Login do usuário

Aramis

Pita, ex-filho de Elomar agora com deboche baiano

Como a cantora Rose, Xangai, os irmãos Dércio e Dorotothy Marques, Diana Pequeno e tantos outros artistas de sensibilidade para com coisas do Brasil, o baiano Carlos Pita teve em Elomar Figueira de Mello uma das mais fortes influências em sua carreira. Amigo e discípulo do grande Elomar, presença maior da MPB nos anos 70 com toda sua força criativa, Carlos Pita participou de algumas de suas produções independentes, gravou suas composições e absorveu todo aquele clima de brasilidade que o carismático Elomar, de sua fortaleza de nacionalismo em Vitória da Conquista, no agreste baiano, consegue transmitir numa obra única e inigualável - e sobre a qual não nos cansamos de enaltecer - em que pese o isolamento do artista e a dificuldade de conseguir seus discos (selo Rio Gavião, vendas apenas pelo correio). Carlos Pita, que também pouco sai da Bahia, não ficou, entretanto, apenas na ligação com Elomar - em que pese sua importância. Há 5 anos, no vigoroso elepê "Coração de Índio", trazia nada menos que três parcerias com um grande letrista baiano, Capinam ao lado de músicas de Capenga/Patinhas, Petrúcio Maia/Clodo e outros autores (lp "Coração de Índio", Continental, julho/81). Agora chegando ao seu quinto lp - e o primeiro pela RCA ("Feliz", junho/86), encontramos um Carlos Pita diferente em suas propostas musicais, explicando de princípio o título da música que escolheu para puxar este álbum significativo: - "Por feliz se traduz uma pessoa em harmonia com o que está ao seu redor; feliz é extrair de si o natural, é poder respirar sem pressa; feliz é cantar o que se quer cantar, feliz é atravessar de maio/68, até aqui, lúcido, louco de amor com idéias próprias". Definindo-o como "um disco panorâmico, baiano, pop, nordestino e universal", Pita explica suas propostas sonoras atuais: - "Faço música como quem pinta telas sobre a Bahia, mar e sertão, sobre o Brasil, sobre as pessoas e as coisas que estão no mundo". Assim "Feliz" traz um repertório diversificado, balançante - e, para que negar, bem mais comercial do que os trabalhos anteriores de Pita, que apesar de todo seu vigor e talento é ainda desconhecido fora da Bahia. Por exemplo, "Cometa Mambembe", parceria com Edmundo Caroso, foi a mais executada no Carnaval da Bahia nos dois últimos anos. É uma música que mistura frevo com quadrilhas juninas, une o carnaval de Olinda com o de Salvador - os dois maiores carnavais de rua do Brasil. Outra faixa de alta voltagem popular na Bahia: "Deboche", de Paulinho Camafeu, a primeira feita dentro da concepção de um novo ritmo que nasceu na Bahia e que tem em Luís Caldas (seu primeiro elepê ultrapassou as 100 mil cópias, distribuição nacional da Fonobrás) o seu nome maior. Paulinho Camafeu compõe a partir da pulsação inovadora que baila pelas ruas de Salvador ("Tá na muzenza, bloco afro-baiano- Tá no pelourinho"). Basicamente um disco alegre, e, como diz o título, Feliz. "Flechas de Luz" (que abre o lado é um frevo misturando quadrilhas juninas; "Dia de Paz", um reggae-samba político contra o Apartheid enquanto "Trança Fina", outro reggae - este de Carlinhos Brown. Bem mais identificadas ao espírito da Bahia, "Flor nos Cabelos" e "Presente das Águas", enquanto "Fogo", com letra de Salgado Maranhão, "é uma bossa pra nunca esquecer Caymmi, e o bim bom bem bom de João Gilberto", nesta faixa, participação de Jussara Silveria, uma revelação do novo canto baiano. Os arranjos do disco são de Luizinho Assis, tecladista da Banda Azul da Estrela que acompanha Pita em todas as faixas.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
4
09/11/1986

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br