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Aramis

O som com Glass está em Koyaanisqatsi e Mishima

Se fosse planejado, talvez não desse certo. Mas nas bruscas mudanças de programações a coincidência aconteceu: na mesma semana, a dupla chance de se curtir dois filmes com trilhas sonoras do mais famoso compositor minimalista do momento, o americano Philip Glass, 48 anos, que passou a ser consumido vorazmente no Brasil - ao ponto de já existir cinco elepês com suas obras entre nós. A reprise do lúdico e maravilhoso "Koyaanisqatsi", de Godfrei Reggio - que, em 1984, revelou aos brasileiros, não só a beleza das imagens delirantes de um filme exclusivamente visual, mas também a música de Glass, coincide com a tão aguardada estréia de "Mishima", de Paul Schrader - também com música de Glass, só que numa trilha sonora ainda inédita no Brasil. Esta coincidência já salvaria a semana, mas ainda há outras novidades: o brasileiro "Noite", que Gilberto Loureiro realizou inspirado em um dos menos conhecidos contos de Érico Verissimo; "Os Aventureiros do Bairro Proibido", de John Carpenter; "Viver e Morrer em Los Angeles", de William Friedkin e a inovação que Maurício de Souza traz para as manhãs de sábados e domingos: "As Novas Aventuras da Turma da Mônica" no cine Plaza, a partir de amanhã, em 3 sessões (10, 11 e 12 horas). AS TRILHAS MINIMALISTAS - Até outubro de 1984, quando o crítico Leon Cakof trouxe o filme "Koyaanisqatsi" para a Mostra Internacional de Cinema, em São Paulo, pouquíssimas pessoas tinham ouvido referências sobre Philip Glass. Mas bastaram as primeiras projeções do belo filme de Godfrey Reggio - um brado de alerta ecológico, rodado em várias partes do mundo - para ser estabelecido um encantamento com a trilha sonora diferente, com um som totalmente inusitado. Escolhido o melhor filme da mostra, "Koyaanisqatsi" foi também apresentado durante do I FestRio e a Gaumont adquiriu os direitos para o seu lançamento no Brasil. Agora, em sua terceira exibição em Curitiba, "Koyaanisqatsi" está no cine Groff. A trilha sonora foi editada pela CBS, nuam tiragem especial para o Museu do Disco, de São Paulo, que lançou também dois outros elepês, com a música de Philip Glass ("The Photographer" e "Glassworks"). Outro cineasta que soube utilizar a música minimalista - que, em sua estrutura lembra a oriental - foi Paul Schrader, o diretor de "Mishima", que estreado ontem no Cinema I, se constituiu no mais importante programa da semana. Produção de Francis Ford Coppola e George Lucas, sobre a vida,a obra e a morte por suicídio de Yukio Mishima (1925-1970) numa co-produção japonesa/americana, filmada no Japão e falada em língua japonesa, Mishima é interpretado por Ken Ogata, um dos atores mais famosos do Japão. A fotografia é de John Bailey e muitos dos cenários são criação de Eiko Ishioka, uma das maiores designers atuais do Japão. Bailey, Glass (pela música) e Ishioka foram distinguidos com prêmios espeicais no Festival de Cannes no ano passado. O produtor associado do filme é Leonard Schrader, co-roteirista de "O Beijo da Mulher Aranha", de Hector Babenco. Mishima despertou a atenção do mundo para a literatura japonesa mais do que qualquer outro escritor japonês deste século. Concorrente ao Nobel de Literatura na década de 60, Mishima era como um espelho refletindo as ambigüidades morais e folclóricas do Japão, uma nação arrancada do feudalismo para o capitalismo. Seus livros começam agora a aparecer no Brasil, motivados, em grande parte, pelo sucesso de "Mishima - Uma Vida em Quatro Capítulos", filme sério e importante, de visão indispensável nesta semana. OS AVENTUREIROS DO BAIRRO PROIBIDO também tem orientais no elenco, mas, evidentemente, aqui a salada é mais salgada. John Carpenter (conhecido por filmes como "Fog", "Fuga de Nova Iorque", "Halloween - II e III" e "Christine") misturou elementos fantásticos a aventuras e situações que beiram o pastelão, para fazer de "Big Trouble in Little China" um filme de grande apelo popular - o que deve garantir várias semanas em exibição. O astro é Kurt Russel, pela quarta vez trabalhando com Carpenter. Vindo de muitos seriados na televisão e da cinebiografia "Elvis", Russel consagrou-se em filmes como "Fuga de Nova Iorque" e "O Monstro de Outro Espaço", ambos dirigidos por Russel [Carpenter]. Kim Cattral, segundo nome do elenco, já foi vista em dois filmes interessantes - "Rosebud", do falecido Otto Preminger e "Tributo", de Bob Clark. Em exibição no Plaza, desde ontem. A NOITE GAÚCHA - Exibido no I FestRio, em 1984, e, posteriormente, concorrendo ao Festival de Gramado-85, "Noite", do estreante Gilberto Loureiro só agora chega à tela do cine Luz. De um conto de Érico Verissimo, pouquíssimo conhecido, foi extraído o roteiro deste filme estranho, com ação limitada em algumas horas na noite gaúcha. Um bom elenco - Paulo César Pereiro, Aldine Muller, Eduardo Tornaghi, Christina Aché e Otávio Augusto - dão grande dimensão aos personagens estranhos e marginais que povoam esta fita que teve uma excelente fotografia e marcante trilha sonora (de Sérgio Sarraceni), que, aliás, mereceria ter sido premiado em Gramado. O final é uma surpresa, para o público. Um filme que merece ser visto com atenção. VIVER E MORRER EM LOS ANGELES é o novo filme de William Friedkim ("O Exorcista", "Operação França"), em exibição no Condor. Policial com boa trama, baseado em novela de Gerald Petievich, traz uma curiosidade: a trilha sonora do chinês Wang Chung, que inclui várias canções em inglês. No elenco, gente nova: William L. Petersen, que interpreta Chance, um policial dominado pela vingança, veio dos palcos americanos. William Dafoe e Eric Masters foram vistos em "Fome de Viver" e "Ruas de Fogo". Há um veterano: Dean Stockwell, que foi o garoto encantador em filmes dos anos 50, como "Marujos do Amor" e "O Menino de Cabelos Verdes". A verificar. A TURMA DA MÔNICA - A partir de amanhã - e repetindo em todos os fins de semana - o Plaza oferece uma nova opção de diversão para as crianças: as sessões Zig-Zag. Numa bem bolada idéia de Maurício de Souza, filmes curtos, com Mônica e sua turma, serão exibidos exclusivamente em matinadas aos sábados e domingos, em um cinema de cada cidade. Em Curitiba, a promoção será no Plaza (Praça Osório), que até dezembro estará apresentando o filme de uma hora de duração, reunindo oito pequenas histórias estreladas por Mônica e sua turma. Os episódios são unidos por uma apresentação do elefante Jotalhão. Os filminhos vão agradar a criançada: "Oh Que Dia!", "Um Cão Bem Treinado", "O Vampiro", "A Fonte da Juventude", "Último Desejo", "O Monstro do Lago", "Cascão no País das Torneirinhas" e "O Grande Show". OUTROS PROGRAMAS - Para quem ainda não viu, há bons programas em cartaz: "A Cor Púrpura" (Itália, até o dia 30), "9 1/2 Semanas de Amor" (Astor), "A Marvada Carne" (São João) e, especialmente, "Hannah e Suas Irmãs" - a obra-prima de Woody Allen, seguramente entre os 10 melhores filmes do ano, agora no cine Ritz. Outros filmes que continuam em exibição: "Invasão dos Estados Unidos" (Palace Itália), "Comando Delta" (cine Vitória) - ambos estrelados por Chuck Norris, medíocre e violento; "Os 7 Suspeitos" - um divertido filme de suspense (Lido II) e "Ases Indomáveis" - agora no Lido I. No Lido I, amanhã à meia-noite, a pré-estréia de "Perigosamente Juntos" (Legal Eagles), de Ivan Reitman - com um bom elenco - Robert Redford, Debra Winger e Darryl Hannah - que há pouco foi lançado nos EUA (ainda não tem data para exibição normal na cadeia CIC). No Groff, hoje e amanhã à meia-noite e domingo às 10h30min, "O Expresso da Meia-Noite", de Alan Parker. No Luz, domingo, em matinada, "Os Trapalhões e o Rei do Futebol". LEGENDA FOTO - "As Novas Aventuras da Turma da Mônica" inaugura um novo horário: matinada nas manhãs de sábado e domingo, no Plaza, a partir de amanhã.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Cinema
10
24/10/1986

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