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Paraná, fora da festa cultural de Brasília

Apesar de tudo que se gasta e se fala em nome da cultura no Paraná, a presença nacional de nossos valores ainda é reduzida - o que dá razão a que se chore a morte prematura do poeta Paulo Leminski. Mais uma prova do desprestígio regional em termos mais amplos é a ausência, ao menos até agora, de representantes de qualquer área no II Festival Latino-Americano de Arte e Cultura (Brasília, 3 a 14 de agosto) que, mais do que uma festa, será "valiosa oportunidade de intercambiar informações entre os representantes dos 24 países participantes, num total de 2 mil nomes entre artistas em geral, críticos, escritores, pensadores, cineastas, educadores, produtores, embaixadores, adidos culturais e ministros da cultura latinos e caribenhos que pela primeira vez estarão reunidos num fórum para discutir questões culturais". A primeira edição do Festival aconteceu há dois anos, quando o hoje ministro da Cultura, José Aparecido de Oliveira, era governador do Distrito Federal. O segundo encontro deverá mobilizar, como consta do editorial do "Jornal do Flaac" (órgão oficial do evento), mais de 40 mil jovens "de todas as idades" que terão acesso ao Passaporte Cultural, fórmula encontrada para facilitar a ida de estudantes com direito a passagens por via terrestre, transporte interno, ajuda de custo para alimentação, inscrição nas oficinas, ingressos para espetáculos e hospedagem no camping da Universidade de Brasília - co-promotora do evento com a Secretaria da Cultura do governo do DF, e que tem como coordenadora geral a professora Laís Aderne, mineira de Diamantina, 51 anos. xxx Naturalmente, o Brasil como país anfitrião, terá uma presença artística mais numerosa. Só que até agora - ao menos em termos oficiais, conforme as relações mais divulgadas - não há uma única participação do Paraná nas áreas de arte-educação, música, teatro e dança, literatura, cinema, vídeo, artesanato, artes plásticas e fotografia (basta conferir os nomes relacionados na página 8 do "Jornal do Flaac", número um, junho/89). No item dança, aparece o nome de Eva Schuki - que poderia ser a grafia (errada) da gaúcha Eva Schul, há alguns anos radicada em Curitiba, coreógrafa e professora no curso de dança da Fundação Teatro Guaíra - e que tem méritos para participar de um evento desta natureza. Entretanto, não encontramos nos últimos dias a simpática Eva para saber se foi (ou não) convidada para o evento. xxx Na área de música, entre os 30 primeiros nomes confirmados, há compositores, intérpretes e, especialmente, defensores dos direitos da classe, do maior prestígio como Sérgio Ricardo, Maurício Tapajós, Chico Buarque, Hermínio Bello de Carvalho, Antônio Adolfo, João Nogueira e o pesquisador, jornalista, letrista e político Sérgio Cabral. Só a participação de pessoas deste nível, nos eventos relacionados a música - que terá na parte internacional desde Nacha Guevara, Mercedes Sosa e Charly Garcia pela Argentina, até o pianista Cláudio Arrau, representando seu país, o Chile - mostra a dimensão continental pretendida pelos organizadores. xxx Em cinema e vídeo, entre outros nomes, estão os de Jorge Duran (chileno, mas há anos radicado no Rio de Janeiro), Walter George Durst, Cosme Alves Neto, Nelson Pereira dos Santos, Carlos Augusto Kalil, Walter Avancini, Ney Sroulevich, Fernando Barbosa Lima e Washington Novaes. Nas artes plásticas, a participação será extensa - mas apesar de todo o destaque (sic) que dizem existir na área, no Paraná, nenhum de nossos artistas foi (ao menos até agora) agendado. Desconhecemos os critérios que valeram nas indicações - se a iniciativa partiu da coordenação geral do evento, com base em exames de curriculuns e em torno da seriedade das obras - ou se funcionaram as tradicionais "panelinhas". De qualquer forma, é necessário que se revelem os fatos, para que não haja a irreal ilusão de que o Paraná é uma ilha iluminada de criatividade artística, quando, infelizmente, na verdade, o buraco é bem mais embaixo - em que pesem viagens, gastos de milhões de cruzados e autopromoção de meia dúzia de donos eventuais do poder cultural em suas delirantes "ego trips" em nome de nossa cultura. Tem razão, o sarcástico Marquês de Sade - o marchand Jorge Carlos Sade - quando faz os seus protestos...
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
01/07/1989

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