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Aramis

"Personalidades" muito bem escolhidas da MPB

O advento da Era do CD estimulou as gravadoras a produzirem discos com os nomes de potencialidades de vendas que passaram por suas etiquetas. Afinal, os direitos sobre os fonogramas pertencem às gravadoras, público existe - tanto aquela faixa exigente que, pouco a pouco, vai substituindo os discos em vinil por CDs (como, a partir de 1952, substituiu os pesados e frágeis 78rpm por elepês), como, no caso dos mais jovens, que dispõe de montagens reciclantes, com excelente tratamento de remixagem, de gravações históricas. A Polygram, que entre os anos 60/70, no período que André Midani foi seu diretor artístico reuniu um dos melhores elencos nacionais, está deitando e rolando, pois a custo reduzidíssimo está montando várias coleções. Uma delas é a "Personalidades", já com quatro séries de CDs, estão tendo também edições em fita-cromo e mesmo discos convencionais, pois afinal nem todos podem se dar ao luxo de substituir suas discotecas de vinil pelo laser - embora o custo por unidade já comece a aproximar-se do disco convencional. Nos Estados Unidos, muitos países europeus e no Japão os elepês em vinil já tiveram suas produções suspensas, mas entre nós, até a metade da década, prevêem os mais otimistas, ainda existirão no mercado. O novo pacote de "Personalidades", cuja potencialidade de exportação já é traduzida no subtítulo "The Best of Brazil" e nas didáticas notas de contracapa da jornalista Diana Aragão traduzidas e adaptadas para o inglês por Gerard Selligman, estão em volumes dedicados a nomes representativos de várias fases: João Gilberto e Baden Powell do núcleo original Bossa Nova: Edu Lobo da época marcante dos festivais e anos 60; a música de João Bosco no período em que compunha basicamente com Aldir Blanc; a belíssima voz de Emílio Santiago - sem dúvida o nosso melhor cantor e, finalmente, o rock inventivo de Raul Seixas (Salvador, 28/06/1945 - São Paulo, 21/08/1989). As 12 faixas gravadas por João Gilberto em álbuns lançados pela Polygram de certa forma complementam a reedição dos três discos básicos da EMI-Odeon, que serão registrados mais demoradamente em próxima edição. De Baden Powell, o coordenador da coleção, Roberto Menescal, escolheu entre os muitos lps que o maior de nossos violonistas fez na Polygram, seis composições próprias - "Deixe", "Tempo Feliz", "Apelo" e "Consolação", em parcerias com Vinícius de Moraes; "É de Lei" em parceria com Paulo Pinheiros; "Samba Triste", com seu compadre Billy Blanco, mais "Viagem" (de seu primo João D'Aquino/Paulo Cesar Pinheiro), "Das Rosas" (Caymmy). "Garota de Ipanema" (Tom/Vinícius) e dois clássicos: "Chão de Estrelas" (Silvio Caldas/Orestes Barbosa) e "Carinhoso", (Pixinguinha/João de Barro). As 14 faixas de Edu, do período de 1967/80, mostram seus anos de maior fertilidade, quando trabalhou com Oduvaldo Viana Filho ("Chegança"), Ruy Guerra ("Reza"), Torquato Neto ("Pra Dizer Adeus"), Gian Francesco Guarnieri ("Memórias de Maria Saré"), Cacaso ("Lero-Lero", "Quase Sempre") e, especialmente, Vinícius. Em três momentos - "Borandã", "Reza" e "Arrastão", do lp feito em 1967, com o Tamba Trio e oportunidade de se ouvir, novamente, aquele grupo no auge de sua carreira. Para quem anda estranhando o João Bosco de seus últimos álbuns - lançados pela CBS - o volume "Personalidades" devolve o violonista-cantor-compositor de sua fase 1982/86, com músicas que o Brasil todo aplaudiu como "Kid Cavaquinho", "Jeitinho Brasileiro", "A Nível de...", "Preta-Porter de Tafetá", "O Bêbado e o Equilibrista", "Papel Marché", "Riacho da Goiabada", embora quebra-língua sonoros - como "Linha de Passe", "Samba em Berlim com Saliva e Cobra", e "Viena fica na 28 de Setembro" também estejam presentes. Emílio Santiago, ex-crooner de orquestras e grupos de Ed Lincoln, Anselmo Mazzoni e maestro Formiga, há 15 anos tem registrado belíssimas músicas em sua belíssima voz - 14 das quais, que vão de kits de Roberto-Erasmo Carlos e Cartola e Vinícius-Toquinho - estão neste disco suave e agradabilíssimo. Por último, Raul Seixas, roqueiro incrível e que estava um passo adiante de sua época, é rememorado em 14 de suas composições, incluindo "Ouro de Tolo", que no escuro ano de 1973 foi a grande música de protesto - num período em que a arte brasileira, especialmente música, esteve mais amordaçada do que nunca.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
6
16/09/1990

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