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Aramis

A pobre música do Carnaval 1986

Impressionante a decadência da música de Carnaval. Os raros elepês com músicas ligados à festa mais popular do Brasil tiveram pouquíssima divulgação - nas emissoras de Curitiba passaram praticamente desapercebidos. Só mesmo os elepês, com as Escolas de Samba do Rio e São Paulo, editados pela RCA e Continental, mereceram algumas notícias - enquanto lps de puxadores de samba, do Osvaldinho da Cuíca e mesmo dos trios elétricos foram ignorados. xxx Para não dizer que não houve marchinhas e sambas compostos para a festa deste ano, a RGE distribuiu o lp produzido pela Sigem, reunindo as 12 finalistas do concurso "Canta Meu Povo", promovido pela Radiobrás, com apoio da Funarte/ Riotur, que teve suas eliminatórias entre os dias 9 a 23 de setembro e a final a 21 de outubro do ano passado, no Circo Voador, no Rio de Janeiro, Músicas ingênuas, algumas até simpáticas, mas que passaram desapercebidas pois só alguns dias antes do Carnaval é que alguns poucos exemplares do disco chegaram a Curitiba. O nome mais popular desse elepê foi o de Emilinha Borba (Emília Savana da Silva Rocha), 63 anos, que além de abrir o lado B com a marchinha (Rainha de Sabá) - de dois ilustres autores - o empresáiro das comunicações Adolpho Bloch e o jornalista Carlos Heitor Cony (mais o músico Carlos Cruz), ganhou também um compacto simples, com um frevo dos mesmos autores: "Ai Meus Sais". xxx Entre os participantes do "Canta Meu Povo" estão Ricardo Villas (ex- Momento Quatro), com o frevo "Golpe do Abraço", o afinado Pedrinho Rodrigues cantando o bonito samba "Mangueira não é só Empolgação", do parnanguara Paulinho Soledade; a balançante Sonia Santos com "Esteira da Paixão" e Renata Lú, com "Um Novo Amor" (Jorginho Machado/ Manoel Machado/ Osvaldo Nunes). Mas convenhamos que para uma festa que, em décadas passadas tinha de 300 a 500 músicas disputando o gosto popular, hoje o panorama é melancólico. Assim, o que se ouviu mesmo nos clubes foram os sucessos dos anos 30, 40 e, no máximo 50 e 60... xxx Há pianistas-criadores como Claude Bolling - que infelizmente ainda poucos conhecem - e há também os diluidores de sons bem sucedidos como Richard Clayderman (Philipe Pages, Pris, 1963), que em poucos anos de carreira se transformou num dos maiores êxitos em vendagem de discos. Às vésperas de uma nova excursão pelo Brasil - e a exemplo do que fez outro esperto francês, o também pianista (mas sobretudo regente), Paul Mauriat - Clayderman grava hits de várias épocas, num LP que naturalmente estará sendo vendido em seus concertos - mas que antecipadamente a CBS já colocou nas lojas ("Richard Clayderman Especial/ Brasil Tour'86"). Nesta geléia geral há desde potpourris com clássicos como "Moon River", "La Vie En Rose", "Maria", "Tonight", até hits como "Dolannes Melody", "Feelings", "Lara's Theme", "Yesterday" etc. Enfim, uma mistura digestiva para o público a que se destina. Em apenas 9 anos de carreira, Clayderman já gravou 20 álbuns e vendeu nada menos do que 41 milhões de cópias em todo mundo, o que já lhe rendeu 177 discos de Ouro e 42 de Platina. Um êxito que alcança todas as extensões do Planeta. Enfim, um sucesso comercial mas que nos faz lembrar uma tirada inteligente do jornalista Nireu Teixeira. Comentando o "sucesso" de um curitibano muito vaidoso mas de pouca inteligência, Nireu lembrou: - "É verdade. Mas o elefante do circo Ringling & Barnum também já fez várias vezes a volta ao mundo. E continua elefante..." xxx Boy Meets Girl... O clássico cenário, a velha história de um rapaz que encontra uma garota. Mas no caso da dupla de cantores/ compositores George Merrill e Shannon Rubican a história resultou em boas músicas. Uma deliciosa soul music, produzida por Merril e Rubican, ambos nascidos em Seattle, Washington, que juntaram seus talentos há dez anos. Hoje, já têm muitos sucessos nas paradas e um hit em especial - "Oh Girl". George faz a maioria dos arranjos, toca sintetizador e teclados. E junto com Shannon também canta - mas não chegam a formar um dueto. Explicando a música que fazem, George diz: "O coração de nosso som é o sintetizador mas a alma sempre foi a guitarra, junto ao som vivo do baixo". O resultado pode ser apreciado no lp "Boy Meets Girl" (A&M/CBS), um dos agradáveis discos jovens lançados nos últimos meses.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
23
16/02/1986

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