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O teatro no Amazonas

MANAUS - Entre os 12 grupos de teatro amador que, enfrentando múltiplas dificuldades, tentam fazer teatro no Amazonas, o Experimental do SESC, dirigido pelo escritor Márcio Souza, hoje em nome nacional graças ao sucesso de "Galvez", o Imperador do Acre (Editora Brasília, 4ª edição, mais de 40 mil exemplares vendidos) é um dos mais vigorosos de toda a região. Sexta-feira, à noite, numa pequena sala do prédio do Sesc - o auditório-teatro ainda está em obras - 70 dos participantes da XI Conferência Nacional de Jornalistas, tiveram oportunidades de assistir, em primeira apresentação, uma leitura dramatizada de "O Pequeno Teatro da Felicidade", último texto de Márcio. Apesar do despojamento total da leitura - sem cenários, guarda-roupa e música, que, farão parte da montagem, obviamente quando ela estrear, dentro de 3 semanas, "O Pequeno Teatro da Felicidade" foi a mais agradável surpresa cultural que os profissionais da comunicação poderiam aqui encontrar. Vigoroso, crítico e envolvendo o espectador num clima emocionante, o texto de Márcio Souza, ambientando no imaginário reino de Vallachia, no ano de 1530, tem uma força dramática só comparável a "Ponto de Partida", de Gianfrancesco Guarnieri, na dramaturgia brasileira. Será, realmente, uma pena que este espetáculo fique restrito a Manaus, pois, a exemplo da peça de Guarnieri - um dos maiores sucessos da temporada 1976/77, no eixo Rio/São Paulo, "O Pequeno Teatro da Felicidade" justifica sua encenação em qualquer cidade. O elenco de amadores - jovens estudantes de Manaus, como Moacir Bezerra, Maria Luiz de Faveri, Custódio Rodrigues, Gerson Albano, José Corrêa, Stanley Whibbe e Herbert Braga, mostra uma garra e sinceridade, nos difíceis personagens, raras de se ver no teatro não profissional (e mesmo neste). Marcio Souza, 30 anos, ex-estudante (até 1969) de ciências sociais na Universidade de São Paulo, ex-crítico de cinema ("O Mostrador de Sombras", 1968, edição esgotada), ex-cineasta - vários documentários e filmes publicitários, um longa-metragem ("A Selva", inspirado no romance de português Ferreira de Castro), começou a pesquisar elementos para "Galvez, o Imperador do Acre", em 1972. Sinceramente, faz questão de explicar "que não se trata de um romance histórico mas sim de um romance com alguma coisa de história". Satírico, inteligente, original, "Galvez", lançado no ano passado, em modesta edição regional, está há 17 semanas na lista dos best-sellers e obteve grande cobertura da imprensa nacional. Nos próximos dias, sairá novo livro de Marcio ("A Expressão Amazonense - Do Neolito a Sociedade de Consumo", Editora Alfa/Omega, São Paulo), ensaio, que mostra o ecletismo do jovem autor, que tem várias peças, como "As Folias do Latex", "A Paixão de Abujircaba" (já encenadas pelo Teatro do Sesc) e as proibidas "Zona Franca, Meu Amor" e "Jurupari, A Guerra dos Sexy". O Teatro Experimental do Sesc é um dos 12 grupos amadores de Manaus - cuja atuação é variável, de acordo com as possibilidades de seus integrantes. Nesta semana, no Teatro Amazonas, estréia uma montagem local, "O Retrato de Camarin", escrita e dirigida por Alvaro Braga. Outro grupo local com bastante atuação é o "Sangue Novo", dirigido por Orlando Farias. Não são muitas as salas de espetáculos da cidade: afora o Amazonas e o auditório - de - bolso do Sesc, ainda em obras, há apenas os auditórios do Colégio Maria Auxiliadora (600 lugares) e da Escola Técnica (300 lugares). Uma espécie de Érico da Silva da região amazônica, Moacir Andrade, 50 anos, 25 de pintura, quase dois metros de altura, exibiu cinco de suas telas monumentais - numa sala luxuosa do teatro Amazonas, onde os jornalistas participantes da 11ª Conferência foram recebidos com um coquetel oferecido pelo Governo do Amazonas. As telas de Andrade são tão grandes - média de 2 x 8 metros - que Pedro Amorim, diretor do teatro, teve que recorrer ao corpo de bombeiros para faze-las subir ao 2º andar do prédio e poder exibi-las. Um livreto colorido, de 20 páginas, prefácio de Jorge Amado, dezenas de citações de críticas, relata as atividades de Andrade, incluindo mais de 60 individuais, 70 coletivas e relatando até a bibliografia de todas as notícias publicadas a seu respeito. Pai de 11 filhos, vendendo cada painel gigante entre Cr$ 100 a Cr$ 300 mil (e já os tem em dezenas de entidades, ministérios, museus e pinacotecas), Moacir Andrade, segue nesta semana para o Suriamê, levando suas telas enormes, só que enroladas (pois senão teria que contratar um barco para transportá-las) e depois vai a Paris, onde terá a ajuda do colunista Edgard Schneider, da influente "7 Jours" - que esteve em Manaus há pouco mais de um mês, dedicando 8 páginas de sua revista à estadia (edição de 16/22 de julho/77), de quem ficou amigo recentemente. Dono absoluto do mercado de artes plásticas em Manaus - e com seguidas mostras em outros países - Moacir Andrade nunca se preocupou em trazer suas telas coloridas, imagens de grande efeito pictórico ao Sul, embora, orgulhe-se de apontar o general Isaac Nahum entre os paranaenses que possuem suas telas. Andrade doou um quadro, dos menores (2 x 2 metros), que faz para a Federação Nacional dos Jornalistas Profissionais, em sua sede, em Brasília.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
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31/08/1977

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