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Aramis

Pequena sugestão ao prefeito Lerner

O prefeito Jaime Lerner é um homem preocupado com grandes metas, projetos ambiciosos, idéias novas, criatividade, inovações, capazes de dar a Curitiba um destaque nacional. Tudo muito bom e bonito - e que deixa a todos nós, curitibanos de nascimento ou adoção, orgulhosos e, cada vez mais, integrados ao seu espírito - embora, naturalmente, nem sempre toda a sua equipe seja das mais coesas - muito pelo contrário. Mas há pequenas providências, detalhes que, obviamente, podem parecer insignificantes, a administradores tão ocupados como ele, que, entretanto, teriam também grande significado se merecessem, de quando em vez, alguma atenção. Mesmo que não o faça usar o seu tempo - precioso e disputado, tão exíguo, é para atender as pequenas sugestões e reclamações, seria simpático que, mesmo sendo um prefeito nomeado, ouvisse e, na medida do possível, procurasse atender as sugestões que não partem de seus iluminados assessores - muitos dos quais julgam-se donos da verdade. O comentário justifica-se frente a uma carta que recebemos de um leitor, que, por razões particulares, prefere manter-se no anonimato, já que cansou de tentar sensibilizar não só ao prefeito Jaime Lerner mas aos demais homens que passaram pela chefia do Poder Executivo Municipal nestes últimos 20 anos - sem que, uma única vez, tenha merecido qualquer atenção. Uma simples pergunta: o prefeito Jaime Lerner ou alguém de sua equipe direta já tentou, em qualquer noite - de chuva ou não - encontrar determinado número ou mesmo alguma rua menos conhecida desta cidade ? Se não tentou, faça a experiência. Mas faça com muita paciência, bom humor (o que aliás não falta a Lerner, sempre sabendo apreciar uma frase de efeito ou uma "gag" de Woody Allen, de quem é um dos mais entusiásticos - e com toda razão - apreciadores). Simplesmente é de endoidar qualquer contribuinte (ou não) procurar achar uma rua que não se conheça e localizar um número. De princípio, raras são as vias públicas bem iluminadas - e nisto pode-se até elogiar-se a intenção fosse economizar energia elétrica, mas não parece, pois caso contrário a cidade não teria sido transformada numa "penteadeira" de boulevard, como aconteceu - com a desculpa de "decoração natalina" - neste final de ano, com milhões de lâmpadas acesas em vários cantos da cidade. Mas, excluindo-se o aspecto da falta de iluminação nas ruas - problema que pode ser desculpado com alguns "releases" - tente-se encontrar as placas com os nomes. São raras, minúsculas, escondidas em pontos distantes das ruas, que mesmo à luz do dia e para quem dispõe de olhar de Clarck Kent (o Superman), são difíceis de ser lidas. Mas o pior vem depois: a disparidade da numeração. Não se consegue entender quais os critérios do Departamento de Urbanismo em fixar os números das casas, tal a alternância dos números. Há certas ruas em que a numeração parece um jogo surrealista: começa numa quadra com certos algarismo e, de repente, sem qualquer razão lógica, dá "pulos" imensos - confundindo qualquer cidadão que busque o número pretendido com lógica. Resultado: não são poucas as pessoas que, necessitando encontrar endereço novo, principalmente nos bairros, acaba gastando até duas horas até localiza-lo. Isto se tiver a sorte de achar pessoas de boa vontade, vizinhos atenciosos e caso não seja uma noite de chuva. Para uma cidade administrada com padrões urbanísticos modernos, onde o designer, a programação visual, as cores e até a forma das placas indicativas merecem propostas e projetos, não custaria muito que o simpático prefeito Lerner, num "intermezzo" entre uma audiência técnica e uma nova reunião, convocasse a engenheira Dúlcia Auríquio, eficiente (embora rigorosa) diretora de urbanismo e, ouvindo alguns técnicos em comunicação visual, pensasse numa maneira clara, objetiva de dar às ruas da cidade uma nomenclatura facilmente legível, principalmente à noite e, especialmente, que a numeração das casas e prédio, tivesse lógica, [seqüência] e fosse também fixada de forma regular. Afinal, não faltam instrumentos legais - decretos, leis, etc. - para auxiliar a Prefeitura no sentido de fazer com que os proprietários se ajustem às normas de urbanismo. Também deve sobrar alguns recursos para que sejam confeccionadas placas resistentes, fortes (nada de acrílico, plástico ou outras sofisticações frágeis e que só servem para atrair vândalos) mas que sirvam ao básico: proporcionar a quem necessita encontrar uma rua, um roteiro objetivo. Se, dentro das possibilidades, em diversos pontos da cidade, em locais com alguma proteção, pudesse existir mapas regionais, seria algo a mais - capaz, inclusive de render um noticiário extra, mais um pouco de popularidade fora dos limites municipais. A bagunça da nomenclatura de ruas e números, a ausência de placas, não é culpa, em absoluto, da atual administração. Mas será creditada - e com juros - à mesma, se, sugestões como esta não merecerem a mínima atenção, caindo no limbo do esquecimento. Afinal, de pequenos atos, de atenção aos contribuintes que mantém a cidade, é que se faz (também) uma bela administração. E Curitiba, esta de tantas inovações, pode também - bastando que Lerner, com seu espírito de criatividade e liderança, lembre-se de acatar sugestões simples, como esta que, em nome de muitos habitantes, aqui reiteramos novamente.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
6
09/01/1980

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