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Aramis

Os Nossos Caipiras (VI)

A tese de Waldenyr Caldas sobre música sertaneja e indústria cultural, primeira a ser produzida em nosso País, é riquíssima em informes e colocações, justificando seu conhecimento por todos que tem interesse em entender melhor o nosso povo e suas predileções artísticas. Ao elaborar sua dissertação de mestrados no Departamento de Ciências Sociais da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, o professor Caldas buscou oferecer uma visão ampla com relação ao fenômeno cultural que é a presença maciça da música sertaneja. Sem preconceitos, é preciso encarar essa força não em termos artísticos, mas economicamente, no mercado brasileiro - atingindo e emocionando milhões de brasileiros e transformando-se, evidentemente com o impacto dos novos meios de comunicação, sofrendo o marketing de modismos e, em (conseqüência(, perdendo sua autenticidade. O rigoroso J. Ramos Tinhorão, cujo radicalismo crítico, muitas vezes, pode ser contestado, mas que desenvolve trabalho de pesquisador musical da maior seriedade, vem reunindo informações para um livro a respeito, que, sem dúvida, será um complemento a tese de Caldas. Tinhorão, pelo que pudemos deduzir de um rápido contato pessoal, pretende mostrar a alienação cultural que vai tomando conta dos produtores de música rural, hoje oferecendo produtos hibridos - sem a autenticidade e sinceridade dos primeiros autores, a partir de Cornélio Pires, mas também não atingindo, evidentemente, uma faixa urbana mais (in)formada. Há casos realmente curiosos, como da dupla Conde e Drácula (sic), de São Paulo, que lançada pela Beverly, num modesto elepê, vendido nas lojas a Cr$ 35,00 (quando um elepê de MPB está custando Cr$ 100,00), com canções sertanejas repletas de informações extraídas de filmes de terror, inclusive uma canhestra adaptação do poema "O Corvo" (The Raven, 1845) de Edgar Alan Poe (1809-1849) Waldenyr Caldas, num dos capítulos de sua tese, acentua que não houve, verdadeiramente, no âmbito da música sertaneja, qualquer transformação profunda nos seus componentes formais (ritmo, harmonia, melodia). Houve, na verdade, modificações no tocante à instrumentalização, decorrentes muito mais do desenvolvimento tecnológico e do seu (conseqüente( aproveitamento comercial. Em vista disso, não é difícil, hoje, ouvir-se arranjos musicais para o gênero sertanejo, em que inexiste o rasqueado da viola. Todavia, esta ainda constitui o instrumento central da maioria das gravações, recentes ou não. Há de se destacar, contudo, a ocorrência, no período de 1958 até nossos dias, de três movimentos diferentes dentro do gênero, embora todos eles tivessem por objetivo fundamental aumentar sua área de consumo e os quais detalharemos em nossa coluna de amanhã, encerrando essa série.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
4
26/08/1977

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