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Aramis

Os novos tempos das galerias de Curitiba

Um dos sintomas da mudança no comportamento do curitibano - e reflexo do crescimento da cidade - é a escalada do mercado de artes plásticas. Em que pese o fato de 90% das chamadas "galerias" não passarem de lojas (ou sublojas) que vendem (também) quadros, o fato é que o mercado porsperou e da pioneira Cocaco, inaugurada há 30 anos passados por Enio Marques Ferreira, Manoel Furtado e Loio Persion na rua Ébano Pereira - as mais de 50 ditas galerias que hoje disputam a clientela da cidade, muita água rolou. Mais positivo do que negativo esta inflação de galerias, em que pese as justas críticas que se pode (e deve) fazer aos "critérios" com que a maioria delas programam exposições, promovendo mostras de "artistas" de discutível nível artístico e confundindo e inflacionando os consunidores nem sempre bem informados. xxx Salutar, entretanto, que gente competente dispute o espaço, numa concorrência positiva. Há 15 anos, o pintor e marchand-de-tablaux Jorge Carlos Sade implantou na praça da Ordem aquela que foi, realmente, o marco de profissionalismo da área - a Acaiaca, hoje nome consolidado e respeitado. Nesta década e meia, outras galerias apareceram - algumas bem intencionadas, outras nem tanto, embora o boom tenha ocorrido, mesmo nos últimos 3 anos. O que mais irrita os empresários que se instalam no setor - enfrentando toda ordem de despesas - é a concorrência das entidades oficiais, que sem despesas (afinal não pagam aluguel, impostos, telefone, energia, propaganda etc.), passam a exercerem uma concorrência com que tem despesas como qualquer empresa comercial. Estes, sim, são vistos com ressalvas. Não foi sem razão que quando a Banestado Crédito Imobiliário reservou uma das melhores áreas de seu casarão na rua Marechal Deodoro, Sade - sempre corajoso e briguento pelos seus direitos - saiu em campo. E o nível dos trabalhos que tem sido expostos na galeria do Banestado também é questionável, pois artistas inexpressivos ali tem merecido uma "estranha" acolhida, ocorrendo até influências peemedebistas para serem "programados e promovidos" (aliás, o mesmo escândalo também ocorre na Sala Miguel Bakum, Salão Bandeirantes e outros espaços da infeliz Secretaria da Cultura e Esportes). xxx Felizmente, há gente séria na área. E em agosto, Curitiba ganhará uma nova galeria - está nascendo sobre o signo do profissionalismo e da competência: Contemporânea - Galeria de Arte. Fruto da associação de um dos mais respeitados, admirados e estimulados artistas plásticos da chamada geração dos anos 60, Fernando Velloso, 50 anos, e do colecionador e industrial Hans Cohn, 75 anos, a Contemporânea está sendo instalada na rua Gonçalves Dias, 164. Um ótimo ponto no Batel, que anteriormente sediou a boutique de Guilherme Guimarães, vem sendo reformada para se ajustar como uma perfeita galeria de arte. Know-how não falta a Velloso, que durante quase 30 anos foi um dos mais competentes executivos da área cultural do Paraná, tanto no Departamento de Cultura como, posteriormente, na direção do Museu de Arte Contemporânea (por ele idealizado e implantado) e na Coordenadoria do Patrimônio Cultural do Paraná, na administração de Luís Roberto Soares, quando a Secretaria da Cultura do Paraná era uma pasta atuante e não apenas um instrumento de ódios e divisões entre a inteligência curitibana. Membro da Associação Brasileira de Críticos de Arte, dono de um curriculum igualado por poucos artistas, com trabalhos nas mais importantes coleções do mundo e, agora as vésperas de se aposentar do Estado. Podendo dedicar-se apenas a pintura, Fernando foi convidado pelo seu amigo Hans Cohn, dono de uma das grandes coleções do Paraná, empresário bem sucedido, para juntos fazerem uma grande galeria. xxx Com uma coletiva que reunirá trabalhos de artistas criteriosamente selecionados, não só do Paraná mas também de outros Estados, a Contemporânea chega para valorizar o mercado. A credencial de Velloso e o respaldo de Cohn, fazem deste novo espaço não uma concorrência a mais ao setor - mas uma certeza de que, pouco a pouco, um mercado desorganizado e ainda mal estruturado, começa a ter gente do ramo. Todos ganharão com isto: artistas, colecionadores e a cidade.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
13
19/07/1986

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