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Aramis

Paula, a revelação

Uma agradabilíssima surpresa no final do ano foi o aparecimento do lp de Paula ("Luzes do Morro", Sigla), com um repertório equilibrado, bonita voz e muito ritmo. Filha de pais mineiros, mas fluminense deVolta Redonda, Paula criou-se no bairro de Madureira e sua aproximação com o samba dos bambas seria inevitável. A apresentação ao competente produtor Rildo Hora lhe valeu a chance de fazer uma fita-demonstração, com música de ótimos autores, que se transformaria num lp excelentemente bem acabado. Além da boa voz, Paula toca um violão em dó maior e usa muito bem a sua capacidade de cantar em duas oitavas, o que, como diz Rildo, é muito raro. O disco de Paula é valorizado especialmente pela ótima seleção, com sambas de primeira qualidade, como "Luzes do Morro" (Elton Medeiros/ Antonio Valente), "Fogo no Tacho" (Ney Lopes), o irônico "Samba do Trabalhador" (Darcy de Mangueira) e dona Yvone Lara, em parceria com Rildo, em "Coração Apaixonado". Entusiasmado com a honestidade de Paula em se integrar ao samba, o veterano Aniceto do Império Serrano participa da gravação de seu "A Vida Roceira". O lado romântico de Paula também está presente em faixas como "Coração" (Joana/ Tony Bahia), "Se Deus Quiser" (Ruy Quaresma) e "Boa Noite, Cidade Maravilhosa" (Walter Rosa), por sinal, um samba-de-quadra que de certa maneira inspirou a concepção do disco, que deve muito de seu bom repertório à presença de Picolino da Portela, amigo da cantora e autor de duas das boas músicas do lado B: "Amor Oculto" e "Pião na Cunha". Enquanto surge uma cantora de garra, vigor e energia como Paula, a veterana Elza Soares (Rio de Janeiro, 23/6/1937) tenta um reerguimento de sua tumultuada carreira. Nos últimos meses, Caetano Veloso, generosamente, tem procurado revalorizar Elza - que, ao surgir na MPB, em 1960, com uma regravação de "Se Acaso Você Chegasse" (Lupicinio Rodrigues/ Felisberto Martins), no estilo scatt, mostrando sua voz originalíssima, escalou rapidamente as paradas de sucesso. Apesar de uma fase de sucessos, dezenas de LPs, a carreira de Elza se perdeu por falta de segurança e, especialmente, mediocridade na produção de seus discos. Portanto, a tarefa que Max Pierre, o big-shot da Sigla passou aos produtores Pedrinho da Luz e Glaucus Xavier, não foi fácil: dar a Elza a chance de fazer um lp que possa fazê-la retornar ao cenário musical. Infelizmente, desde a imagem visual que procura uma sensualidade falsificada com os cabelos pintados - até um repertório que chega a incluir uma versão de Augusto de Campos para o clássico "Sophisticated Lady" (Duke Ellington) - não nos parecem os melhores caminhos para este retorno. Claro que a produção deve ter calculado os aspectos mercadológicos, ao fazer uma cantora que se identificou em seus melhores anos ao mais legítimo samba, gravar bobagens como "Milatres" (Cazuza-Frejat).
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
26
02/02/1986

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