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Os contos de Coutinho e Rangel para os poloneses

Na década de 50, quando Aluísio Finzeto comandava o "Clube Mirim M-5", na Rádio Guairacá, entre os "garotos-prodígios" que ali se apresentavam Braulio Prado (hoje chefe da assessoria de relações públicas da Telepar) imitando o cantor Bob Nelson (Nelson Roberto Perez, 52 anos), Mauri Furtado (1939-1964) interpretando as músicas de Vicente Celestino (1894-1968), José Augusto Ribeiro (hoje editor político de "O Globo", há 17 anos radicado no Rio) tinha em José Edilberto Coutinho um dos rivais no Concurso de oratória (onde também, eventualmente, participava Dino Almeida). Edilberto Coutinho de destacaria na literatura com livros como "Um Negro Vai à Forra" (1977) e "Sangue na Praça" (1979), ao qual vem se acrescentar agora o livro de contos "Maracanã, Adeus" (Editora Civilização Brasileira, 133 páginas, Cr$ 200,00). Para breve a Editora José Olympio promete "Em Busca de Carlos Pena Filho", biografia critica do poeta pernambuco cujo 20o aniversário de morte está motivando uma semana de Estudos em Recife. E como é assessor no Instituto do Açúcar e do Álcool, Coutinho também fez um estudo sobre a vida e obra de José Lins do Rego. Em "Maracanã, Adeus", Edilberto Coutinho oferece contos sobre um tema que, curiosamente, não tem motivado muitos nossos escritores, apesar do Brasil ser considerado "o país do futebol". Como acentuou o critico Jorge de Sá (Jornal do Brasil, 19.7.80), "Coutinho escreveu para observar e documentar, pelo angulo da ficção, um dos paradoxos do futebol: a alegria proporcionada pelo jogo oferece apenas a ilusão da felicidade, embora todo o Maracanã pareça explodir no brevíssimo instante de um gol. Neste momento, os relógios perdem a sua lógica e a eternidade nasce dos pés de um craque, colocando-se ao alcance das mãos de toda a platéia, gratificada e entorpecida, afastada de seus problemas. Acontece, porém que o espetáculo foi habilmente montado por mãos poderosas que tiram do esporte a sua condição lúdica e a sua força de prazer para transformá-lo em mais um mecanismo de controle do comportamento humano. Assim, quando 11 jogadores entram em campo vestindo a camisa de um clube que consideramos nosso, agimos como se nós mesmo estivessemos ali, enfrentando 11 adversários. É nossa vida que está em jogo e, por isso, o zero a zero, não interessa pois só o tiro em gol compensa nossos fracassos diários. Entretanto, quando 11 narrativas entram em cena, o espetáculo se modifica. O cenário de grandeza e de poderio popular é propositalmente desmontado. Os grandes ídolos são despedidos da condição de mitos. Os reis ficam nus. E começamos a ver, um tanto assustados, que a doce afirmativa "Pelé é uma esférica: se não tivesse nascido gente, teria nascido bola" tem um lado amargo: nascemos gente, mas somos transformados numa bola que os donos do poder chutam na direção que mais lhes interessa". Em seu livro "Maracanã, Adeus". Edilberto Coutinho aproxima o jornalismo da literatura e, citando ainda Jorge de Sá, "seus contos captam com clareza aquilo que não podemos ver além das aparências, revelando-nos a essência de uma determinada situação, denunciando de que forma os mecanismos sociais manipulam a nossa própria História". Xxx Mário Rangel, hoje um dos principais executivos da Enciclopédia Britânica, em São Paulo, mas que durante muitos anos residiu em Curitiba, satisfeito com o sucesso dos irmãos: Flávio, o caçula, continua a ter suas peças de teatro cada vez com maior êxito e Paulo, romancista teve seu romance "O Carossel e a Feiticeira", lançado em 1974, traduzido por Janina Z. Klave para o polonês. Com o título de "Wydawnictwo Literatie", em edição de 10 mil exemplares, saiu naquele país, com boa aceitação. O que levou Moacir Amancio a comentar na "Folha de São Paulo": "Isto merece atenção. Nem tanto pelo fato da obra sair na língua do papa Wojtyla. Mas porque qualquer livro de contos, poesia ou romance que saia no Brasil tem alguma coisa a ver com o milagre. É tanta dificuldade, tanta falta de profissionalismo, tanto colonialismo, além do analfabetismo crônico, que hoje mesmo com as editoras investindo alguma verba institucional, esse objeto aparentemente banal, algumas folhas entre capas, torna-se meio fantástico. Quando o livro de fixção supera a barreira da nossa língua, a coisa deve ser anunciada com as trompetas de Jericó. Xxx E como é que Rangel conseguiu sair da Polônia. Ele é que conta: "Em 1975 mandei dois livros meus. "Folia dos Tempos", de contos e o romance "O Carrossel e a Feiticeira", para Maria Lúcia Lapecki, em Lisboa, por indicação de um editor. Ela me escreveu dizendo que estivera em sua casa com uma professora de literatura brasileira da Universidade de Varsóvia. Janina Z. Klave, que lera os livros, gostara e se interessava em receber um exemplar de cada um para melhor examiná-los. Seguindo a orientação de Maria Lúcia mandei os livros para Varsóvia. Diga-se que não conheco pessoalmente nenhuma das duas embora saiba que ambas vêm prestando bons serviços às letras brasileiras". Janina gostou do texto de Rangel e pediu inicialmente autorização para traduzir e publicar seu conto "Espinho para o De Cujus", incluida numa antologia de escritores brasileiros, editada com o título de "Okazja". Em janeiro de 1978 veio o contrato para a tradução de "O Carrossel e a Feiticeira". O contrato estabelecia cláusulas diferentes das de outros países. Por exemplo, os direitos autorais, na Polônia, não são transferíveis a herdeiros (na maioria dos países os herdeiros e sucessores continuam recebendo direitos até 60 anos depois da morte do autor). Outro item diferente: na Polônia, o percentual é de 7% para o autor, sobre a tiragem total 3 meses após a sua edição. Dinheiro que fica num banco polonês para o autor sacar quando for a Varsóvia e gastar de acordo com as leis do País.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
7
14/08/1980

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