Login do usuário

Aramis

Oliver, um americano inquieto que gosta de temas polêmicos

Desde que "JFK - A Pergunta que não quer Calar" estreou em Los Angeles em dezembro de 1991, o que seu roteirista-diretor Oliver Stone já falou sobre esta revisão histórica dos acontecimentos ligados ao assassinato do presidente John Fitzgerald Kennedy já dariam para a edição de vários volumes. Afinal, antes mesmo do filme ser visto, - revistas e jornais de prestígio internacional e mesmo historiadores e políticos, contemporâneos de JFK, começaram a discutir - e criticar - o filme que não aceita as versões oficiais da morte do 35º presidente americano (*). Sua viúva, Jacquie O., nem quis ver o filme, o mesmo acontecendo com a clã Kennedy - exceto o senador Edward, o último remanescente da dinastia que pensava em se alternar no poder, se os irmãos John e Robert Kennedy não tivessem sido assassinados. Oliver Stone, um americano grandalhão, que prefere roupas informais - camisas coloridas, jeans, e que se revelou nos anos 80 como um dos mais lúcidos e corajosos cineastas americanos - numa linha muito próxima a do grego-francês Costa Gavras ("Z", "Estado de Sítio", "Desaparecido" etc.), não se recusou a enfrentar fusos horários e, em menos de um mês, viajar por países europeus, vir a América do Sul - Rio, entre domingo a quinta-feira, agora em Buenos Aires, seguindo depois para outras capitais - para falar sobre o seu filme e, principalmente os personagens reais e os muitos fatos nebulosos que, em 29 anos, ainda não foram esclarecidos. Apesar de todas as matérias publicadas nos últimos dias - com diferentes interpretações - muitos espectadores, especialmente os mais jovens, ainda poderão terem dúvidas em relação ao que assistirão em mais de 180 minutos nas telas dos cines Astor e Cinema I - nos quais "JFK - A Pergunta que não quer Calar" está em exibição há dois dias, em horários especiais. No Rio de Janeiro, hospedado no Rio Palace Hotel, Stone, com paciência - embora as vezes revelando cansaço e até uma ameaça de mau humor atendeu jornalistas de vários Estados, em entrevistas individuais ou pequenos e selecionados grupos. Assim, mesmo com toda a competitividade - e tentativa de personalizar cada matéria - impossível deixar de haver uma certa repetição no que Stone falou. "Veja", com matéria de 5 páginas a cores, enviada por Elio Gaspari, de Nova York, na edição 1.220 (5/2/92), fez aquilo que "Newsweek" e "Time" (dezembro) já haviam explorado: a partir do gancho do filme esmiuçaram os aspectos políticos com dezenas de informações adicionais relacionados a múltiplos aspectos do assassinato. Aqui, aproveitamos alguns trechos da entrevista (55 minutos) feita por Tablóide, na manhã da última terça-feira, no Rio de Janeiro, com Oliver Stone, em que respondeu exclusivamente perguntas sobre este seu filme. Não houve tempo - nem condições - de indagar sobre as suas outras realizações e mesmo projetos - embora, ele tenha encontrado tempo para visitar a Favela da Rocinha, ao lado do produtor o asiático Alex Ho e de seu amigo, o roteirista Joe Hyanes - que o acompanham nesta viagem, o que já levou a apressadas notícias - que ele não confirmou - de que seu próximo filme, "Surrender", seria rodado no Brasil. Ao contrário, quando, na entrevista, um repórter insistiu em saber se o fato do golpe de 1º de abril de 64 ter ocorrido seis meses após o assassinato de Kennedy - e hoje, comprovadamente, saber-se da participação de Washington na derrubada de João Goulart - não poderia motivá-lo a fazer um filme a respeito, Stone, elegantemente, nem se deu ao trabalho de responder. Nota (*) Um exemplo de que a imprensa nacional também começa a se divertir em relação à "JFK": "Folha de São Paulo", edição de quinta-feira, 6, dedicou a capa da "Ilustrada" para uma negativa crítica do articulista Eugênio Bucci e com um texto em que David Drew Zing, fotógrafo norte-americano radicado há quase 30 anos no Brasil, chega quase à ofensa pessoal contra a clã Kennedy.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
2
09/02/1992

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br