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Aramis

O som negro, do Soul ao rip nova-iorquino

Exemplos diversos da música pop, entre os anos 60/80, seja com reedições ou novidades, estão no último suplemento da RCA, hoje oficialmente BMG/Ariola, com muito oxigênio em seu amplo elenco nacional e internacional. Começa, por exemplo, trazendo um novo elepê de Wilson Picektt ("American Soul Man"), bastante representativo do cantor que transformou o grito alongado de "Hey Jude", "numa punhalada lancinante", como observaria Tarik de Souza. Na verdade, virada a página neoclássica progressiva do rock 70, as feras do soul estão voltando. Entre elas, Pickett, 47 anos, que começou em 1959, com o grupo Soul Falcons e nesses quase 30 anos de estrada tem feito várias experimentações e acumulado uma longa discografia - no qual estão sucessos como "Mustang Sally", "Funky Broadway", "634-5789", "Ninety-nine and a Half", entre outros. E neste retorno - seu primeiro elepê para a Motown - tenta uma travessia do rhythm & blues - o blues eletrificado dos anos 60 - para a era do "synclavier" (banda eletrônica e sintetizador). Embora não seja o mesmo vocalista do início de carreira, dos tempos dos Falcons, este contemporâneo de Ottis Redding e Marvin Gaye, amadurecido, retorna com músicas como "In the Midnight Hour", de sua autoria, no qual mostra que não perdeu a classe. Se Pickett é um veterano, Kool Moe Dee, de quem a RCA agora lança o segundo elepê ("How Ya Like Me Now") é um ilustre desconhecido, embora na segunda semana de janeiro tenha circulado por São Paulo, fazendo shows na Sociedade Esportiva Palmeiras. Com 25 anos, o Kool Moe Dee integra-se ao chamado movimento "hip-hop", modismo americano também chamado de "rap" e que tem alguns outros artistas começando a chegar as nossas praias - como o grupo Fat Boys (elepê "Crushin", lançamento da Polygram), Run DMC, Kurtis Blow, Grandmaster Melle Mel, L. L. Cool, Publicd Enemy e T. La Rock. Um dos jovens estudiosos (sim, já há especialistas neste gênero emergente), Carlos Albuquerque, diz que o "rap é o parente primeiro-mundista do "toast", canto quase falado dos disc-jockeys jamaicanos, que dessa forma animavam os ambientes por onde passavam com seus caminhões de som". Assim, Kool Moe Dee, se apresenta apenas com ajuda de um disc-jockey (de nome Easylee), a frente de uma parafernália de muitos decibéis. O "rap" cresceu nestes últimos 4 anos nas ruas de Nova Iorque, onde o modismo "hip-hop" dita hábitos, linguagem e até os trajes de uma geração de jovens negros e brancos. O próprio Moe Dee diz que "é a conjunção da rap music, da break dance e das grafitagens nos muros". Neste seu segundo elepê, Kool Moe Dee mostra fluência vocal, fazendo a abertura da faixa título do elepê com um trecho "sampleado" da voz de James Brown. Enfim, um produto de consumo, dentro de uma linha descartável. O Hollywood Rock, que abriu o ano em termos internacionais, provocou que vários grupos tivessem discos antigos aqui editados. É o caso do conjunto escocês Simple Mind, um dos participantes do evento, que tem agora sua discografia mais atualizada pelo lançamento de seus elepês de 1982 e 1983, "New Gold Dream" e "Sparkie in the Rain". Até agora, do grupo só existia nas lojas "Once Upon a Time" (1985) e o duplo "Live in the City of Light" (1987). Trazendo na capa um crucifixo e temas religiosos nas letras, "New Gold Dream" faz parte de uma fase em que alguns grupos (como o Van Der Graaf Generator) voltavam-se para temas espiritualistas. Na época, um dos destaques do Simple Mind era o baixista Derek Forbes, especialmente na faixa "Colours Fly and Catherine Wheel". O tecladista de jazz Herbie Hancock faz uma rápida aparição, no solo de sintetizador de "Hunter and the Hunted" (se não estivesse creditado, possivelmente passaria despercebido). "Sparkle in the Rain" já é de outra fase - que sucedeu a temporada que o Simple Mind abria shows para o grupo U2. Assim, ao invés do estilo "discoteque", ouve-se uma batida mais vigorosa, com destaque de guitarras e teclados. Aliás, Steve Lillywhite, produtor do U2 na época, foi quem cuidou da produção de "Sparkle...", no qual há inclusive uma regravação de "Street Hassle", antigo êxito de Lou Reed. Dos novos grupos que chegam neste pacote BMG/Ariola, o mais interessante é o The Golden Palominos, liderado pelo baterista Anton Fier. Uma geléia geral que mistura do blues ao tango ("Buenos Aires"), que pelo seu ineditismo, atraiu bons músicos. "Visions of Excess" conta com a participação especial de Michael Stipe, John Lydon, Jack Bruce, Chris Stamey, Richard Thompson, Bill Laswell, Bernie Worrel e a ótima Carla Bley - entre instrumentistas da geração dos anos 80.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
12
21/02/1988

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