Os loucos de Gemba
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 05 de maio de 1974
Com 360 horas de ensaios - aos quais acrescentará agora um tour de force final que se entende madrugada a dentro até quinta-feira - "Perseguição e assassinato de Jean Paul Marat, interpretados pelos internos do Hospício de Charenton, dirigidos pelo Marquês de Sade" Teatro Guaira, estréia dia 10 peça com maior título já encenada no Paraná: representa, possivelmente, a maioridade artística de Oracy Gemba, 34 anos, como diretor, hoje com um trabalho que lhe dá condições de se profissionalizar nos grandes centros. Assistindo-se os ensaios da peça de Peter Weiss - estreada em Berlim há 10 anos e montada na GB/SP há sete sente-se a seriedade do empreendimento, em termos financeiros ao redor dos Cr$ 80 mil. Após uma pesquisa histórica em duas dezenas de livros, enciclopédias e revistas, Gemba recorreu a assessoria de dois psiquiatras Hélio Rotemberg, diretor da Clínica Pinel e Eduardo Camargo, diretor do Manicômio Judiciário, que vieram completar o profundo trabalho da professora Maria Cecilia Monteiro (também atriz do espetáculo, como SIMONE EVRAD) na criação Psico-Dinamica dos interpretes dos internos do Hospício de Charenton, onde Donatien Alphonse François Sade (1740-1814) foi internado em 1803, ali permanecendo onze anos, período em que efetivamente chegou a fazere encenações teatrais - que inspiraram ao alemão Peter Weiss sua política e inquietante peça. A seriedade da pesquisapara a criação do universo dos personagens contou com a colaboração do psicólogo Dante Quadros e do psicoterapeuta Aroldo Morais que como coreógrafo transferiu cinicamente os reflexos do ego de cada um dos internos. Com um elenco de primeiro nível e uma cuidadosa produção, sem dúvida Marat/Sade representa um importante acontecimento para o teatro paranaense em 1974.
Enviar novo comentário