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Aramis

Os judeus paranaenses (IV)

Embora sem pretensões sociológicas, a professora Regina Rottenberg Gouveia em sua dissertação de mestrado no curso de pós-tradução em História Demográfica, da Universidade Federal do Paraná, ao estudar a comunidade judaica em Curitiba (1889-1970), estabeleceu alguns parametros interessantes. Num dos capitulos, faz colocações que explicam a razão de, até a década de 50, as maiores das familias israelitas, que se dedicavam ao comércio, se fixar no Centro da cidade ou então ao longo da Rua Barão do Rio Branco, especialmente nas quadras adjacentes à Estação Ferroviária (onde inclusive cresceu Jaime Lerner, hoje prefeito da cidade). Diz Regina, que "desde a sua chegada ao Brasil, os judeus procuraram sempre se estabelecer não apenas nos centros urbanos, mas nos lugares de maior concentração comercial desses mesmos centros. Isso aconteceu em São Paulo, aconteceu no Rio de janeiro e também em Curitiba, onde eles se instalaram nos bairros da cidade, denominados Centro e Rebouças, principalmente nas imediações da estrada-de-ferro, por onde circulavam as populações vindas do Interior". Além da razào economica, apontada acima, a opção domiciliar era motivada também por razões de ordem social, associativas e adaptativas. E, de fato, os judeus recem-chegados procuravam já os lugares onde encontrariam outros israelitas com os quais pudessem se entender do ponto de vista da língua, da religião etc. Era assim também que com a ajuda dos vizinhos poderiam iniciar um "negócio" para a sua sobrevivencia material. Em suma, a proximidade de segurança e solidariedade dentro da sociedade que lhes era estranha. Eram raros os casos em que famílias judaicas se deslocavam para bairros mais retirados. Até 1930, poucas eram as famílias que procuravam os bairros mais afastados como Mercês e Bigorrilho. Apenas 4 familias se aventuraram a residir no distante bairro do Portão, onde, entre outras coisas, negociavam com os produtores agricolas, poloneses de Araucaria. Em 1945, aparecem os primeiros sinais de mudança na situação domiciliar dos judeus curitibanos. A grande concentração, é verdade, continuou sendo no Centro e em Rebouças, onde 63,4% deles residiam e mantinham seus negócios". Mas a segunda geração dos imigrantes já começa a se transferir para bairros mais nobres, simbolizando sua ascensão social. Muitos dos mais velhos, apesar de persistirem com suas lojas no Centro, passaram a residir em locais separados das mesmas. É sintomático, que bairros como o Batel e Alto da Rua XV, tenham conhecido aumentos significativos de sua população judaica: 3,0% dos israelitas moravam no Batel em 1930; em 1945, eles já eram 8,6%, no Alto da Rua XV, nos mesmos anos, o acréscimo foi de 2,0% para 2,4%. Em 1970, observa Regina Gouveia, os domicílios se alteram sobremaneira. O local de residencia e o local de trabalho não eram mais necessariamente coincidentes e a ascensão social dos membros da comunidade os levou com mais evidencia para os bairros socialmente mais nobres. Desta forma, cresceu a população judaica do Batel e do Alto da Rua XV. No primeiro, instalaram-se 15,9% dos israelitas, que vivem, em sua maior parte, em casas. No segundo, 11,9% que moram, na maior parte das vezes, em prédios de apartamentos. Em todos os casos, o movimento é no sentido dos bairros de alta classe média e burguesia, reduzindo aqueles espaços iniciais que poderiam ser identificados como eminentemente judaicos. De certa, forma, o fenomeno diz respeito a seu grau de integração, pois a procura de um domicilio tem a ver cada vez menos com as necessidades particulares do grupo, adaptativas e associativas, como se mencionou, e cada vez mais com as suas caracteristicas sócio-economicas. Os judeus não escolhem mais o local de residencia motivados pela presença mais próxima de outros membros da sua comunidade.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
6
21/08/1980

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