Login do usuário

Aramis

Os documentários do novo cinema cubano

A vinda a Curitiba do diplomata Idelso Espinosa Tasset, primeiro secretário da Embaixada de Cuba, acompanhado do sr. Bernardo Vorobow, diretor da Fundação Cinemateca Brasileira, de São Paulo, para a abertura da mostra "O Cinema Documentário Cubano" (Cinemateca do Museu Guido Viaro, até o dia 14, sessões às 20,30 horas), mostra a importância desta primeira amostragem da até agora ignorada cinematografia cubana. xxx São treze documentários, quatro de Santiago Alvarez, considerado o mestre dos documentaristas latino-americanos. Além de Cuba, realizou trabalhos na África, Ásia e América Latina. Passou a ser conhecido fora de seu país quando realizou "Now", um de seus filmes mais importantes, premiados em vários países e que abriu a mostra na terça-feira, juntamente com "Pela Primeira Vez" (67, de Octávio Cortazar) - sobre o movimento de difusão do cinema cultural em toda Ilha (e já levado também na mostra paralela ao XIX Festival de Cinema Brasileiro). Além de Santiago Alvarez, a mostra oferece uma (rara) oportunidade de visão de obras de mais oito documentaristas cubanos: Octávio Cortazar, Humberto Solas, Fernando Perez, Pedro Chaskel, Geraldo Chijona, Rigoberto Lopez, Manuel Octávio Gomes e Marisol Trujilo. Conforme reportagem especial que fizemos há duas semanas, durante o III FestRio, abordamos a força com que o cinema cubano adquiriu nos últimos anos, graças, especialmente ao apoio que o governo de Fidel Castro, deu ao Instituto criado poucos meses após a vitória da revolução. Desde o dia 2, em Havana, realiza-se uma nova edição do Festival do Cinema Novo da América Latina, que não sendo filiado a Federação da Associação Internacional de Produtores de Filmes (que controla as mostras competitivas em todo o mundo), é bem mais aberta na inscrição dos filmes - não exigindo o ineditismo. A cada ano, aumenta a participação do Brasil neste Festival, que oferece boas condições para os interessados - produtores, artistas, jornalistas etc. assistirem (US$ 1.200, incluindo transporte, hospedagem, alimentação e acesso a todas as programações durante os 15 dias do Festival). Paralelamente a mostra de curtas-metragens cubanos na Cinemateca, Francisco Alves dos Santos, coordenador da área de cinema da Fundação Cultural, programou o retorno, no cine Groff (5 sessões, a partir de hoje) do único longa-metragem cubano lançado em Curitiba (aliás, naquela mesma sala, há dois anos) - "A Última Ceia", longa de Tomas Gutierrez Alea, outro importantíssimo realizador cubano - e que já mereceu até um livro editado em português ("Os Filmes que eu não Realizei:, de Sílvio Orós, Rocco-1985). Os longa-metragens cubanos - e existem pelo menos 10, com ótimas possibilidades comerciais - têm seus direitos de exibição no Brasil adquiridos pela Caribe Filmes, de Ney Sroulevich, diretor-geral do FestRio. Só que devido os múltiplos encargos de Ney - especialmente na organização do FestRio (atualmente ele encontra-se em Havana, "apenas como espectador, vendo filmes e descansando", como nos disse pouco antes de embarcar), o impediram, até o momento de programar o lançamento de filmes interessantíssimos como a comédia "Se Permuta", que no I FestRio, deu o prêmio de melhor atriz a sua intérprete ou "En Tres Y Dos", de Rolando Diaz, sobre o ocaso de um atleta, que representou Cuba no II FestRio. Este ano, Cuba concorreu no FestRio com "Plácido", 96 minutos, de Sérgio Giral, livre revisão da vida do poeta mulato Plácido (1805-1844), que na primeira metade do século passado, se debateu contra as contradições raciais, políticas e humanas da sociedade em que vivia. Sérgio Giral, 49 anos, autor também dos filmes "Elotro Francisco", "Rancheador" e "Maluala", fez de "Plácido" um painel com vários personagens que vão delineando o perfil do poeta: a esposa negra e abnegada, a burguesia branca e escravocrata, que o humilha nos salões elegantes e escrava ressentida, que o denuncia com líder de uma suposta conspiração de negros. No processo desencadeado pelas autoridades coloniais o poeta declara inocência e é torturado, como tantos, para delatar os implicados. Plácido resolve, então, enfrentar a morte de maneira heróica. De certa forma, "Plácido" é uma espécie de "Generale Della Rovere", que Roberto Rosselini imortalizou no filme "De Crápula a Herói" (1959, com Vittorio de Sicca). No início, Plácido, alienado, diverte a burguesia branca e colonizadora com sua capacidade de improvisar versos. Buscando uma ascensão social, aos poucos se conscientiza das contradições sociais, assume seu lado negro e termina como um herói da resistência - mesmo não tendo sido culpado pela rebelião da qual é acusado. Giral, cineasta vigoroso, vindo da área dos curta-metragens, fez um filme com uma bela reconstituição de época. Seus filmes armam uma trilogia de resgate da importância do negro na historia cubana, "escondida e deturpada pela historiografia burguesa". - "Embora Plácido seja um personagem histórico, existem poucos dados sobre sua biografia. Sua vida foi menos importante que sua morte. Tinha poucas informações sobre o personagem, e por isso optei por uma narrativa tão fragmentada quanto às lembranças sobre ele." Na impossibilidade do nosso público assistir a "Plácido" e outros filmes recentes, entre a produção cubana - "mas que chegará aos circuitos comerciais", garante Ney Sroulevich, falando agora como executivo da Caribe Filmes - a opção para esta semana é conhecer os curtas e médias metragens na Cinemateca e, no Groff, o interessantíssimo "A Última Ceia", um filme de fortíssimas imagens sociais e revelador do vigor do cinema cubano. O programa para hoje, quinta-feira (a ser reprisado amanhã) na Cinemateca, é o seguinte "O Maio das Três Bandeiras", 1966, 10 minutos, de Santiago Alvarez; "Uma Fotografia Percorre o Mundo", 81, 10', de Pedro Chaskel - prêmio Internacional em Leipzig, 82; "Omara", 1983, 30', de Fernando Perez; "Quando Termina o Baile", 84, 10', de Gerardo Chijona e "Granada, o Decolar de um Sonho", 1983, 30', de Rigoberto Lopez - premiado nos festivais de Leipzig (83), Bilbao (83) e Havana em 1983.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
13
11/12/1986

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br