Login do usuário

Aramis

Os grandes textos que chegam à tela

Nos anos 50, uma das coleções de maior sucesso da saudosa editora Vecchi (quem se lembra desta casa publicadora?) era "Os Maiores Êxitos da Tela", que publicava os romances levados ao cinema - entre trabalhos originais ou adaptações. Com capas coloridas, papel-jornal, a preços econômicos, vendia como pão quente. Ao longo dos anos, muitas outras editoras voltaram-se ao marketing que o cinema garante aos romances filmados e hoje verdadeiros superlançamentos são feitos, como a recente operação pela qual a Record conseguiu fazer com que o romance "Acima de Qualquer Suspeita" tivesse maior êxito do que o próprio filme. Mas não é apenas a Record, entre as boas editoras, que sabe aproveitar o potencial promocional dos livros badalados pelo cinema, pois no competitivo mercado outras casas buscam este filão. Paulo Rocco, editor que faz com que sua editora cresça cada vez mais, soube, espertamente, lançar no Brasil a tradução (de Roberto Grey) de "O Céu que nos Protege", de Paul Bowles, praticamente simultaneamente a estréia deste aplaudido filme na Europa e Estados Unidos. Assim, enquanto a imprensa internacional começa a registrar o sucesso do novo filme de Bernardo Bertolucci - possível oscarizável em várias categorias e com lançamento previsto para este primeiro trimestre no Brasil - "The Shektyerin Sky", publicado pela primeira vez em 1949, chega agora ao Brasil numa bem cuidada edição. Paul Bowles, 81 anos, quando publicou "O Céu que nos Protege", foi saudado por Tennessee Willians como uma prova de que um autor americano podia ser tão tenso e profundo quanto Sartre e Genet. "The Shektyerin Sky" foi uma espécie de totem da geração "on the road", de Ginsberg e Corso, e atravessou os últimos 40 anos sendo lido por entusiasmados fãs que pareciam, a quem não conhecia a obra, "uns iniciados". Agora, com o filme de Bertolucci - contando a saga de três viajantes americanos tentando desvendar os mistérios do deserto do Saara e encontrando a cada passo, deslumbramento, perturbação, poesia, loucura e no final, a morte, este livro considerado como a obra-prima de Bowles vai entusiasmar uma faixa maior de leitores, caminhando para a relação dos best-sellers. Os personagens Port, Kit e Tunner são contemporâneos em suas angústias e sua dúvidas, nas duas viagens que empreendem paralelamente. A primeira, no interior de si mesmos, a outra, externa, ao deserto que parece não findar, em direção do ponto do "não retorno" sugerido pela citação de Kafka que abre a terceira parte do livro ("Além de certo ponto, não existe retorno / Este é o ponto que precisa ser alcançado"). A vida de Paul e sua esposa Jane tiveram muitos toques que fazem de "O céu que nos Protege" parecer uma autobiografia. Jane, talento indomado, acabou louca num hospício em Málaga. Paulo, compositor que transportou música para um texto acima de tudo instigante, vive até hoje em Tânger, onde produziu uma obra extensa da qual fazem parte contos, uma autobiografia ("Without Stopping") e alguns romances, entre eles, "The Spider's House" e "Let it Come Down". xxx Em sua famosa fase mexicana o espanhol Luís Bunuel (1909-1983) realizou um profundo filme de raízes místicas: "Nazarin", 1958, com Francisco Rabal e Marga Lopes. Inspirou-se num romance famoso no México, escrito por Benito Perez Galdós em 1895 sobre um homem que na busca de realizar as suas crenças mais profundas, rompe com as leis da sociedade convencional e busca no recolhimento um encontro com Deus. Só agora, 33 anos após o filme e 61 depois da morte de Galdós (1843-1920), chega uma tradução (de Reinaldo Guarany) deste belo e profundo romance (capa de Joatan Sousa da Silva, 200 páginas, Cr$ 1.650,00, José Olympio Editora). Uma obra importante, especialmente para quem aprecia textos de reflexão. "Nazarin" interessa também aos que conhecem o belo filme de Bunuel - já apresentado várias vezes no Cine Groff. LEGENDA FOTO - Bertolucci, diretor de "O Céu que nos Protege": o romance antecipa ao filme.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
24/01/1991

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br