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Aramis

Os direitos humanos na Jornada da Bahia

Desde a I Jornada Baiana de Curta-Metragem (13 a 16 de janeiro de 1972), que Guido Araújo idealizou e realizou graças ao apoio e entusiasmo de Rolland Schaffner, então diretor do Goethe Institut, em Salvador, esta promoção sempre se caracterizou pelos eventos paralelos à área competitiva. A proporção em foi se consolidando - crescendo já em 1973 para Jornada Nordestina de Curta-Metragem (3 a 12 de setembro) incluía um encontro preparatório do II Encontro dos Pesquisadores do Cinema Brasileiro, paralelamente a um seminário do filme Super-8 - bitola que tinha sua euforia naquela época Ampliando-se nacionalmente e, nos últimos 4 anos, para o campo latino-americano e países africanos de língua portuguesa, a Jornada, consolidada hoje como um evento culturalmente do maior significado - razão do prestígio que Guido desfruta na comunidade cinematográfica não só do Brasil, mas também em outros países - deve-se a esta continuidade o seu significado maior. Durante os anos mais duros da ditadura militar, a Jornada sempre foi um ponto de resistência, não se intimidando com a censura e mesmo ameaças de órgão de segurança. O patrocínio do Goethe Institut, especialmente graças ao entusiasmo do diretor Schaffner (hoje, aos 51 anos, novamente morando em Munique, mas com projeto de voltar a Salvador, assim que se aposentar), foi uma das razões que impediram que setores radicais esmagassem a promoção. Entretanto, dificuldades financeiras e operacionais sempre existiram e, por dois anos (1983/84), a Jornada chegou a ser transferida para a cidade de Cachoeira. Até hoje a cobetura da Jornada pela imprensa, rádio e televisão é reduzidíssima, insistindo-se em negar sua validade cultural - e tentando boicotar filmes da maior importância cultural, obras que jamais terão outras exibições no Brasil. xxx Este ano, em comemorção aos 40 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, foi realizado um simpósio sobre o tema, acompanhado da exibição de sete filmes. Destes, o mais impressionante foi "Açúcar Negro", produção canadense, realizado por Michel Regnier, sobre a situação de escravidão dos negros haitianos nas plantações de cana das empresas multinacionais da República Dominicana - cuja cópia, em 16 mm, com legendas em português, poderá ser trazida a Curitiba, desde que haja iniciativa ou da Cinemateca ou do Museu da Imagem e do Som - que agora tem ativa direção de Valêncio Xavier. Um desenho animado produzido pela ONU sobre a corrida nuclear ("O último Tic-Tac", de Susan Young/Jonathan Hodgeson), um contundente documentário de 29 minutos sobre Winnie e Nelson Mandela; dois trabalhos inéditos - "Wilsinho da Galiléia", de João Batista Andrade e "Maraimbras", de Vladimir Herzog, também foram levados à mostra. Alejandro Sederman, numa produção da ONU, "La bomba de tiempo", analisa a dívida externa da América Latina e os problemas que traz. "Pé na caminhada", documentário do padre Conrado Berning, com roteiro de D. Pedro Casaldáliga - e que já foi lançado em Curitiba (Cine Ritz) - também esteve na mostra dos Direitos Humanos.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
23/09/1988

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