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Aramis

Plácido continua a gravar os populares

Os puristas da ópera - como Humberto Lavalle, por exemplo - devem estar dando urros de indignação. Cada vez mais os grandes tenores (e também algumas sopranos) estão enveredando pelos caminhos do popular. Carreras, Pavarotti e Plácido Domingo têm gravado tantos discos de música popular que já não é mais novidade a presença deles nos balcões menos nobres das lojas de discos. Agora, mais uma vez o espanhol Plácido Domingo - que também tem enveredado pelos caminhos cinematográficos, com sucesso ("Carmen", "I Pagliacci", "Otelo"), faz um belo disco... de temas populares. Uma produção tão comercial que na capa, em black-tie, aparece em insinuante foto ao lado de uma bela companhia feminina. No repertório, uma das faixas - das mais bonitas, por sinal - "A Love Until The End of Time" (Lee Holdridge/Carol Connors) é dividida em dueto com a suave Maureen McGovern. Holdridge, arranjador de algumas faixas, é co-autor (com Will Jennings) de "Love Came For Me", tema do filme "Splash - Uma Sereia em Minha Vida", que abre o disco e no repertório, dos mais diversificados há versões de músicas italianas ("The Great Dreamer", de Riz Ortolani), francesa ("Les Bateaux Sont Partis/ The Boats Have Sailed", de Charles Aznavour), sem contar clássicos como "Just A Dream Away" (Michael Miller/Mônica Riordan) ou "Maria" (Bernstein/Soudheim), esta do musical "West Side Story", que no ano passado foi regravado com Plácido Domingo em grande destaque. Mesmo que os puristas do bel-canto se irritem, um fato é significativo: tenores como Plácido gravando o popular, só valorizam a música e mostram que é possível chegar a novas faixas de público. xxx A lembrança dos 2 anos da trágica morte de Marvin Gaye, aos 44 anos, em 1/4/1984 (assassinado por seu pai), está fazendo a CBS lançar gravações póstumas deste que foi um bom cantor. No ano passado, o álbum "Dream Of A Lifetime" havia trazido uma coletânea de músicas selecionadas com rigoroso critério - das quais "Sanctified Lady" salientou-se como um sucesso. Agora, "Romantically Yours" vem como apêndice do álbum anterior, trazendo 11 canções inéditas, gravadas em 1979. Algumas são gravações de sucessos mundiais como "More", "Maria", "Shadow of Your Smile" e "Fly Me To The Moon". Outras composições do próprio Marvin como "Just Like", "Walkin'In The Rain", "I Live For You" e "Stranger In My Life". Em todas, entretanto, as tônicas suaves e nostálgicas próprias do que sempre caracterizou o trabalho de Marvin. xxx O cantor potiguar Gilliard continua a ter um público fiel. Intérprete brega-romântico em seu novo lp (RGE, março/86), além de composições próprias incluiu também autores como Mário Marcos/Antônio Luís ("Como Posso Te Chamar de Amiga se Chamei de Amor"), e uma parceria como Nenéo intitulada "O Homem da Obra". Curiosamente, Gilliard foi garimpar um antigo sucesso do início dos anos 60: o belíssimo "Suave é a Noite" (Webster/Fain), tema central do último filme dirigido por Henry King, baseado no romance de F. Scott Fitzgerald - e que, em versão de Nazareno de Brito, chegou aos primeiros lugares nas paradas na romântica interpretação de Moacir Franco - que hoje é deputado (de pálida atuação na Câmara Federal, aliás). xxx Entre tantos lançamentos eruditos, de primeira categoria, da Polygram//Deutsche Grammophon, um destaque: Lorin Maazel, regendo a Filarmônica de Berlim, que reúne obras de três períodos distintos da carreira de Sergei Rachmaninoff (1873-1943): uma ópera de seus tempos de estudante (intermezzo de "Aleko", na célebre canção de sua maturidade ("Vocalise", opus 34, nº 14) e sua última composição orquestral ("Danças Sinfônicas", opus 45). Cobrem cerca de 50 anos, de 1892 a 1940, e estilísticamente, mostram-no evoluindo do eclético mundo sonoro dos primeiros tempos, com grande influência de Tchaikovski, através da fase de facilidade melódica e riqueza harmônica dos anos intermediários, para chegar à nitidez e ao sabor da música do período ulterior de sua vida. Um lançamento de primeira categoria. xxx Sambista bem-humorado, já com uma boa quilometragem artística, Joel Teixeira foi um dos contratados pela ARCA no ano passado. Ali fez um disco equilibrado, produzido por Pedrinho Medeiros/ Ugo Marota, que não teve, infelizmente, a repercussão merecida - talvez pela falta de maior trabalho promocional. Também um repertório de 12 sambas inéditos, quatro dos quais do próprio Joel: "Amante ou Namoradinha", "Só Pra Distrair", "Tome Cuidado" e "Volta Pro Meu Leito". Como está na moda homenagear gente da MPB, Joel abre o lado B com "De Vinícius a Caetano" (Vivaldo/Ivanildo/Raphael Treiger). xxx Há 12 anos, a Polygram criou uma série das mais interessantes: "Antologia". Reunindo os melhores nomes de seu elenco - MPB-4, Quarteto em Cy, Altamiro Carrilho etc. - foram produzidos álbuns com potpourris, por gêneros musicais, fascinantes. Enquanto o Quarteto em Cy fez dois belos lps de samba-canção, o MPB-4 gravou uma "Antologia" dos grandes do samba.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
2
11/05/1986

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