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Aramis

Os tempos do Pavilhão Carlos Gomes

A morte do velho José Queirolo, cantor de óperas em sua juventude, no início do século, não tirou o ânimo artístico da família. A máter Petrona ensinou aos filhos as atividades circenses. Criou-se o grupo dos irmãos Queirolo que se apresentavam nas ruas, ainda pequenos, com números de acrobacia. Um contrato com o circo Albert Schulmann os levou pelo mundo: Estados Unidos (apresentação no Hipódromus Circus, em Nova Iorque), Europa (onde ganharam troféus, comendas e medalhas, como a que receberam do Kaiser alemão Guilherme II a 27 de janeiro de 1912). No Brasil, participaram da inauguração do Teatro Amazonas, em Manaus. Em 14 de julho de 1917, na praça Saens Pena, no Rio de Janeiro, nascia o circo com o nome dos Irmãos Queirolo. Adquirindo por 15 contos de réis - "uma fortuna para a época" - lembra Lafayete - as instalações do antigo circo Pinelli, a família partia para a grande aventura que os manteria unidos nas seis décadas seguintes. Incêndios, tempestades, inundações, épocas de vacas magras - para outras de gordas bilheterias, foram enfrentadas pela família de artistas - a qual somaram-se artistas vindos de outras partes, "mas que tanto se identificaram que é como se fossem do mesmo sangue", diz, com orgulho, Lafayete, lembrando artistas que ao longo dos anos dividiram alegrias e emoções nos picadeiros. Em 1919 - dois anos após o circo ter sido criado, vinha pela primeira vez a Curitiba, instalando-se na praça Santos Andrade, então um campo deserto, quebrado apenas pelas obras da Universidade. Em 1924, retornariam e desta vez o circo era armado na Rua Barão do Rio Branco, esquina com a André de Barros - onde uma enchente quase destruiu todo o guarda-roupa da companhia. Meses depois, em 5 de outubro de 1942, inauguravam o Pavilhão Carlos Gomes, construído pelo empresário H. Bianchi e que localizado na praça Carlos Gomes - na esquina das ruas Marechal Floriano e - ali existiria até que a firma Gutierrez, Paula & Munhoz, adquiriu o terreno para construir um dos primeiros edifícios luxuosos de apartamentos - o Victor do Amaral. No Pavilhão Carlos Gomes - cuja importância dentro do lazer do curitibano nos anos 40/50 ainda está a espera de uma pesquisa de fôlego - os irmãos Queirolo mostrariam toda sua criatividade, com espetáculos ágeis, que de malabarismo e acrobacia a grandes encenações dramáticas - passando por touradas que revelavam valentões da época, como o lendário Carlinhos Pereira (1922-1967), que se tornaria genro de Chic-Chic - o circo teve toda uma presença dentro da cidade, que nunca é demais lembrar. De dramalhões dos grupos mambembes dos pavilhões que se multiplicavam pelo país a corajosas "adaptações", que o saudoso Tio Lore (Lourival França Pereira, 1923-1979) fazia de superproduções que lotavam os cinemas da cidade ("O Sinal da Cruz", "Quo Vadis", "Ben Hur" e até "Helena de Tróia", nesta usando o cavalo de madeira que a Warner havia patrocinado para o lançamento do filme no Cine Palácio, onde permaneceu meses em exposição). No Pavilhão Carlos Gomes - depois passando para o circo, nos bairros de Curitiba, os irmãos Queirolo não saíram mais do Paraná. A razão pela qual, aliás, a família deixou o Pavilhão Carlos Gomes, foi prosaica, conta Lafayete: - "O Bianchi era um homem pão-duro, que só permitia acender as luzes dianteiras do pavilhão na hora do espetáculo. Chic-Chic, com sua visão artística, entendia que as luzes deviam estar acesas assim que escurecesse. Um dia, houve um curto circuito na discussão dos dois e saímos do pavilhão". Nos bairros de Curitiba - ou em cidades vizinhas, o circo com seu mundo encantando divertiu gerações. Difícil encontrar um curitibano com mais de 30 anos que não tenha vivido momentos de imensa alegria nas sessões com o velho Chic-Chic, sua cadela de pano, a Violeta - cuja expressão, "Violeta, pula!" - entrou no linguajar curitibano e que, um dia, mereceu do poeta Heitor Stockler de França, vizinho aliás do Pavilhão Carlos Gomes, um poema - tão emocionado falando de Chic-Chic, quanto Drummond fez o seu clássico dedicado a Chaplin, o homem do povo. Consideradas as devidas proporções, Chic-Chic foi o Chaplin curitibano. LEGENDA FOTO 1 - Chic-Chic, um símbolo de Curitiba: o nosso Chaplin, por que não? LEGENDA FOTO 2 - Tudo começou com eles: José Queirolo (1849-1900) e Petrona Sallas (1852-1939).
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
27/01/1991

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