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Aramis

Os animais sem teto desta nossa Capital

Durante mais de 30 anos, a única referência pública que se tinha da Sociedade Protetora dos Animais era uma placa azul pregada numa das paredes das lojas Edith, na Praça Generoso Marques. Embora colocada discretamente naquele estabelecimento comercial rumeno-curitibano Virgilio Terner era um apelo surdo para uma colaboração - que nunca existiu - ao idealístico trabalho que um grupo de pessoas há mais de 40 anos faz para combater o maltrato aos animais. Idealistas que enfrentando muitas vezes a risos e chacotas - e mesmo acusados do tipo "por que não se preocupar com crianças abandonadas do que com os cães e gatos vadios?" - dedicam horas de sua vida para, com sacrifícios pessoais, reunir recursos que permitam manter um espaço para que animais tenham a mínima proteção. xxx Uma destas idealistas pessoas é Ingeborg Rust, uma das personalidades cativantes desta cidade sem portas que pretende ser a Capital Ecológica do Brasil. Descendente de uma família nobre da Alemanha, educada em bons colégios, há quase 40 anos em Curitiba, Ingeborg, proprietária do restaurante "Humel-Humel", tem usado todo seu amplo círculo de relacionamento - e que não é pequeno - para tentar conseguir uma sede definitiva para a Sociedade Protetora dos Animais. Procurou antigos amigos que, quando ainda não haviam chegado ao poder municipal ou a Assembléia Legislativa, eram habituês de seu restaurante no Largo da Ordem, ouviu evasivas e nada de concreto conseguiu. Hoje, descrente dos políticos e administradores, Ingeborg na manhã de segunda-feira, 1º, estava desesperada: em uma semana a Sociedade Paranaense dos Animais será despejada do imóvel que ocupa no bairro de Santa Cândida. Embora o aluguel seja pago com recursos de meia dúzia de abnegados, o proprietário quer o imóvel e com isto centenas de cães, gatos e outros pequenos animais, serão desalojados. O Estado do Paraná foi o primeiro jornal a denunciar, mas a imprensa nacional interessou-se também em pautar este assunto - que não deixa de ter aspectos graves, por comprovar a indiferença que o Poder Público trata instituições como a associação da qual Inge é a atuante vice-presidente. Embora desligada de partidos políticos - e, como milhões de brasileiros descrentes de promessas demagógicas de quem só usa instituições para se autopromover - a simpática taberneira de nosso Largo da Ordem - na qual exerce uma grande liderança - já foi procurada por pessoas que lhe deram uma sugestão que, se concretizada, vai trazer dores-de-cabeça aos ocupantes do Palácio 29 de Março e a outros setores do poder: despejados de seu abrigo em Santa Cândida, conduzir os 800 animais atendidos pela SPA em "desfile" pela Avenida Cândido de Abreu - no qual, por certo, não faltarão cartazes políticos. Inge, preocupada com o futuro dos animais, mas conservando seu germânico humor diz: - "Para quem faz uma "cachorrada" em não dar a menor ajuda à Sociedade Protetora dos Animais, será uma forma de devolver, com juros, esta cachorrada. Já imaginou os cães e gatos latindo e miando nos acarpetados gabinetes de quem poderia ajudar e nada fez?"
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
24
05/10/1990

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