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Aramis

Os bons filmes que chegam a Curitiba

Uma amostragem internacional de cinema, por coincidência, nesta temporada. Assim, ainda hoje, enquanto o Cine Itália exibe a produção sueca "Fanny e Alexandre", de Ingmar Bergman (4 Oscar-84, 3 sessões), no mesmo Centro Comercial Itália, no Cine Palace-Itália, despede-se de cartaz a comédia "Os Deuses Devem Estar Loucos", rodada na distante república de Botsuana, na África. Amanhã, no Cine Groff, tem início a imperdível mostra do novo cinema alemão, com filmes realizados por jovens cineastas nos últimos cinco anos. Some-se filmes norte-americanos da qualidade de "Zelig" (1983, de Woody Allen) ou nacionais como "Joana Angelica" de Walter Lima Jr., (quinta e sexta-feira, Cinemateca) para se ter um leque de opções das mais atraentes - sem falar nos filmes da televisão, como a série "Masada", de Boris Sagel, que a TV Iguaçu comemorou a apresentar ontem, às 21:20 horas. xxx Um destaque especial merece "A Ultima Ceia" (Cine Groff, somente hoje) primeira produção cubana a obter lançamento comercial no Brasil. Galardeada em vários festivais de cinema internacionais - inclusive o realizado pelo crítico Leon Kakof, em São Paulo esta realização de Tomas Gutierrez Alea é de uma surpreendente força dramática. Há momentos que lembra "Viridiana", de Luiz Bunuel (1961), há outros em que parece ter a força política do melhor momento da obra de Gillo Pontecorvo ("Queimada", 1969). É, entretanto, uma obra pessoal, política, de análise e discussão da liberdade e das relações da Igreja, aristocracia e escravidão. Sendo uma realização de um cinema revolucionário não poderia ser uma obra despida de um grande conteúdo ideológico. Apesar de tantos pontos de atração - incluindo a belíssima trilha sonora do grande Leo Browner e a participação num pequeno papel, como ator, do romancista argentino (hoje radicado no Rio). Manuel Puig, este filme teve pouco êxito de público, de forma que hoje tem suas últimas sessões. xxx Exílado da Polônia há três anos - desde que realizou "O Homem de Ferro" (Palma de Ouro, Cannes, 1981), Andrzej Wajda, teve que recorrer a França para continuar sua obra. Assim, em 1982 rodou em Paris o político "Danton" (praticamente inédito em Curitiba e que em breve será reprisado no Cine Itália) e, no ano passado, na Alemanha Ocidental, filmou "Um Amor na Alemanha" (Cine Itália, a partir do dia 23). Baseado no romance de Rolf Hoehhuth (o mesmo autor de "O Vigário", obra proibida durante anos no Brasil), "Um amor na Alemanha", é um filme de reflexão sobre a vida no interior da Alemanha durante a ll Guerra Mundial. A partir da investigação que um estrangeiro faz sobre um fato ocorrido há 40 anos, Wajda reconstrói todo painel da Alemanha no ano de 1941, mas do ponto de vista de pessoas simples. Numa das inumeras entrevistas que deu a respeito desta obra, Wajda declarou que "na grande maioria dos filmes feitos nos países que se encontravam ocupados pelos alemães durante a última guerra, os personagens são apresentados como alvos que se movem ou como monstros vampirescos. Mas que foram realmente os nazistas? Quem os forçava a ser nazista? De que maneira [forçavam?] Como era a vida nas cidades alemãs em que a guerra estava presente em segundo plano? Eu mesmo fiz vários filmes que se passavam na época da ocupação; ou outros nos quais a ocupação tinha uma profunda influência sobre o comportamento de meus heróis. Em "Um Amor na Alemanha", pela primeira vez tenho a chance de mostrar a visão alemã, graças ao livro de Hoehhuth. Fiquei completamente emocionado de ver o problema com outros olhos. Não conheço filmes que mostrem o cotidiano da Alemanha de Hitler: aqui, podemos ver de que maneira este sistema influi no cotidiano das pessoas não mais maldosas que outras, e o que deriva de suas vidas é cruel e terrível - o sistema os obrigando a se comportar de uma maneira que os conduz ao crime. Aliás, nós, os poloneses, de outro lado, nos lamentamos de não ter nunca ajustado contas com os alemães". No elenco de "Um Amor na Alemanha" a atriz mais famosa do moderno cinema alemão, Hanna Schygulla, que começou fazendo teatro com Rainer Werner Fassbinder, em Munique, nos anos 70 e viria a estrelar vários de seus filmes. LEGENDA FOTO 1 - Hanna Schygulla, a atriz de "Um Amor na Alemanha", próxima estréia no Cine Itália.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
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Tablóide
20
15/08/1984

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