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Aramis

Os 40 anos de Belarmino & Gabriela e outros artistas

Entre as efemérides de 1980, em termos de Paraná, está os 60 anos de Salvador Graciano - os 40 de vida artística da dupla Belarmino e Gabriela. Se alguém torcer o nariz, é bom entender que dentro de nossa cultura popular - e entenda-se, por favor, aqui a palavra em seu sentido antropológico - nenhuma outra dupla regional é tão profundamente identificada com o nosso Estado como este casal que, desde 1940 , vem se apresentando em programas de circos, pavilhões, clubes, não só nas cidades paranaenses, mas em Santa Catarina e mesmo , até há algum tempo,, no Interior de São Paulo. Salvador Graciano, o Belarmino, paranaense de Rio Branco do Sul e Júlieta Alves Graciano, 57 anos, a Gabriela, curitibana, se conheceram em 1937, quando Salvador já cantava na radio Paranaense, formando dupla com Chiquinho Montalto. Dois anos depois se casavam e, em 1940, iniciavam uma dupla que resiste ao tempo. Da Rádio Clube, passaram para a Guairacá - << a voz nativa da Terra dos Pinheirais >>, em cujos programas de auditório, transmitidos de suas instalações na Rua Barão do Rio Branco (hoje ocupadas pelas lojas Hermes Macedo) eram ídolos de milhares de ouvintes. A partir de 1950, começaram a fazer gravações de 78 rpm, com música do próprio Belarmino, passando por várias fábricas - RCA, Chantecler, Copacabana, CBS. Hoje, com Salvador um pouco afastado das lides musicais - mas ainda animando o << Forró >>, que seu filho mais velho, acordeonista e produtor, Ivam Graciano, mantém em Santa Felicidade, e programas, na televisão, a dupla merece respeito. Por isso, não poderia ser das mais felizes a idéia de Ivan em reprocessar as antigas gravações de seus pais, e lança-las num elepê intitulado << Sucessos de Nhô Belarmino e Nhá Gabriela >>, pela etiqueta BG, através da qual, Ivan já editou meia dúzia de elepês de artistas da terra e outro tanto em compactos. Curiosamente, uma das músicas mais populares do repertório de Belarmino, um precursor da preocupação ecológica dos dias de hoje - << Passarinho Prisioneiro >>, não é de sua autoria: Atribui-se como autor um desconhecido Luiz V. Filho, embora a mesma esteja tão identificada com Belarmino que, legitimamente, a ele pertence. Mas as demais composições reunidas neste elepê - exceto o clássico << Lua Branca >>, de Chiquinha Gonzaga (Francisca Edwiges Neves Gonzaga, 1847-1935), modinha composta em 1911, são de sua autoria. Assim em parceria com seu amigo de muitos anos, Moacir Lorusso, são << Minha Seresta >>, << Minha Saudade >>, << Não Posso Crer >> e << Vida de Pescador >>, com Marajó, divide << sou Feliz >> e com Agenor, << Arrasta o Pé >>. Mostrando suas habilidades como instrumentistas, na harmônia de 8 baixos, as faixas << Caprichosa >> e << Brincando Com os 8 Baixos >>. Só de Belarmino é << Mocinhas da Cidade >>, que há 4 anos foi gravada, com nova roupagem, pelo cantor luso-brasileiro Roberto Leal e que, como tema, está na Cabeça do produtor e exibidor Isidoro Lassalve, para um longa-metragem de temática rural que gostaria de ver realizado, se possível com Belarmino e Gabriela interpretando papéis centrais. *** A necessidade de repensar, em termos sociológicos e documentários, a música rural, tem mais um dado: no início do ano, a K-Tel, nova etiqueta no mercado, por iniciativa de seu diretor de marketing, Rodrigues Posso, montou um elepê intitulado << Sertão em Festa >>, que, apenas promovido através da televisão, vendeu 300 mil cópias em pouco mais de 40 dias. A capa do disco, com uma foto de um Mercedez-Benz esporte, ensinados por diversos cantores(as) rurais que participaram do disco, dá bem a dimensão dos novos tempos que chegaram na música dias sertaneja ou cabocla, mas que não deve se prender a adjetivações. Afinal, o mercado deste gênero é tão amplo - e generoso, perdoem o trocadilho - que só uma loja de Curitiba, a Ponzio Discos, na Rua Voluntários da Pátria, fatura tanto, que seu proprietário, Arlindo Ponzio, 37 anos, acumulou lucros que lhe permitiram, no ano passado se lançar na carreira de diretor-produtor, realizando << Caminhos Contrários >>. Enquanto os nossos compositores e intérpretes urbanos, alguns de talento, ainda não conseguiram romper as limitações regionais, as duplas de música rural, formadas por paranaenses ou brasileiros de outros Estados aqui radicados, estão hoje com gravações nacionais. Milionários e José Rico, campeões de vendas da Chantecler, com uma dezena de elepê gravados, começaram em Londrina - e sua primeira gravação, feita numa etiqueta alternativa, foi reeditada, alias pela K-Tel. Mensageiro e Mexicano, outra dupla que também desponta - e que no lp << Sertão 80 >> aparece com a divertida << Espinho na Cama >>, nasceu em Assis Chanteaubriand, mesmo município de onde apareceu Paulo de Paula, que catapultuado com sua música << Quarto de mansão >>, se tornou um dos campeões de vendas da RGE. Toni Silva, << O Gaúcho de Pelotas >>, produz programas de rádio em Curitiba e faz agora também novo disco pela Chantecler, assim como Flor da Mata e Natal também são artistas locais. Pedro Ramires e Rosenildes a Arati, também se dividem entre rádio, forró e discos, enquanto de Apucarana saiu a dupla Simonal e Simonel - dentro da marketing adotado pelas gravadoras de utilizar nomes bem apelativos as suas duplas (já apareceram Franco & Montoro, Dom Monteiro & Lobato, Conselheiro e Ouvidor e fala-se até em João Baptista & Figueiredo). Armando Heyn, 36 anos, que após divulgar a Continental por 16 anos, com rara eficiência, passou agora para a K-Tel, está trabalhando na produção de discos com músicos e compositores regionais, procurando aqueles que tenham melhores condições de atingir faixas mais amplas. Paralelamente, Armando também vai produzir o lp de Beppi e seus solistas, na linha instrumental. Beppi (Giuseppe Bartolo) é um dos raros casos de instrumentista que conseguiu fazer sólida fortuna graças à música: pistonista que aqui chegou no início dos anos 40, formou um conjunto que, resistindo a música enlatada, ao rock, pop, discotheque, consegue sempre bons contratos. Agora, pela primeira vez, vai gravar um disco num esquema obviamente comercial, mas que valerá ao menos como registro.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
1
07/05/1980

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