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Aramis

A presença cristal da iluminada Bebel

Uma prova de profissionalismo e, sobretudo, generosidade foi dada pela cantora Bebel (Isabel Hollanda Pereira de Oliveira, Nova York, 12/5/1966) na noite de sexta-feira, no Teatro Paiol: Apesar de apenas 15 pessoas na platéia, fez um espetáculo com toda emoção, arrancando aplausos entusiásticos e até o pedido de um bis - que atendeu com a balançante "Drumer Neguinha". Mais uma vez o público curitibano demonstrou que só sabe consumir produtos enlatados e com o marketing do consumo industrial: poucos foram os que souberam aplaudir uma das mais talentosas cantoras da nova geração, também compositora inspirada, voz cristalina, suave presença com um repertório moderno. Independente da ilustre árvore genealógica que possui - o avô Sérgio Buarque de Hollanda; a mãe - a cantora Miucha; o tio Chico Buarque de Hollanda e, especialmente o pai, o mitológico João Gilberto, Bebel é um talento próprio, personalíssimo. Justamente toda essa carga de talentos familiares faz com que Bebel procure seus próprios caminhos e, naturalmente conhecendo mais do que ninguém todo o repertório Gilberteano, evite qualquer um de seus clássicos, inclusive uma obra-prima - "Bebel ou Como São Lindos os Olhos Youguis", que o pai coruja lhe dedicou em seu quarto aniversário. xxx Embora já com quase 10 anos de presenças musicais - aos 8 anos, dividia um lírico especial que João Gilberto fez na Globo, transformado em disco -, participações em vários elepês e tendo dividido com Pedrinho Rodrigues (uma das mais belas vozes cariocas, totalmente desconhecida fora do Rio de Janeiro) uma homenagem ao compositor Geraldo Pereira (1918-1955), foi na sexta-feira que Bebel, pela primeira vez, encarou um show de teatro, na minimalista formação voz/piano, este com um jovem e talentoso tecladista carioca, Carlos Fuchs (RJ, 2/7/1965), 18 anos de piano. Assim o reduzido público que esteve em sua estréia não a irritou, "mas deu para sentir uma grande comunicação, um grande carinho" como Bebel comentaria durante o sofisticado jantar com que foi homenageada pelo restauranteur no Brass Rail. Homem de muitas andanças (e estórias), François é amigo da família Buarque de Hollanda há mais de 30 anos e, a exemplo do que sempre fez com Miucha em suas passagens por Curitiba, recebeu fidalgamente a Bebel e seu marido, o professor João Cláudio. Outro grande amigo local de Miucha, o "índio" Ike (Manoel Henrique Vianna Loyola), 47 anos, grande produtor de champignon e aspargo em Colombo, em seu Masserati fez questão de mostrar a cidade, em suas diferentes atrações. xxx As apresentações de Bebel no Paiol - documentadas pelo videomaker Osval Siqueira Filho (Tionkim), que também se apaixonou pela espontaneidade e talento da cantora, foram momentos magnifícos. Num vestido negro, longo, generoso decote - cabelos presos, iluminada pelos holofotes conduzidos por Leonel, Bebel foi uma presença terna, num som de cristal em moldura jovem - mas com a categoria de uma autêntica diva da melhor tradição. Inteligentemente, buscou um repertório alternativo e jovem , como parcerias com o amigo Cazuza e o ex-marido Dé ("Mais Feliz", "Preciso Dizer Que Te Amo"), incluindo Caetano ("Avarandado", "Lua, Lua"), Bernado Vilhena/Zé Luiz ("Sentido Contrário") e duas jóias de Donato ("Até Quem Sabe" e "Bananeira"), ponto mais próximo da ligação bossanovista - já que o acreano Donato, 56 anos, foi sempre um dos maiores amigos do papai João Gilberto. Que, aliás, foi quem lhe sugeriu a inclusão de um antigo sucesso de Dircinha Batista, "Diga", "minha homenagem às cantoras do rádio", como explicou. LEGENDA FOTO - Bebel e Tionkim: um belo show registrado em vídeo.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
24
01/11/1990

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