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Aramis

Os jardins de Francis Coppola

- Qual é a de Francis Coppola? Eis uma pergunta que se faz em muitos círculos cinematográficos. Afinal, é incrível a capacidade de trabalho deste americano de 48 anos que tal como ensina a filosofia do samba de Paulo Vanzolini, está sempre pronto para dar a volta por cima. Garoto-prodígio de sua geração, estreou com um longa-metragem que lhe serviu como trabalho de graduação no curso de cinema - "Meu Filho, Agora Você é um Homem" (1967, reprisado já várias vezes na televisão) e nestes 20 anos de carreira, tem acumulado imensos sucessos e grandes fracassos. Sua empresa, a Zoetrop, faliu várias vezes, após produções ambiciosas como "O Fundo do Coração" (quando insistiu em refazer em estúdios o cenário de Las Vegas, que poderia filmar ao vivo), mas nem por isso Coppola deixou de bancar produções de outros realizadores - de Akira Kurosawa ("Kagemusha"), a Geofrey Raggio ("Koyaanisqatsi"), além de fazer o lançamento nos EUA, no sistema para o qual foi concebido, da superprodução "Napoleon", de Abel Gance, realizado em 1926, para ser projetado por 3 aparelhos. A falência de sua produtora foi vencida na primeira vez quando "Apocalypse Now" conquistou a Palma de Ouro em Cannes, após quatro anos de produção. Os Oscars de "O Poderoso Chefão" - as duas partes foram fortalecidas com os aplausos por "A Conversação", para muitos o seu melhor filme. Depois de dois filmes modestos, sobre jovens - "The Outsiders" e "O Selvagem da Motocicleta" (inédito em Curitiba, mas à disposição em vídeo alternativo), Coppola surpreendeu com o emocionante "Peggy Sue - Seu Destino a Espera". Agora, Coppola está novamente em evidência: há um mês e meio estreou nos EUA o seu último longa: "Jardins de Pedra" (Gardens of Stone), com lançamento programado para as próximas semanas no Brasil. A crítica recebeu a pedradas este filme que se passa no ambiente de caserna. Mas há defensores entusiásticos - como sempre ocorre com os filmes de Coppola. Afinal, "Cotton Club" - outra produção caríssima, que abalou suas finanças - dividiu os espectadores, mas não há como negar o seu fascínio. "Gardens of Stone" tem muitas seqüências no Cemitério Nacional de Arlington. Os vastos montes verdes pontilhados de lajes de mármore. O cemitério dos militares americanos. Deste clima para a caserna, Coppola constrói um drama poético, ambientado em 1968 - ano de tantas transformações no mundo, em termos comportamentais e da escalada na guerra do Vietnã. O personagem central é o sargento Clell Hazard (James Caan), um combatente condecorado que, devido a burocracia e manobras políticas, é designado para realizar tarefas no Cemitério Nacional de Arlington. Favorável ao Exército, mas contra a Guerra do Vietnã, Clell aguarda sua transferência para o Fort Benning, onde se sentiria melhor. Anjelica Houston - filha do cineasta John, Oscar de melhor coadjuvante por "A Honra do Poderoso Prizzi" - é Samantha Davis, uma repórter pacifista do "Washington Post", ativista pacifista, que se torna amante de Clell. Assim, tendo por cenário um espaço até hoje nunca focalizado no cinema - embora conste do roteiro turístico de quem visita a capital dos EUA - "Jardins de Pedra" propõe reflexões sobre o Exército, os soldados - temas tantas vezes revisitados pelo cinema, embora poucas vezes com profundidade e audácia. Trabalhando sobre um romance de Nicholas Proffitt, Coppola pretende que seu filme não seja apenas uma leitura superficial do militarismo. O Exército americano gostou. A produção teve toda a ajuda para as filmagens e no final Coppola ganhou o título de membro honorário da Velha Guarda, quando o coronel John Myers disse: - "Do ponto de vista do Exército, a descrição do militarismo no filme é perfeita". LEGENDA FOTO 1 - Anjelica Houston é a atriz central de "Jardins de Pedra", novo filme de Coppola - breve estréia no Brasil. LEGENDA FOTO 2 - Coppola, afinado com os militares.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Cinema
4
13/09/1987

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