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Aramis

O som bem-produzido de Benson & Deodato

Muitas coincidências entre os últimos discos de George Benson ("20/20") e Eumir Deodato ("Deodato Moves"), que Warner lança simultaneamente no Brasil - poucos meses depois de aparecerem nos Estados Unidos. Guitarrista, compositor e cantor, George Benson (Pittsburg, 22/3/43) é hoje um nome popularíssimo não apenas entre os que acompanham o jazz dos anos 60/70, mas também ao público mais ligado ao pop-rock - haja vista sua participação no recente Rock In Rio. Identificando-se a música popular brasileira, amigo de Ivan Lins (com quem dividiu uma faixa no recente "Juntos", Polygram/1984), Benson tem afinidades com o nosso ritmo. Eumir Deodato (Eumir Deodato de Almeida, RJ, 22/6/1943), tecladista, compositor, arranjador, acordeonista aos 15 anos, pianista na fase da Bossa Nova e há 18 anos morando nos Estados Unidos, fez fama e fortuna na América - conseguindo, camaleonicamente, a exemplo de Sérgio Mendes e outros brasileiros que para lá foram, cair ao gosto das platéias daquele país. Benson e Deodato são artistas talentosos, identificados com as regras de marketing e consumo do público e que, graças a isto ocupam espaços privilegiados num mercado competitivo. Os cultores do Benson instrumentistas, de trabalhos marcantes como belíssimo "Abbey Road" e de outras magníficas participações nos elepês produzidos por Creed Taylor, da CTI, não perdoam a sua adesão a uma música mais comercial, digamos assim e a insistência em deixando de ser apenas virtuose guitarrista insistir em ser cantor (pecado cometido também pelo brasileiro Baden Powell, tantas vezes). Já Eumir Deodato, capaz de proezas como transformar o clássico "Assim Falava Zaratustra" (popularizado por Kubrick na trilha sonora de seu "2001 - Uma Odisséia no Espaço") em ritmo discotheque, assumiu a americanice e nem sequer tentou uma volta às origens - que hoje seria artificial. Entretanto tanto Benson como Deodato, na casa dos 42 anos, conseguem ter uma produção equilibrada que, se apreciada sem preconceitos estilísticos maiores, mostra vigor. Por exemplo, neste "20/20" a produção não poderia ser mais detalhada. De princípio, Benson assume todos os recursos da tecnologia, com programações que não se limitam todos os recursos da tecnologia, com programações que não se limitam apenas aos teclados/sintetizadores, mas chegam até ao "drum machine programming", que a cargo de dois técnicos (ou músicos?) - Clif Magnes e Russ Titelman - mostram a presença decânica numa das partes mais humanas ainda de harmonia musical. Mas se há a presença mecânica, ele também recorre ao brasileiro Paulinho da Costa, percussionista identificado a produção fonográfica americana (prova disto foi seu lamentável disco, aqui comentado na semana passada) e, eventualmente, a seções de metais e cordas, com arranjos do sinatreano Ralph Burns - como em "Beyond The Sea", a versão que Jack Lawrence fez para o inglês do clássico "La Mer" de Charles Trenet, de 1945. Embora esvoaçando vocalmente, Benson busca apoios canoros bem sucedidos: além de uma presença da afinada Patti Austrin, e de seu amigo James Taylor na faixa-título, há o duo Cecil/Linda Womack em "New Day" (de autoria desta dupla), e até uma surpreendente Roberta Flack fazendo a harmonia vocal em "You Are The Love of My Life" (Michael Masser/Linda Creed). Para compensar os que aguardavam, saudosamente, o Benson exclusivamente guitarrista, uma faixa especial: "Stand Up" (Neil Larsen). Já Deodato, felizmente, ainda não chegou ao canto. Fica nos teclados, arranjos e autoria de apenas uma faixa deste "Motion": o balançante "Bus Stop". Em compensação, Deodato traz duas novas vocalistas - Camile e Juicy, mais apresentando seu sax-tenorista Bob Malach também como vocalista em "Bus Stop" - uma faixa gravada exclusivamente na base do sax e dos múltiplos sons extraídos dos teclados eletrônicos programados por Deodato. São apenas seis faixas - "S.O.S. Fire In The Sky" (Alain Palanker/ Rick Suchow), "Never Knew Love" (Jerry Balmes-Katheese Barnese), "Motion" (idem), "Are You For Real" (Rick Suchow), "Make You Feel Good" (Durhan/Palanker/Barnes) e "Bus Stop" que compõe este disco moderno dentro do que o público americano busca de um trabalho musical. "20/20" e "Motion" são discos limpos, de extrema competência e que por certo vão vender muito e serem muito divulgados. Mas será que a música é só esta extraordinária competência? Mesmo quando, emocionalmente Benson mostra que o melhor momento é aquela de 40 anos passados: "La Mer".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
17/03/1985

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