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Aramis

Olhar de Orlando para as imagens do mundo cotidiano

O olhar-camera de Orlando Azevedo não para nunca de colher imagens do cotidiano. Um dos mais valorizados fotógrafos contemporâneos, com uma obra que já se espalha em dois livros ("Foz do Iguaçu", 1990; "Fitas e Bandeiras Wenski", 1988), presenças em prestigiosas revistas nacionais e internacionais e citações em obras referenciais editadas no Exterior, Azevedo foi o único fotógrafo do Paraná selecionado para o belíssimo calendário editado pela Associação Brasileira dos Fotógrafos de Publicidade. Paralelamente, a edição da revista "Íris" (janeiro/fevereiro/92), dedicada a Ecologia, lhe dedicou uma página para três fotos de Orlando Azevedo - simbolizando os elementos da terra, mar & ar. Enquanto alguns de seus trabalhos - ao lado dos colegas João Urban, Vilma Slomp, Nego Miranda e Aurélio Vereelho - após a exposição "Tiragem Limitada" (promovida pela Casa da Imagem, há algumas semanas) serão levados a Galeria Collectors, dirigida por André Boccato (ex-diretor do MIS-SP), na capital paulista, Orlando trabalha em dois novos e fascinantes projetos: "Erótica" e "Jardim de Anões". De mais de 400 fotos com modelos profissionais, explorando com extrema sensibilidade, bom gosto e estética as nuanças do corpo feminino, Orlando selecionará as 50 melhores imagens dentro de quatro grupos temáticos: comportamento, máscaras, contornos e pelos, poros e pentelhos. - "É um trabalho que me fascina há seis anos e que venho realizando lentamente, com imagens das mais trabalhadas" - explica, sem pressa de ver o trabalho editado, "pois desejo que o mesmo seja o mais elaborado possível". A sensibilidade que o faz saber captar do cotidiano as imagens que ganham vida e beleza - como fez há alguns anos ao dar uma notável vida colorida a sucata de uma antiga fábrica de bandeiras e fitas no alto da Rua Ubaldino do Amaral (que hoje abriga várias escolas de línguas) leva Orlando a se lançar, também dentro de um trabalho lento e cuidadoso, a outro projeto fascinante: "Jardim de Anões". Ao longo dos últimos anos, quase sempre em companhia de seus filhos André, 10 e Rafael, 6 (a mãe é a também premiada fotógrafa Vilma Slomp). Orlando tem percorrido, principalmente nos fins de semana, a cidade - mais especificamente no bairro do Bom Retiro, "no qual sempre tive uma ligação afetiva e geográfica" - colhendo em sua Nikkon fotos de anões de jardins. - "Acabei descobrindo toda uma forma de cultura própria representada por estes objetos de decoração geralmente em cerâmica, mas com características próprias" - explica. Assim, os anões em seus diferentes formatos - "alguns gnomos que apresentam uma incrível simpatia, outro traduzindo fisionomias duras e punitivas, influências da cultura céltica, trazidas e adaptadas aos espírito dos imigrantes, especialmente das famílias alemãs que sempre os colocaram em jardins, na época em que uma Curitiba menos poluída e mais humana possibilitava residências cercadas de espaços verdes e florescentes". Fotografados em cores, para um livro que, pensa Orlando, será também em formato reduzido, a idéia começou a crescer nos últimos meses e deverá resultar numa obra original sobre todos os aspectos. O olhar do mundo de cada dia Relacionadíssimo na área fotográfica no Brasil e Exterior - resultado de suas constantes viagens a Europa e Estados Unidos, Orlando também se preocupa em documentar imagens de colegas fotógrafos. No entardecer do último dia 31 de dezembro, em férias no Rio de Janeiro, decidiu fotografar as ofertas para Iemanjá na praia de Copacabana e ali teve uma grata surpresa: quando fazia flagrantes de algumas ciganas, viu seus amigos Evandro Teixeira (do "Jornal do Brasil") e Cristiano Mascaro, acompanhando o internacionalmente consagrado Sebastião Salgado. - Foi um momento inesquecível. Eu já conhecia Salgado de Paris, quando estive em sua casa, assim como na Magnum, a mais prestigiosa agência de fotografias do mundo e que ele atualmente preside. Assim, Orlando não só reviu os amigos como documentou a passagem de Salgado, que no dia 1º embarcou para Foz do Iguaçu, onde com sua esposa e filhos ficou por quatro dias. "Sem câmeras, sem fotografar, apenas descansando". Nascido na Ilha Terceira, no arquipélago de Açores, 43 anos a serem completados no dia 12 de maio, em Curitiba desde os anos 60 formado em Direito mas que nunca exerceu a profissão, Orlando foi o idealizador, teórico e baterista de um dos mais importantes grupos de renovação da música elétrica no Paraná - a Chave (1965-1977), mas a paixão pela fotografia o levou a deixar a música pelas imagens. Com sua esposa e sócia Vilma Slomp, dono de um dos mais valorizados estúdios de fotografia do Sul - atendendo importantíssimos clientes - Orlando está sempre inquieto, na busca de novas imagens e projetos. Suas fotografias - prefere o preto e banco, embora também trabalhe com as cores - espalham-se hoje em várias partes do mundo e para ele, "o importante é saber ver e sentir aquilo que uma imagem propõe e que pode ser captada". Melhor do que as palavras, suas fotos falam por si mesmo. LEGENDA FOTO 1 - Em 31 de dezembro, nas areias de Copacabana, três mestres da fotografia - Evandro Teixeira ("Jornal do Brasil"), Sebastião Salgado (ao lado de Satiko, estilista de modas) e Cristiano Mascaro - flagrados por Orlando Azevedo. LEGENDA FOTO 2 - A poesia na miséria: a menina encontra e veste o traje de noiva quando remexia num dos lixões da periferia. (Foto de Orlando Azevedo, 1981). LEGENDA FOTO 3 - As formas femininas num olhar novo através da imagem de Orlando Azevedo: uma das fotos da série "Erótica" - do projeto de um novo livro - selecionado para ilustrar o calendário editado pela Associação Brasileira dos Fotógrafos de Publicidade. LEGENDA FOTO 4 - A Terra (um tronco), o mar (o peixe morto) e ar (a ave abatida): imagens contundentes fotografados por Orlando Azevedo e que ilustram a edição especial de Ecologia, lançada pela revista "Íris" neste mês.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Nenhum
1
16/02/1992

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