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Aramis

Os lábios na tela

Até que ponto o roteiro de David Rayfiel é ficção e quanto procurou colocar de documental crítico em "A Violentada" (Cine Condor, 5 sessões diárias)? "Lipstick" está na categoria dos thrilling que se poderia chamar de políticos, na medida em que levanta um tema atual e o procura dessecar, corajosamente: a mais bela modelo da América, linda e sensual, é violentada por um professor e compositor de música concreta. Violência ou sedução? Nos Estados Unidos há 50 mil casos anuais de violentação sexual e apenas 10 mil chegam ao conhecimento do público. Dos que vão aos tribunais, apenas 2% são condenados. O risco é grande: "Prepare-se que V. será novamente violentada no tribunal", adverte a advogada Carlo Bondi (Anne Bancroft). E, efetivamente, isso ocorre: de réu, Gordon Stuart (Chris Sarandon) passa à ser uma vítima da sedução da modelo Chris (Margaux Hemmingway), acabando por ser absolvido. Mas a estória não termina aí. Um final surprendente, num ambiente um pouco surrealista - coloca os dados na mão para uma vingança justificável, feministicamente compreendida pelo júri ao final. E a última imagem de Chris, no tribunal, é uma satisfação ao público que ainda acredita na lei e na ordem. Feminista? Reacionário? Rebelde? Conformado? As interpretações variam, e para um cineasta como Lamont Johnson que vem procurando transmitir nas imagens algo mais do que simples estórias - a ecologia selvagem em "Jeremia Johnson", a desmistificação da vitória em "The Last American Hero", um filme como "Lipstick" nos parece que, apesar de toda a preocupação comercial (afinal a produção é do italiano Dino De Laurentis, que não prega prego sem estopa nas bilheterias), o filme não se esgota apenas em sua função de entretenimento. Pode - e deve - ser analisado com atenção, principalmente numa temporada de vacas magras cinematográficas, como a que atravessamos atualmente. A trilha sonora de Michel Polnoroff, já editada em lp no Brasil pela WEA Discos, é das mais estimulantes - principalmente na utilização de sons concretos. E, se em termos de interpretação, Anne Bancroft confirma que é realmente uma das maiores atrizes americanas de todos os tempos, Margaux, a badalada modelo americana - como a personagem Chris, também a mais bem paga "cover girl" dos EUA - é uma demonstração de que se na literatura, os filhos do velho Ernest Heminngway, não merecem o sobrenome, em beleza, a sua neta é uma compensação e tanto. E de sobra ainda a maninha Mariel Heminngway, na vida real e no filme, também demonstra razoável sensibilidade interpretativa. LEGENDA FOTO 1 - Margaux Heminngway
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
4
28/01/1977

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