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Aramis

O supershopping de Pinhais (III[)]

A decisão de um poderoso grupo empresarial, com participação de capital estrangeiro (C&A) em fazer um investimento de Cr$ 500 milhões no município de Piraquara - a construção do maior centro comercial do Sul do Brasil - não deixa de ser a comprovação de que a região metropolitana de Curitiba é hoje, comprovadamente, área atraente para grandes negócios. Assim, mais do que apenas um grande empreendimento comercial, o shopping center que será inaugurado dentro de 20 meses há apenas 10 km de Curitiba, com área inicial de 50 mil metros quadrados - mas crescendo para 80 mil até 1983, transcende ao simples registro da área comercial para justificar notícias mais aprofundadas. Principalmente, pelas implicações que traz e natural polêmica. xxx O empresário Odir Santos, 48 anos, próspero negociante na área de refrigeradores de ar, e um dos proprietários da área de 33 alqueires vendida ao grupo que está iniciando a construção do shopping, não apenas foi o vendedor do imóvel como está, desde janeiro deste ano, sendo uma espécie de executivo da Mondec - nome da firma que incorporará o empreendimento. De bom conceito comercial na praça, dirigente do leonismo paranaense, filho de uma família tradicional, Odir tem uma série de sólidos argumentos para rebater críticas que o empreendimento começa a provocar, principalmente junto aos setores de planejamento, que levantam restrições a política de levar para áreas distantes os grandes centros comerciais - embora, nas maiores cidades do mundo ocidental, os grandes grupos comerciais assim venham procedendo há vários anos. xxx Jornalisticamente, vamos acrescentar hoje mais algumas informações sobre este empreendimento, que, pelo seu vulto e [conseqüências] que trará a médio e longo prazo a toda cidade, justifica o espaço a ele dedicado nesta semana. De princípio, é bom esclarecer: o grupo econômico tem o nome de Mondec, formando pela junção das duas principais corporações que o formam: a Mondial, maior exportadora de manufaturados do Brasil (e controlada pela multinacional C&A, com matriz na Holanda) e a Interdec, outro poderosíssimo grupo econômico - que tem empreendimentos em vários setores. O arquiteto William Stephanski, norte-americano de origem polonesa, desde, 1973 radicado no Brasil, é um dos principais executivos do empreendimento, estando constantemente em Curitiba. Só que até agora, procurou cercar o negócio da máxima descrição - prometendo para dentro de um mês a revelação dos detalhes, inclusive do projeto definitivo da obra. xxx A área adquirida, 33 alqueires, localizada entre dois dos grandes loteamentos populares de Piraquara - Vila Amélia e Maria Antonieta, mas margens da Avenida Castelo Branco e PR-415, pertencia aos irmãos Odir e Nelson Santos, mais o advogado Antônio Leite Siqueira (da Secretaria de Recursos Humanos). Uma gleba remanescente de um imenso latifúndio, que no século passado foi do fazendeiro Gerônimo Santos, tronco de grande família curitibana, parte da qual possui ainda áreas no município de Piraquara. xxx O prefeito de Piraquara, Luís Cassiano de Castro Fernandes, 32 anos, não só recebeu o empreendimento de braços abertos - ao contrário das imposições e dificuldades que o grupo encontrou em Curitiba, em 35 áreas pesquisadas, como, através de seu assessor jurídico, advogado Roberval Mendes, 40 anos, garante que a autonomia municipal lhe deixa totalmente despreocupado frente a quaisquer argumentos que possam ser levantados. Político jovem e que, segundo consta, tem se revelado bom administrador, Luís Fernandes está cansado de ver Piraquara como filho enjeitado na região metropolitana, "relegado à condição de cidade-dormitório, vivendo de migalhas oficiais, sem condições de maior desenvolvimento". Em compensação, segundo argumenta seu assessor jurídico, Roberval Mendes, em Piraquara se concentram os mananciais que garantem água a Curitiba, razão mais do que suficiente para a região merecer maior atenção do governo do Estado. Uma das primeiras providências do prefeito ao assumir o cargo foi disciplinar o uso do solo, acatando sugestões visando, principalmente, a preservação dos recursos hídricos mas, em contrapartida, dispondo-se a cobrar rigorosamente os impostos os grandes proprietários de loteamentos na área - alguns dos quais de personalidades conhecidas, incluindo o prefeito de Curitiba, Saul Raiz, resultando inclusive pitoresco incidente ocorrido em reunião pública - e na época registrado em O ESTADO. Assim, em termos urbanísticos e de Planejamento, a Prefeitura de Piraquara só vê vantagens no empreendimento: abertura de milhares de empregos, criação de áreas de recreação, valorização imobiliária dos terrenos vizinhos e, naturalmente, arrecadação de impostos que reforçará os seus magros cofres (o município sem indústrias vive em constantes dificuldades). Até hoje, Piraquara tem a imagem de ser apenas o município onde estão presídios, leprosário e escolas correcionais. Assim, como registramos em nossa primeira notícia a respeito (O ESTADO, 17-8-78), a construção do shopping-center de Pinhais traz, ao lado dos aspectos econômicos, características psicológicas capazes de permitir elevação do status de sua população. Há, evidentemente, argumentos de técnicos do maior prestígio nacional na área de planejamento, inclusive do arquiteto Jaime Lerner, em relação aos aspectos que possam ser negativos, em termos urbanísticos, na construção de centros comerciais com mais de 10 mil metros quadrados na periferia. O debate a respeito poderia até se tornar salutar e estimulante, mas uma coisa é certa: a decisão do grupo Mondec é irreversível e nisto tem o total apoio do prefeito Luís Cassiano de Castro Fernandes. O qual, aliás, vem se movimentando para conseguir amplos recursos destinados a muitas obras de desenvolvimento do município, inclusive a implantação do Projeto Cura, saneamento básico e construção de grandes lagos nas áreas próximas à Penitenciária Central do Esta - na tentativa de solucionar problemas de enchentes nas áreas mais baixas, às margens de rios que cortam o município.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
4
20/10/1978

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