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Aramis

Presença de Braguinha

Apesar do frio que fazia na cidade da Lapa, na noite de segunda-feira, todas as cadeiras de palha do centenário Teatro São João, um dos mais originais do País, em seu estilo elisabeteano, foram ocupadas por crianças e adultos que, aplaudiram o espetáculo "Três Tempos", abrindo o Circuito Paraná. Nervosos no início, frente ao pouco tempo que tiveram para montar o roteiro, todo quase que improvisado, mas descontraídos afinal, - embora trêmulos de frio, tiritando mesmo com o embalo do generoso Macieira 5 estrelas - os compositores João de Barro, Luís Antônio, Cesar Costa Filho, mais os cantores Miltinho e Mano Rodrigues, e os instrumentistas Celso Pirata (flauta e violão) e Hugo (bateria), apresentaram um espetáculo documento da música brasileira, ontem reprisado no Guaíra - e hoje a ser visto pelo público de Ponta Grossa. xxx Como afirmamos ontem, o fato de João de Barro, o Braguinha, autor de 600 músicas, entre as mais conhecidas marchinhas carnavalescas, músicas românticas ("Laura", "Copacabana") e poemas como "Carinhoso" e "As Pastorinhas", vir ao Paraná, pela primeira vez em seus 71 bem vividos e musicais anos, é um evento que justifica mais do que um simples registro. Junto veio, Luís Antônio, 57 anos, que durante anos praticamente se escondeu de qualquer presença pública, devido suas atividades como oficial do Exercito, ocupando missões importantes no Ministério da Guerra, mas fazendo sambas carnavalescos com letras de fundo social - sucessos nas vozes de Emilinha Borba ("Lata D'água", "Zé Marmita"), ou Elizete Cardoso ("Barracão"), ou temas românticos antológicos, como "Devaneio", ou "Eu e o Rio", esta uma das mais belas letras do cancioneiro nacional. xxx Tanto Braguinha como Luís Antônio continuam a produzir. Braguinha tem uma série de cantigas curtas, cada uma com menos de um minuto, que intitula de "Canções de Nada". Luís Antônio encontrou em Cesar Costa Filho, extraordinário harmonizador e belíssima voz, o parceiro para novas músicas, como uma valsa mostrada ontem, no Guaíra, em lançamento nacional. xxx Autor dos maiores sucessos carnavalescos entre 1930/60, Braguinha pode, como poucos, dar um depoimento sincero sobre a decadência da música desta festa. Mas, homem sem mágoas, não gosta de atacar ninguém, embora não deixe de ser grave que um compositor de sua comunicabilidade, tenha visto uma marchinha que fez para o carnaval de 1978, intitulada "Loira Pantera", ter obtido uma única execução nas rádios cariocas, simplesmente porque não se dispões - com toda razão a mendigar favores. Ou "O Canário Vai Cantar", também feito para o Carnaval, ter conseguido apenas 4 veiculações. Mas esta marchinha, com tema futebolístico, foi regravada agora com Os Incríveis, em compacto da RCA (de outro lado, "Goool: Brasil" de Zurana, e poderá acontecer com a motivação da Copa. Afinal, há 28 anos passados, quando o Brasil deu o "olé" a Espanha por 3x1, na Copa do Mundo, 200 mil pessoas, no Maracanã, cantavam "Touradas em Madri". Na arquibancada, o único que não cantava era João de Barro, seu autor (em parceria com Alberto Ribeiro). Sentado, rosto entre as mãos, chorava de emoção e alegria. Com toda razão.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
4
24/05/1978

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