Premiado "Ameríndia" será exibido graças ao Simuc
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 10 de setembro de 1991
Graças ao Sindicato dos Servidores Municipais de Curitiba, um dos mais importantes documentários da nova safra do cinema brasileiro terá como exibição especial amanhã no Cine Groff, às 20h30. Ludimi Rafanhia, presidente do Simuc, alertado sobre a importância de "Ameríndia - Memória, Remorso e Compromisso no V Centenário", que recebeu troféu Candango no XXIV Festival do Cinema Brasileiro de Brasília (3 a 10 de julho) - como melhor filme - e também premiado pela sua fotografia - convidou o padre Conrado Berning a trazer este filme que mostra uma realidade sincera, corajosa e necessária de ser denunciada em relação a presença do homem (dito) civilizado no continente americano.
Único sacerdote-cineasta em atividade regular no Brasil, o padre Berning, 50 anos, alemão da Riviera mas há 20 anos no Brasil, há cinco anos já havia realizado outro sincero documentário - "Pé na Caminhada", sobre a Teologia da Libertação, exibido por duas semanas no Cine Ritz, quando Francisco Alves dos Santos, então coordenador da área de cinema, sabia valorizar e proteger trabalhos cinematográficos de grande força política - o que hoje não acontece na área da Fucucu. Amigo pessoal de Francisco Alves dos Santos - cuja substituição de forma ilegal e brutal na Cinemateca prejudicou a imagem (dita) cultural da administração Jaime Lerner - o padre Conrado Berning fez questão de que a exibição deste seu novo filme fosse feita com uma entidade sindical, apoiada por outras forças preocupadas com problemas sociais. Em seu filme, o padre Berning faz uma denúncia sobre a destruição das culturas indígenas do Continente, através de imagens de grande beleza. Utilizou, inclusive, imagens inéditas das comunidades indígenas do Xingu na década de 50, graças a documentação do pioneiro cinematográfico Gesco von Puttkamer, 75 anos, da Universidade de Goiás. Cinegrafista em trabalhos desenvolvidos pelos sertanistas irmãos Vilas-Boas, von Puttkamer documentou cenas tocantes dos índios - aos quais somam-se seqüências que Berning foi buscar na Amazônia, Chile, Equador e México.
Especialmente marcante é um depoimento da índia equatoriana Ana Maria, que, aliás, esteve presente no Festival de Brasília, quando mereceu particular atenção da imprensa nacional. Obras como "Ameríndia" deveriam ser obrigatoriamente prestigiadas por entidades oficiais, especialmente como a Fucucu, que custando nada menos que Cr$ 7 milhões por dia para a população, tem a obrigação de reservar seus espaços a filmes denúncias como este. Entretanto, só graças ao independente Sindicato dos Servidores do Município, cuja diretoria começa a se preocupar com uma programação cultural alternativa, é que o público interessado poderá conhecer amanhã este documentário reconhecido pelo público de Brasília como o melhor dos longa-metragens ali apresentados em julho último.
Enviar novo comentário