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Aramis

Os garimpeiros do cinema brasileiro

Estevão Rainer Von Harbach, 34 anos, o maior apaixonado pelo cinema americano entre nós, dono de preciosa filmoteca com inúmeros clássicos e crítico bissexto de cinema, descobriu, anos atrás, que um curitibano, Arthur Rogge (1896-1974), não só tentou implantar uma produtora cinematrográfica em Curitiba nos anos 30, como viajou a então florescente Hollywood. Ali fez um documentário precioso, existindo inclusive uma cópia em poder de Estevão - mas em estado tão precário que a não ser submetendo-se a um caro processo de restauração não tem condições de ser exibido. Há três meses, Estevão habilitou-se a uma das bolsas oferecidas pela Embrafilmes para aprofundar as pesquisas sobre Arthur Rogge e sua tentativa de aqui fazer cinema (seu equipamento, nos anos 40, foi adquirido pela Atlanta), mas, infelizmente, o seu projeto não teve aprovação. Entretanto, o bom material já reunido, lhe possibilitará mais cedo ou mais tarde fazer um resgate histórico de mais este pioneiro esquecido na história de nosso cinema. xxx Como Estevão, existem Brasil afora alguns outros apaixonados pela pesquisa cinematográfica, preocupados num trabalho de garimpagem dos homens que, a partir do início do século, tentaram fazer cinema no Brasil. Na maioria das vezes acabaram tendo prejuizos, desiludindo-se e perdendo inclusive o material filmado - hoje raros fragmentos existem nas cinematecas do Rio, São Paulo e mesmo Curitiba. José Octavio Guizzo, 45 anos, que há 21 anos recebeu seu diploma pela Faculdade de Direito da UFPr - marcado ativamente o período em que viveu em Curitiba é o primeiro presidente da recém-criada Fundação Cultural de Mato Grosso do Sul. Embora absorvido com inúmeras atividades, o bom "MT" - sigla carinhosa pelo qual seus amigos o chamavam em seus anos de universitário - tem se revelado um pesquisador cuidadoso, já com um (uns) livros publicados sobre o cinema de Mato Grosso, a nova música de Mato Grosso do Sul, e, agora, lançando um roteiro-tese sobre um importante, embora esquecido, filme realizado em Campo Grande: "Alma do Brasil" (edição do autor, 116 páginas). xxx Primeiro livro construído inteiramente sobre um único filme, a ser elaborado por um pesquisador no Brasil, o trabalho de José Octávio Guizzo se constitui numa preciosa contribuição para se fazer justiça a pioneiros - Alexandre Wulfes, e Liberou Luxardo (falecido há alguns anos, em Belém do Pará) que em janeiro de 1932 rodaram "Alma do Brasil", filme de temática relacionada a clássico obra de Visconde Taunay, "A Retirada da Laguna". Através de cuidadosas pesquisa dos jornais da época, coleção da revista "Cinearte", (que o pioneiro Ademar Gonzaga editava no Rio de Janeiro) e depoimentos com pessoas que participaram do filme, Guizzo reconstituí a difícil produção, seu lançamento em São Paulo e destaca, especialmente, a colaboração que o general Bertoldo Klinger (RS, 1884-SP, 1969), que comandava a região militar de Mato Grosso na época, prestou a sua realização - tornando, aliás possível a conclusão do filme. Klinger aderiu posteriormente a revolução constitucionalista, o que teve reflexos no filme em seus aspectos de distribuição, na época já das mais difíceis. xxx O livro de José Octávio Guizzo é esmerado em detalhes, refletindo a seriedade com que o autor se preocupa em suas pesquisas. Embora sem pretensão, oferece importantíssima contribuição a memória de nosso cinema. Os eventuais interessados em conseguirem um exemplar deverão solicitar diretamente ao autor (Rua Rio Grande do Sul, 968, 79.100, Campo Grande, Mato Grosso do Sul). xxx Durante o festival de cinema de Gramado, paralelamente ao lançamento oficial da revista "Filme e Cultura", agora em uma fase monográfica, dirigida com eficiência pelo jornalista Cláudio Bojunga, foi lançado também o novo "Guia de filmes". Transformado numa série de fascículos da filmografia brasileiro, o "Guia de filmes" - que sofreu diferentes interrupções e reformulações nos últimos 18 anos - pretende levantar todos os filmes, curta e longa-metragens, realizados no Brasil a partir de 1897. Ao trabalho pioneiro e admirável de Alex Viany, Jean-Claude Bernardet e Araken Campos Pereira Jr. - todos esgotados, Eliana Queiroz, coordenadora desta nova fase de "Guia de Filmes" deseja reunir todos os elementos possíveis, para tornar o mais completo e abrangente possível a pesquisa - nas quais estão envolvidos, entre outros, estudiosos da seriedade de Bernardet, Carlos Roberto de Souza, Maria Rita Galvão, Olga Futemma, José Carvalho Motta. A Cinemateca do Museu Guido Viaro, dirigida por Francisco Alves dos Santos, já deu uma preciosa contribuição neste primeiro volume - que deverá prosseguir nas edições seguintes. Só esperamos que a dificuldade financeira em que se debate a Embrafilmes não faça este projeto a ser cancelado. LEGENDA FOTO: Guizzo: pesquisando cinema
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
1
21/07/1984

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