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Aramis

O som das imagens com a inspiração de Wagner

A situação crítica do cinema brasileiro, com a quase completa paralisação das atividades cinematográficas e problemas diretos ou indiretos que afligem toda a comunidade artística estarão em discussão em Gramado. Não só nas reuniões em que jornalistas, cineastas, artistas, técnicos, produtores, exibidores etc., examinarão os filmes em competição, mas, principalmente, nos debates paralelos e mesmo em conversas informais. A exemplo dos festivais anteriores - e de outras mostras de cinema (no Brasil ou Exterior), nas mesas de bares ou restaurantes, o encontro que um evento como este, que desde o início dos anos 70 é proporcionado pela Prefeitura de Gramado, faz com que se analise os caminhos e descaminhos de nosso cinema. Esdras Rubin, secretário de Turismo e presidente da comissão organizadora, conseguiu viabilizar o festival dentro dos recursos possíveis (o custo hoje passa dos NCz$ 500 mil), reduzindo ao máximo as despesas - "mas sem prejuízo da qualidade", explica. Fundamental para que o evento acontecesse foi a integração, pela primeira vez em 17 anos, do governo do Estado, com a participação do Conselho de Desenvolvimento Cultural - que corresponde a Secretaria da Cultura no Rio Grande do Sul. xxx Uma das sessões de debates destinadas a ter maior calor nos debates - contrastando com o clima gelado que faz na cidade serrana - será sobre a participação da imprensa no cinema. Colocações de parte a parte - de um lado crítico que tem sido rigoroso com filmes recentes (exemplo: "Kuarup", que teve bolas pretas quase que por unanimidade) e, de outro lado, os realizadores, que enfrentam dificuldades. A questão é antiga, mas sempre justifica (re)apreciação. Mesmo não programada oficialmente - ao contrário do que aconteceu em Curitiba, a I Mostra do Cinema Latino-Americano e, no ano passado, no Festival de Brasília, um encontro de compositores de trilhas sonoras pode acontecer, mesmo que informalmente. Afinal, a criação musical tem evoluído no cinema brasileiro, havendo hoje já compositores e arranjadores que sonham em viver apenas da realização de sound tracks, como é o caso de David Tygel (integrante do grupo boca Livre, agora reaparecendo), premiado com o Kikito de melhor trilha sonora, no festival de 1986, por sua trilha de "O Homem da Capa Preta". No ano passado, houve duas premiações nesta categoria: Hermelino Neder por ("A Dama do Cine Shangai") e Turíbio Santos e Roberto Gnatalli (trilha adaptada, por "Pagu"). Este ano, entre os concorrentes fortes está Wagner Tiso, pela sua belíssima trilha de "O Grande Mentecapto", filme adaptado da obra de Fernando Sabino. Cinco dos temas desta trilha já podem ser conhecidos através do elepê "Cine Brasil" (Polygram, maio/89), no qual Wagner reuniu alguns dos seus melhores trabalhos para o cinema, com temas de "Inocência", "Besame Mucho", "Tanga Deu no New York Times", "Ele, o Boto", "Os Deuses e os Mortos", e, naturalmente, "Coração de Estudante", parceria com Milton Nascimento, do documentário "Jango", de Silvio Tendler. Milton, aliás, vocaliza não só "Coração de Estudante", como "A Matança do Porco", gravação original feita em 1972, quando Wagner integrava o Som Imaginário - e o tema foi aproveitado por Ruy Guerra na trilha de "Os Deuses e os Mortos". Na edição feita agora, foi aproveitado o fonograma original, com o falecido maestro Lindolfo Gaya (1921-1987), fazendo o arranjo e a regência. Esmeradíssimo, Wagner Tiso tem desenvolvido belíssimas trilhas sonoras e agora a edição deste belo álbum é a oportunidade de se ter os temas centrais. Por exemplo, "Letreiro", "A Freira e o Cangaceiro" e "Tema de Olga", de "Besame Mucho", filme de Francisco Ramalho Jr., são antológicos. Para Walter Lima Jr., seu amigo há muitos anos, Wagner criou as trilhas dos filmes "Inocência" e "Ele, o Boto", que permaneciam inéditas em disco. Agora, para "O Grande Mentecapto" - um filme de grande mineiridade - tocando teclados e percussão e acompanhado por Maurício Gaetani (percussão), se destacam os temas "Menino Viramundo e o Trem", "Humberto Mauro" (homenagem ao grande cineasta mineiro), "Cego Elias e os Profetas" e "O Capinzal e o Roseiral", que ilustram as imagens criadas por Oswaldo Caldeira para este filme baseado no romance de Fernando Sabino - também uma das presenças em Gramado. LEGENDA FOTO - Wagner Tiso, compositor da trilha sonora de "O Grande Mentecapto" - que disputa o festival de Gramado.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
10/06/1989

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