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Aramis

Os grandes talentos nos pequenos filmes

No III Festival Internacional de Cinema, Vídeo e Televisão - de cujo júri de curta-metragem fizemos parte - "Frankenstein Punk", de Eliane Fonseca e Cao Hamburger, conseguiu unanimidade imediata: foi o melhor curta daquela mostra. Em Brasília, num projeto desenvolvido sem a colaboração de Eliana, o paulista Cao Hamburger também foi a grande sensação na área de 35mm: seu "A Garota das Telas", 15 minutos, um filme de animação com bonecos que tem como tema uma história de amor, conquistou o público (melhor filme segundo o júri popular, que em termos de longa consagrou "O Mentiroso", de Wener Schunemann) e levou as premiações de melhor filme do júri oficial; melhor montagem (Vânia Dbs) - dividida com Cida Marques, por "O Inspetor", música original (Luís Macedo/Fernando Salem). A qualidade dos curtas em 35mm foi tão grande que o presidente do júri, compositor Dori Caymmi, chegou a sugerir que toda verba de premiação los longas (que o desagradaram, no geral) fosse transferida para esta categoria. Os seus colegas não aceitaram tamanho radicalismo, mas remanejaram a premiação de forma que foi criada a categoria de atriz revelação para destacar o trabalho de Elisa Lucinda, 30 anos, capixaba de Vitória, atriz de teatro e cantora (apresenta-se no "Madrugada", no Rio) - que ficou tão emocionada ao receber o prêmio, que improvisou um discurso e cantou a capela "Filhos de Gandhi" - entusiasmando o público presente na festa de encerramento na Praça do Park Shopping. "Meninos de Rua", dilacerante documentário sobre a infância abandonada, de Marlene França - injustiçada em Gramado, mas premiada na Bahia (prêmio especial do júri) mereceu os prêmios de som (Mário Masetti) e fotografia (Aloysio Raulino). "O Candango" de melhor roteiro foi dividido para dois excelentes curtas, já premiados em Gramado e que possuem excelente comunicação para com o público: "Barbosa", de Ana Luiza Azevedo e Jorge Furtado (uma livre reconstituição do dia em que o Brasil perdeu a Copa, 16/7/1950, com Antonio Fagundes fazendo uma viagem ao tempo para avisar ao goleiro Barbosa do gol com que Alcides Edgardo Ghiggia derrotou o Brasil, na maior frustração do esporte no Brasil). Em "Três Moedas na Fonte", o sempre bem humorado A. S. Cecílio Neto, faz uma sátira a solidão de uma burguesa balzaqueana, abandonada pelo amante (Imara Reis, num belo personagem) ao som de "Three Coins In Foutain", (Jule Styne/Sammy Cahan), que Frank Sinatra cantava na abertura de "A Fonte dos Desejos" - e um dos maiores sucessos kitches já trazidos pelo cinema. - "Um filme horrível, abominável, mas que encantou gerações" - diz Cecílio, cuja irreverência já havia feito de seu filme de estréia, "Ma Che Bambina!", uma bem humorada homenagem a Adoniran Barbosa, o filme curta mais popular no Festival de Gramado, há três anos. Ricardo Bravo, 25 anos, carioca, em "Referência", construiu uma bela alegoria sobre uma empregada doméstica de um casal de classe média alta e revelou a atriz Elisa Lucinda, morena sexy, que, no Festival de Brasília deste ano - sem maiores atrações femininas (Cláudia Magno, Imara Reis, a gaúcha Xala Felippe, discretas, pouco aparecendo) acabou se tornando uma das presenças visuais mais atraentes. E na premiação dos 35mm, "Mais Luz", um canto de amor ao cinema - no qual Reinaldo Pinheiro documenta, nostalgicamente, o fechamento de tradicionais salas de exibição - não poderia deixar de ser premiado: ganhou menção especial do júri - e Cz$ 300 mil ao seu realizador. Merecia mais. Mas em qualquer festival que participe, "Mais Luz", com as imagens do Zé da Ilha, ex-lanterninha dos anos de ouro do cinema - sonhando com Greta Garbo (e dançando, ao final com Zezé Macedo, aquela comediante das chanchadas da Atlântida) sempre emociona aos fãs do cinema.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
06/11/1988

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