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Aramis

A preservação do estilo tradicional

O Preservation Hall, em New Orleans, vem funcionando em termos regulares há 19 anos. Isto porque das sessões informais que ali eram realizadas entre 1952/57, pelos dirigentes da Associated Arts Studio, uma galeria de arte que ocupou a antiga casa construída em 1750, se tentou um clube dos próprios músicos, mas que acabou tendo problemas internos. Só a intervenção de Sandra e Allan Jaffe, com ajuda da prefeitura, tornou o Preservation Hall um espaço aberto a todos os músicos do estilo tradicional, que, em rodízio, ali se apresentam. Jovens músicos, vindos do Japão ou da Europa, ali buscam aprender o << New Orleans Style >> - com instrumentos de metal, banjo dolente e um piano velho, que pouco contrasta com o ambiente rústico. As cadeiras são de madeira - poucas e incômodas, não há refrigeração, mas dificilmente alguém deixa o Preservation Hall: músicos com 60, 70 e até 80 anos ali mostram a música mais envolvente. << Sweet >> Emma, uma pianista paralítica, chega em sua cadeira de rodas e dedilha magicamente o teclado. O trompetista Kid Valentim é o lider de um dos grupos mais famosos que ali se apresentavam, assim como George Lewis - líder da Eureka Jazz Band, que sai às ruas. quando morre um músico de jazz ou nas datas festivais. E praticamente todos os grandes nomes do jazz, passaram pelo Preservation Hall, como espectadores ou dando suas canjas: ali. Duke Ellington, Ella Fitzgerald. Louis Armstrong e a tão notável quando desconhecida no Brasil. Nellie Lutcher (para Hermínio Bello de Carvalho a melhor cantora do mundo) tiveram momentos de emoção. Oficialmente seriam cinco as << jazz band >> que se apresentam no Preservation Hall. Mas há uma rotatividade grande: a idade avançada de muitos faz com que exista uma constante sucessão - embora, tradicionalmente, no Preservation Hall, os jovens - mesmo talentosos fiquem quase sempre como espectadores. O ingresso é quase simbólico - em 73 custava um dólar, agora deve estar em dois ou três. Discos de << Sweet >> Emma ou dos outros grupos que ali se apresentam, editando pela Atlantic ou etiqueta independentes, são vendidos na porta. Alguns destes discos são encontrados fora de New Orleans e a CBS, segundo disse seu diretor de jazz no Brasil, Arlindo Coutinho, está colocando agora nas lojas um disco com uma das bandas do Preservation Hall. Há três anos, esteve no Rio e São Paulo a Preservation Hall Jazz Band, liderado por Kid Thomas Valentim, trompete, 80 anos, e mais Joseph << Kid Twat >> Butler, baixo, 69 anos: Alonzo Stewart, bateria e vocal, 57 anos : Emanuel Paul, sax, 74 anos: Emanuel Sayles, banjo e guitarra, 71: Paul Barners, clarineta, 74: Dave << Fat Man >> Willians, piano, 56 anos e Homer Eugene, trombone, 62 anos. Agora, para a nova vinda ao Brasil, já houve substituições: daquele grupo retornam << Kid Twat >>, Stewart. Emanuel Paul e Mr. Valentim continua firme. Worthia Thomas no trombone e Manuel Cristo na clarineta, vem pela primeira vez ao Brasil. O repertório que apresentará é tradicional, com clássicos << dixieland >> como << Peanuts >> , << Just a Closer Wal With Three >> , << Just a Little While To Stay Here >>, << Sweet Georgia Brown >>. << Pennies From Heaven >>, entre tantos outros. Um fato é indispenável: ouvir e ver os oito velhinhos que farão hoje um único concerto no Guaíra fará com que se conheça e entenda melhor o jazz tradicional. E fechando-se os olhos, imagina se toda a beleza da quente e musical New Orleans, com seu vinho de milho, suas pipocas quentes, suas ruas repletas de criolos alegres. Enfim, desta São Salvador dos Estados Unidos, que tem até o melhor carnaval mundo afora. FOTO LEGENDA 1- Alonso Stewart: percussão e voz na banda do Preservation. FOTO LEGENDA 2- Percy Humphrey: trumpete
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
1
22/05/1980

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