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Aramis

Pelas cartas conheça melhor Mário Andrade

A correspondência de Mário de Andrade (1893-1945) constituiu, ao lado de sua marcante obra, um manancial de informações. Numa época em que se cultuava o hábito da correspondência - hoje raramente mantido sob a alegação do corre-corre da vida moderna e a substituição por outros meios de comunicação instantânea (telefone, telex, agora o videotexto) - o autor de "Macunaíma" era um homem organizado, que jamais deixava de responder uma carta. Graças a isto, hoje sua copiosa produção epistolar pode ser estudada, oferecendo novos ângulos para entendimento de seu pensamento - e de seus correspondentes. Há algum tempo a José Olympio Editora lançou o belo volume "Cartas de Mário Andrade a Álvaro Lins" (130 páginas, capa com desenho de Lasar Segall em montagem de Jair Pinto), reunindo pela primeira vez integralmente o diálogo entre dois importantíssimos críticos literários. São 17 cartas de uma amizade que começou em 1943, dois anos antes da morte de Mário. No decorrer do texto discutem-se pontos fundamentais para melhor compreensão do fazer artístico: teoria poética, função da crítica e do crítico, engajamento da arte e outros temas cada vez mais vivos e pertinentes para o atual momento histórico. xxx Um delicioso e macetoso livro sobre literatura, de fácil digestão, e com boas idéias: "A Literatura Brasileira no Século XX" de José Hildebrando Canal (série Revisão nº13, Editora Mercado Aberto, 96 páginas, Cr$ 4.000,00). com o subtítulo de "Notas para uma leitura proveitosa" este livro foi escrito num estilo sarcástico e demolidor. Pode não agradar aos muitos que vêem na literatura algo completamente desligado da realidade histórica e social. Contudo, certamente repercutirá de forma favorável entre os que têm inteligência suficiente para enxergar a literatura como aquilo que ela, por evidência elementar, é: produto de um tempo histórico e de um momento social determinados. xxx A mesma Mercado Aberto, uma das mais atuantes editoras gaúchas, lançou a 3ª edição de "Os Caminhantes de Santa Luzia", novela de Ricardo Ramos (série Novelas, nº18, 96 páginas, Cr$ 5.500,00), é um relançamento oportuno que enriquece a coleção "Novelas", já com mais de 100 mil exemplares vendidos de seus 12 outros títulos. Bom narrador, Ricardo Ramos - filho do grande Graciliano Ramos - constrói uma obra em que o misticismo, a violência e a política se misturam no palco do sertão cumprindo o que julga ser seu destino: pregar a palavra de Deus. Contudo, os interesses políticos dos caciques de uma pequena cidade se atravessam em seu caminho e a tragédia se desencadeia. xxx Para quem aprecia livros de suspense, bem bolados, a Record lançou há algum tempo um dos mais agradáveis: "Contrato de Risco" (The Transfer), de Thomas Palmer, em tradução de Pinheiro de Lemos. Uma história que se desenvolve no cenário explosivo do tráfico de tóxicos em Miami, foi saudado com entusiasmo por Mário Puzo ("O Poderoso Chefão") que afiançou: "Palmer é muito, muito, muito bom. A tensão presente em cada página deste romance e os personagens que por eles desfilam são fenomenais". Palmer, formado em 1977 pela Universidade de Wesleyan, foi motorista de táxi em Miami durante um ano, experiência que lhe valeu muito ao escrever este seu livro de estréia. xxx As coleções de cuca, em formato de bolso (Cr$ 3.900,00 o exemplar) da Brasiliense continuam a vender como pão quente. Afinal são textos objetivos e atraentes (não é sem razão que o slogan do projeto é "o saber com sabor") agrupados em diferentes áreas. Na coleção Primeiros Passos há algum tempo saiu "O que é Filatelia" de Raymundo Galvão de Queiroz - mas na diversificação de temas - o volume 138 já foi "O que é Brinquedo", de Paulo de Salles Oliveira - no qual o autor analisa o brinquedo infantil - práticas e interpretações sociais, fazendo uma incursão crítica aos problemas econômicos, culturais e sociais vividos no Brasil. O volume 139 - "O que é herói?" de Martin Cezar Feijó coloca a questão do herói, presente na cultura desde tempos imemoriais: no mito, na história, na literatura, na antropologia, na psicologia, nos quadrinhos e até no rock. Já o mais recente título da coleção, é o de Lúcia Bruno - "O que é Autonomia Operária". A coleção "Qualé", em seu sétimo volume, trouxe um assunto da maior atualidade: "A questão do Bóia-Fria" de Maria Conceição D'Incao. Uma análise jornalística da mobilização dos bóias-frias, ocorrida em São Paulo, a partir de maio do ano passado e inaugurando uma nova etapa de sua história - com reflexos em outros Estados. Na série "Tudo é História", no volume 95, José Luís Bendicho Beired analisa o "Movimento Operário Argentino: das Origens do Peronismo" (1890-1946). E a coleção "Encanto Radical" traz agora, em seu volume 63, uma singular autobiografia de Karl Marx ("O Apanhador de Sinais") por Horácio Gonzales.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Leitura
20
03/02/1985

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