Pastores perdidos
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 27 de agosto de 1977
Jorge Amado, com toda sua áurea de maior romancista brasileiro vivo, é naturalmente, sempre uma tentação aos cineastas, na adaptação de suas estórias tão baianas - e ao mesmo tempo com tipos universais. Muito antes da família Barreto ter feito fortuna com "Dona Flor e Seus Dois Maridos", os livros de Amado, como "Mar Morto", e "Terras do Sem Fim" já inspiraram produções bem intencionadas. Em 1961, foi o falecido Alberto D'Aversa que levou a tela "Seara Vermelha", "Gabriela", desde que foi publicada, vem tentando produtores internacionais e agora anuncia-se que a badalada Lina Wertmuller, hoje a mais política cineasta italiana, está disposta a filmá-la em 1978.
No Festival Jorge Amado que assola o País e o mundo - seu novo livro, apesar de custar Cr$ 150,00 vendendo como pão quente. "Tenda dos Milagres" - na adaptação de Nelson Pereira dos Santos, premiada em Brasília, a telenovela "Gabriela" lançada em Portugal, "Dona Flor" exibindo em Paris, chega "Os Pastores da Noite" ou "Otália da Bahia". E de todas as produções inspiradas na obra de Amado, esta fita da Orphé Arts, distribuída pela CIC, é mais lamentável. Marcel Camus, 19 anos depois de "Orfeu Negro", fica apenas no exotismo barato, com uma narrativa de nível colegial, desperdiçando atores experientes (Antonio Pitanga, Jofre Soares, Emanuel Cavalcanti), nada conseguindo dos estreantes (inclusive a bela Mira Fonseca), num resultado dos mais tristes. O percussionista Djalma Correa, como "Zico Cravo na Lapela", é uma das poucas presenças solta neste filme que vale apenas pela boa trilha sonora, com músicas de Antonio Carlos & Jocafi e Walter Queiroz (especialmente Maria Creusa cantando "Otalia da Bahia"). Mas é muito melhor comprar o lp (RCA Victor, Cr$ 98,00), do que suportar os 110 minutos deste filme. Totalmente dispensável numa programação de quem sabe selecionar os filmes que assiste.
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