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Aramis

Para onde foram tantas belas vozes femininas?

Embora afastado da batalha noturna e constante da vida musical, mas ainda em forma, Paulinho Nogueira, cujos 60 anos transcorridos no último dia 8 de outrubro não tiveram as comemorações que merecia, é uma das presenças mais constantes na série reeditada pela RGE. Realmente, este esplêndido compositor e virtuose do violão foi uma presença das mais importantes na MPB nos anos 60 e com seu toque moderno, seu lirismo e atuação amiga, mestre de uma geração - inclusive Toquinho. Vozes bonitas que já se foram - como Agostinho dos Santos (1932-1973), com um de seus maiores sucessos ("Estrada do Sol", Dolores Duram/Tom) Maysa (1936-1977), em "Nós e o Mar" (do seu lp bossanovista "Barquinho"), Elza Laranjeiras (1925-1986), com "Eu sei que vou te amar" e Nara Leão (1942-1989), com "Maria Moita", se contrapõe a cantoras(es) que, embora vivos, praticamente desapareceram do cenário musical. É o caso de Yvette, presente em várias faixas ("Preciso aprender a ser só", "Desencanto" - uma das primeiras composições de Chico Buarque: "Dorme"), hoje anonimamente gravando jingles no Nosso Estúdio. Ana Lúcia, catarinense de São Francisco, presente no dueto com Vandré ("Samba em Prelúdio") seu maior sucesso, é outra desaparecida do meio musical. Wanda Sá, ex-sra. Edu Lobo, cantora bossanovista naquela época, embora atuando na noite carioca, também não tem sido lembrada como merece - e cuja importância pode ser aquilatada nas intervenções feitas em gravações ao vivo como "Desafinado" e "Inútil Paisagem". Cesar Roldão Vieira, compositor-intérprete e criador de voltagem que acabou afastando-se da competição musical. Momento de emoção é a oportunidade de se ouvir o único elepê gravado pelo pianista Tenorio Júnior (Francisco Tenorio Cerqueira Júnior), vítima da violência militar argentina: quando tinha 32 anos de idade, e acompanhava Vinícius de Morais e Toquinho numa temporada em Buenos Aires, foi preso, torturado e morreu num cárcere militar - sem que as autoridades brasileiras nada fizessem. "Embalo", com cinco composições próprias mais do que apenas um disco que mostrava a sensibilidade e talento de um tecladista, numa gravação da qual participaram músicos como o baterista Milton Banana, baixista Sérgio Barroso, saxofonistas Paulo Moura, Meireles e Hector Costista e o trombonista Raulzinho (de tantas ligações curitibanas) vale como um autêntico documento. Aparentemente a inclusão do lp com a trilha musical da peça "Arena conta Zumbi", de Augusto Boal e Gianfrancesco Guarnieri, com as canções de Edu Lobo, direção musical de Carlos Castilho - e que estreando [ ] Teatro de Arena de São Paulo em 1º de maio de 1965, foi um dos marcos do teatro brasileiro dos anos 60 (e que até hoje continua a ter remontagens) poderia fugir do contexto da Bossa Nova em seu sentido mais direcionado. Entretanto a beleza das músicas lançadas neste espetáculo - inlcusive o "Upa Neguinho", que seria um dos maiores êxitos de Elis Regina (1945-1982) torna ainda mais fundamental este complemento a uma série que pela qualidade de seus registros fica merecedora da distinção de melhor reedição de 1989.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
25
10/12/1989

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