos últimos exemplares nas lojas - aliás os preços mais elevados da praça (de Cr$ 250,00 a Cr$ 750,00 a unidade), praticamente desaparecerão estas edições. Mesmo que as matrizes sejam vendidas a outra fábrica - e há várias interessadas - jamais se terá a mesma qualidade técnica. O desaparecimento da Basf no setor fonográfico - não apenas no Brasil, mas em todo o mundo (na América Latina, atuava na Argentina e Venezuela), é mais uma prova de que nem mesmo uma multinacional consegue manter-se apenas com um catálogo de nível artístico. Pois enquanto a Basf, com centenas de discos clássicos e de jazz, vendeu em 4 anos, apenas 130 mil exemplares, um cantor de Marechal Cândido Rondon, Walter Basso, com seu "Castelo de Sonhos" - produzindo nas condições técnicas mais precárias - já passou das 50 mil cópias.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
4
17/08/1977

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