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Aramis

O supershow & seus problemas

Só quem acompanhou nos bastidores a única apresentação d Tropical Jazz Rock (Ginásio do Círculo Militar do Paraná, das 22:15 às 2 da madrugada de ontem), pode sentir o quão difícil é a realização de um super-show como este que somente a sublime loucura do produtor Willi Butika, um dos (poucos) brasileiros que assistiram, em 1969, ao Woodstock I, em Nova Iorque, se atreveria a realizar em nosso País. Do desaparecimento de um dos 3 caminhões da empresa "Vai Vai Som", entre sexta-feira/sábado, após o show em Brasília - até o roubo da jaqueta de Egberto Gismonti, nos camarins do ginásio do Círculo Militar do Paraná, terça-feira, foram os mais diversos problemas que exigiram soluções de última hora. Graças à boa vontade da Prefeitura de Curitiba, através de seus vários setores, especialmente do chefe-de-gabinete Nireu Teixeira e o diretor do DRPP. Caio Soares, foi possível montar o palco nas dimensões necessárias para um espetáculo em que o equipamento de som e luz exerce fundamental função. Entretanto, a montagem desta parafernália atrasou o início do espetáculo, provocando irritação do público - e mesmo a invasão do ginásio, de forma que mais de mil das 3.500 pesoas que assistiram a Egberto Gismonti e Academia de Danças, na primeira parte e John McLaughlin e sua Eletric Band, a partir das 23 horas, não pagaram osingressos de Cr$ 200,00 a Cr$ 400,00 - resultado que de um custo de produção de Cr$ 600 mil, houve prejuízo de mais de Cr$ 300 mil. Afinal, a Rudy Blue, responsável por esta tornée por 7 capitais brasileiras - ontem à noite, o espetáculo foi em Florianópolis, amanhã será em Porto Alegre - somente contou com as rendas de bilheteria e um merchandising para cobrir um custo imenso - incluindo também - cerca de 60 pessoas, além de equipes extras, contando até segurança pessoal a McLaughhhlin e seus músicos. Coordenando localmente a produção, Jodésio de Freitas, 29 anos, já com uma boa experiência em shows anteriores, teve uma prova de fogo. Apesar dos problemas que fugiram de sua responsabilidade, mostrou ser um dos poucos executivos, na área, capazes de suportar tal tipo de promoção. Analisar, em termos artísticos o "Tropical Jazz Rock" é difícil: trata-se de um espetáculo de dimenssões tão imensas que praticamente se perde a oportunidade de se ouvir o virtuosismo dos músicos. Egberto, que após "solo", gravado há 3 meses em Oslo, acaba de fazer em Stutgart, RFA, um novo lp, com o percussionista Nana e uma orquestra sinfônica, é um instrumentista-compositor que pode mostrar melhor seu talento - e dos extraordinários músicos que o acompanham - em salas de melhor acústica do que um ginásio, que, por melhoers equipamentos que se instalem, não possibilita a transmissão de todo o feeling e carga energética que faz com que venha, há 3 anos, sendo admirado internacionalmente. Inclusive seu lp "Danças das Cabeças" (ECM/Odeon, 1977, editado no Brasil em 1978), foi premiado pelas mais importantes publicações do mundo, como "Stereo Review", "Audio Fidelity", além de merecer o "Grammy" o Oscar do disco - na Alemanha. Já o som de McLaughlin, um guitarrista seguro, uma carreira internacional é dos mais pesados, especialmente levado a grandes espaços - e destinado a um público jovem, que espera curtir apenas o rock. Assim, o "Ttrpical"2 foi muito mais rock do que jazz - apesar da indiscutível categoria de Gismonti, McLaughlin e suas bandas. Na qualidade de executivos da CBS, gravadora que tem John McLaughlin como artista exclusivo, Luiz Branco, gerente de marketing, e Arlindo Coutinho, chefe do setor internacional, acompaham a excursão. Luiz Branco, um experiente homem de promoções, que vem estruturando um setor de shows e espetáculos, não conseguiam entender o misterioso desaparecimento do caminhão que transportava o equipamento de som entre Brasília e Rio de Janeiro - o que obrigou o adiamento do concerto de sábado para domingo, no Maracanãzinho. Coutinho chegou a alugar um helicóptero, percorrendo as rodovias que ligam Brasília - Rio, em busca do veículo - que no final foi localizado numa garagem, numa estrada parlela. Até ontem, ao meio-dia, não havia explicações satisfatórias a respeito - e o produtor Willi Butika já está acionando a transportadora em Cr$ 3 milhões. Branco, indagado por McLaughlin - proprietário do equipamento (felizmente recuperado intacto, não teve outra resposta, senão usar o bom homor: "O caminhão foi sequestrado por um grupo de terroristas neo-zelandeses". Com muito fair-play, MmcLaughlin sorriu e não fez mais comentários. Profissionalmente, no domingo, apresentou-se com o equipamento improvisado - conseguido à ultima hora - mas assim mesmo fez um belo espetáculo, no Rio e em Curitba . "Aqui, até agora, foi onde encontramos as melhores condições", comentava Mauro Senise, flautista, saxofonista e clarinetista do grupo Academia de Danças. Senise, aliás, teve a alegria de encontrar após o snow o seu primeiro professor de flauta, Norton Morozowicz, que foi aliás, quem lhe vendeu o seu primeiro instumento. Uma flauta que também foi onde Norton, hoje primeiro executante deste instrumento na Sinfônica Brasileira, solista de méritos reconhecidos nacionalmente, recebeu suas primeiras lições - e que Senise conserva até hoje. Falando em Norton, hoje à noite ele rege a orquestra de câmara no Teatro de Blumenau, apresentando-se amanhã em Joinville. Formada por alguns dos melhores instrumentistas do Paraná, esta nova orquestra tem merecido entusiásticos aplausos.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
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Tablóide
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24/05/1979

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