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Aramis

Os discos paranaenses (III)

Advogado, publicitário e, desde março de 1979, por escolha pessoal do prefeito Jaime Lerner, presidente da Fundação Cultural de Curitiba, Sergio Mercer é daqueles curitibanos que curtem a sua cidade e buscam sempre encontrar novos encantos, nos mais simples endereços. Papo descontraído, bem humorado, companheiro ideal para uma noitada sem maiores compromissos, é também dono de um texto saboroso - que não só lhe tem valido excelente salários nas agências de propaganda pelas quais tem passado, mas também muitos leitores em suas colunas sobre gastronomia. Mas Mercer é também um apaixonado por tangos e boleros e, com muito humor, tem também feito sátiras, paródias e, eventualmente, temas meio românticos. Apreciador de um bom intérprete portenho, foi natural o entusiasmo de Mercer em auxiliar Osvaldo René, argentino de Barranqueras, província del Chaco, há 4 anos em Curitiba, atualmente contratado do Hotel Del Rey (cujo restaurante King's Place, vem tendo movimentados jantares musicais), a fazer o seu primeiro disco. Associando-se um rico casal de primos, Mercer co-financiou "Lluvia (y no estás)" (Sir / Meta Assessoria Comunicação Social), compacto duplo, produção independente que o próprio René, com sua simpatia portenha, está cuidando de vender ao seus amigos - embora merecesse uma distribuição mais organizada. Com direção musical do pianista Fernando Montanari, líder do grupo que atua no Del Rey - e do qual faz parte o baixista Selpa e o baterista Maurici, o compacto de René teve o apoio de outros bons instrumentistas: o guitarrista Cláudio, o pistonista Tatá, o flautista Alaor, Carlinhos Zulu na percussão, além de um executante de bandoneon, Rolando Gavioli, indispensável em qualquer tango que se preze - mas com pouquíssimos executantes nesta nossa cidade. A faixa que dá título ao compacto é composição de Osvaldo René, também executante de violão e um artista que cativa pela sua simpatia e comunicabilidade. Dois temas conhecidos foram também gravados - "Domingo em Buenos Aires" (Bernardo Bergeret / Fernando Falcón) e o clássico "Caminito" (Juan De Dios Filiberto / Coria Peñaloza). E, como exemplo do talento de Mercer como letrista, está "Codorna", parceria com Margarida / Carlito e cuja letra está entre a sátira e o tanbolero ("foi numa tarde morna que / eu te espantei / feito uma codorna, nunca / mais te encontrei / Tentei te encontrar / só achei uma perdiz / desde aquele dia / nunca mais eu fui feliz / Mulher tão tola / Quanto te amei / fostes uma pomba rola / que jamais te esquecerei / Na goiabeira / dia inteiro te esperei / armei uma arapuca / teu coração eu não peguei"). xxx Enquanto Ivan Graciano, filho da dupla mais popular da música paranaense - Nhô Belarmino / Nhá Gabriela (Salvador / Julia Graciano), ativa sua BG Gravações com uma série de edições de artistas da terra, de grande popularidade, outros grupos locais também estão tendo sua vez através da Isaec, de Porto Alegre, que com o selo Querência, busca o amplo e fértil mercado de consumidores de música não urbana existente no Sul. Dois exemplos são os discos d'Os Galos de Ouro e da dupla Laurino e Laureano. Os Galos de Ouro - que, a exemplo de tantos outros artistas populares têm no programa "Nossa Terra, Nossa Gente" (TV Iguaçu, domingos pela manhã), um dos espaços para se comunicar com o seu público, formou-se em Curitiba, do encontro de 2 nordestinos, Leomar (Aloísio de Sousa, paraibano de Itaporonga, 31 anos) e Zé Castelo (Floriano Ferreira da Silva, alagoano de Arapiraca, 24 anos) com o mineiro Valmir (Alves Coutinho, Barracona, 30 anos). Os dois primeiros vieram do Nordeste para o Norte do Paraná onde trabalharam inicialmente na lavoura. Leomar, em 1976, chegou à Curitiba, empregando-se na fábrica Todeschini. Do encontro com Valmir, até hoje ainda funcionário da refinaria Getúlio Vargas, em Araucária, surgiu o trio Os Galos de Ouro, que apresentando-se em programas de rádios, circos e pavilhões do Interior, chegou, finalmente ao primeiro lp, gravado na Isaec, com um repertório próprio, que, independente de méritos estéticos / artísticos, deve ser apreciado como produto da soma cultural (no sentido antropo-sociológico) de seus autores: "Não quero este chivas", "Porque choras mulher", "Mais uma dose", "Deixa ela ser feliz" etc. Já a dupla Laurino e Laureano, também do Paraná, mas sobre a qual não conhecemos maiores detalhes, preferiu um repertório de outros autores, músicas de duplas consagradas como Tonico e Tinoco ("Couro de Boi"), Tião Carreiro e Pardinho ("Triste Separação"), ou autores não tão populares, como Zé Matão, com diferentes parceiros - Nascimento ("Loteria do Amor"), Joaquim Moreira da Silva ("Meu Pequeno Paraíso"), Tadeu & Magrela ("Recordando o Sertão"), Guaraçu e Cianorte ("Meu Lar"), etc. xxx A decisão do pianista e empresário Percy Tamplin em investir mais de Cr$ 4 milhões, há 3 anos, para dotar o Sir - Laboratório de Som & Imagem (Rua Bento Viana, 405) de moderno equipamento, veio possibilitar não só que se passasse a gravar discos de ótimo nível técnico em Curitiba, com artistas locais, como, inclusive, atrair para cá a produção de outras etiquetas. A Continental/ Chantecler e RGE foram as primeiras a se motivar em utilizar os estúdios de Percy, aqui produzindo as fitas de artistas regionais, só deixando a parte industrial (corte, prensagem) para São Paulo. A Bandinha do Barril, formada em abril de 1976 por Bruno Montanari, de São Bento do Sul, SC, e pertencente a uma família que há muitas décadas se dedica à execução de temas de origem alpina, mas acopladas à cultura sulina, gravou em abril no ano passado, no Sir, com coordenação de Armando Hein, "Férias nos Alpes", onde se alternam composições de Bruno Montanari e outros músicos de seu grupo, com temas folclóricos - estilo "Baile do Chopp", que têm um mercado seguro no Sul. Aliás, repetimos aqui a sugestão já feita a pessoas ligadas a órgãos culturais catarinenses: a necessidade de se promover um estudo da linguagem, tradição e características das bandas de origem germano-brasileira, que existem em todo o Estado de Santa Catarina e parte do Rio Grande do Sul. Geralmente formadas por grupos familiares, sem pretensões maiores, cultivam, entretanto, um repertório de grande aceitação - não só nas apresentações ao vivo, em bailes e festas cíclicas, mas em discos, tanto é que sobe a quase meia centena os discos destes grupos - Bandas Tureck, Os Montanari, Treml e tantos outros, a maioria registradas no Chantecler, o que possibilita ao representante regional daquela etiqueta ser, há vários anos, o campeão de vendas. Um exemplo da aceitação deste tipo de música é o fato de uma das mais novas bandinhas, a Verde Vale, de Pomerode, do Vale do Itajaí, criada há menos de dois anos, do encontro de 10 músicos - das famílias Porath, Raut e Krueger, já ter o seu primeiro lp ("Alte Kameraden", Chantecler/ Rosicler), cujos cuidados de produção foram ao ponto do veterano Poly (Angelo Apolonio, 60 anos) ter sido incumbido de coordenar a sua realização. E, vendo este imenso mercado, Ivan Graciano atraiu para sua "BG" a Bandinha Alfredo Tureck, fundada em maio de 1970, em Rio Negrinho, SC, com 13 integrantes - três da família Tureck, dois dos Kreutzfeldt, dois dos Nagorski, e os demais arregimentos de outros grupos. Com um repertório variando do maxixe de Pedro Salgado ("Carinhoso", não confundir com o clássico de Pixinguinha, a muitas composições do líder Alfredo Kreutzfeldt, o lp da Bandinha Alfredo Tureck - distensão da antiga "Banda Tureck", está no pacote de produções da BG, que, numa forma independente, mas organizada, vem disputando o competitivo mercado fonográfico. Com Reinaldo Camargo instalando, finalmente, modernos estúdios (investimentos acima de Cr$ 6 milhões) no Juvevê, abrindo assim mais espaço para gravações, as possibilidades do crescimento fonográfico em termos regionais devem crescer. Ivan Graciano, que deve lançar nos próximos dias um lp reunindo os maiores sucessos da dupla Belarmino / Gabriela - em comemoração aos 60 anos de Salvador Graciano em novembro - 40 da dupla, tem projetos de fazer, no mínimo, duas edições novas por mês. Depois de ter produzido o "Festival de Valores Novos", para Mário Vendramel (animador de programa de TV, recuperando-se de grave acidente automobilístico que sofreu há alguns meses), e da Equipe BG, reunindo vários artistas que se apresentam nos programas de TV de seu pai, Ivan colocou nas lojas do Sul discos com as duplas Valmor e Veneranda ("C.T.G. Amor e Tradição"), do município de Rio Negrinho SC; os Campeiros do Sul (Edis Rogério Arruda da Rosa e Alvino Vieira Lager), e Os Brotinhos do Rio Grande, ambos de Lages; Feliz e Fiel e Porto Rico e Navegante, este formado por pai e filho, de Curitiba, e que, sem preocupação de promoção nos veículos tradicionais, vão, a exemplo de tantos outros artistas do povo, aumentando um público simples, fiel e que os recebe com grande amor.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
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Tablóide
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05/01/1980
Se alguem tiver discos da banda OS Montanari, Os Futuristas, Os cometas, Mexico Brass ou musicas deste genero favor entrar em contato pelo email diego@coopercarga.com.br Obrigado
Prezados Senhores: Gostaria de saber, como eu consegueria arranjar as musicas de Kerb daquela época para eu matar a saudade destas músicas. Favor me contatar pelo e-mail. Sou de Ijuí-RS. Adir

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