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Aramis

Os candidatos

Sensível cronista da vida mundana carioca, o jornalista Zózimo Barroso do Amaral, colunista do "Jornal do Brasil", soube analisar, dias atrás, os programas do TRE na televisão, que, em seu entender, têm ao menos um mérito: revelar novos espécimes dessa fauna variadíssima que de quatro em quatro anos emerge e sobrenada nas águas nem sempre transparentes da campanha eleitoral. Pelo bom humor com que o jornalista carioca classificou os candidatos - e principalmente porque suas observações podem se aplicar aos postulantes de outros Estados (como o nosso), suas ponderações merecer ser conhecidas de maior número de leitores. Assim, os candidatos neófitos ao conforto das Câmaras e Assembléias Legistativas podem ser agrupados em pelo menos cinco grandes e diferentes categorias: 1. O candidato proustiano: incapaz de articular de improviso a frase mais simples, recorre ao papel escrito, que lê com extrema dificuldade, sem olhar para o vídeo engolindo vírgulas, pontos, pausas. A mensagem, transformada num único e monumental período acaba ininteligível para o telespectador pouco afeito à obra de Marcel. 2. O candidato processo: desgrenhado, a barba por fazer, o aspecto furibundo, começa por investir contra tudo e contra todos, vociferando críticas e condenações. Não diz ao que vem, mas ao que não vem. 3. O candidato "cuca frouxa": introduzido pelo apresentador, limita-se a grunhir meia-[dúzia] de lugares-comuns, mal preenchendo o primeiro dos quatro minutos a que tem direito. Em seguida, o silêncio e o olhar parvo, perdido, à espera que alguma coisa aconteça, como por exemplo o telespectador desligar o seu aparelho. Alertado de que se nada mais tem a falar seu tempo poderia ser melhor utilizado por um colega, despede-se com um aceno vago. Por pouco não manda um beijinho para a família. 4. O Candidado ibegeano: seu amor pela estatística é desmesurado. Em vez de frases, orações períodos, prefere números, cifras, percentuais, gráficos. É o tipo de candidato que seria melhor compreendido se o telespectador para ouvi-lo se munisse de uma tábua de logarítimos. 5. O Candidato charme louco: bem apessoado, bem vestido, bem falante, explora essa faceta de seu talento apresentando-se meio de lado, semiperfil, com uma voz pausada, meio rouca, insinuante. Não fala; sussurra. Faz o ar mais "sexy" que pode e aborda quase sempre assuntos relativos à mulher. Ao término de seus quatro minutos, o ímpeto do telespectador e levantar, correr à fármácia mais próxima e pedir um vidro de Glostora.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
4
27/10/1974

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