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Aramis

O "Romance" de Bianchi por terras da Alemanha

A repercussão de "Romance", do paranaense Sérgio Bianchi, no FilmFest Muchen (25 de julho a 3 de julho/88) foi tão positiva que já vieram convites para sua apresentação em dois outros importantes festivais internacionais - Edimburgo, na Inglaterra e Montreal, no Canadá. Também executivos dos festivais de Nova Iorque e Chicago, ques estiveram em Munique viram com entusiasmo a crônica política que Bianchi faz do Brasil, mas com uma linguagem tão criativa e original que o mesmo tem condições de ser apresentado para platéias de muitos países. Para a República Federal da Alemanha o filme já foi negociado, embora Sérgio tenha concordado em fazer algumas mudanças - e sabendo que o mesmo, devido a algumas cenas de homossexualismo, terá carreira restrita aos cinemas, sem possibilidades de exibição na televisão. No Brasil há 8 dias, Sérgio esteve em Curitiba no último fim-de-semana e, entusiasmado, anunciou que apesar de ter visto apenas um dos filmes em exibição neste festival não competitivo, com mais de 300 programas diferentes ("Os Canibais", do português Manoel de Oliveira, anteriormente levado a Cannes), a experiência foi valiosa. - "Passei o tempo todo fazendo contatos, reunindo-me com cineastas, distribuidores, e verifiquei que meu inglês e francês está legal para manter conversações". Além de Manoel de Oliveira, considerado o mais importante cineasta lusitano, Bianchi estabeleceu boas relações com outros realizadores europeus, especialmente o italiano Marco Ferreti. Sem deslumbramentos, preocupado agora em acertar a produção de seu novo longa - com o título (provisório de "Causa Secreta"), Sérgio não se mostra deslumbrado pelo fato de "Romance", exibido três vezes, duas na mostra oficial intitulada "Perspecktiven", na sala Eldorado (dia 1º de julho, às 17h30, antecedendo a "The Milagro Beanfield War", de Robert Redford; e às 15 horas no dia 2) com um público numeroso, que não deixou a sala". Também os convites para outros festivais internacionais não tiram sua modéstia, satisfeito profissionalmente em ver reconhecido o seu filme. Reconhecido hoje como um dos mais criativos cineastas brasileiros - e o nome de maior expressão do cinema brasileiro, Bianchi há 13 anos já comparecia ao festival de Cannes, levando o seu primeiro curta, "Omnibus", baseado livremente num conto de Jorge Luis Borges. Coincidentemente, desde quinta-feira da semana passada, está em exibição no Groff, o seu curta "Divina Providência", de 1983, premiado em vários festivais e que é uma das mais ácidas e contundentes críticas à Previdência Social no Brasil. Um curta que em seus 10 minutos vale por um longo comício contra a falta de melhor assistência médico-previdenciária no Brasil e que, mesmo com imagens propositalmente desagradáveis, deveria ser mais divulgado (a Fucucu, que se diz tão defensora do cinema brasileiro, exibe curtas importantes como este, mas não faz a menor divulgação a respeito). O cinema de Sérgio Bianchi é corajoso, incômodo, com um humor negro, mas que faz pensar - o que transformou seus dois longas ("Maldita Coincidência", 1981 e agora "Romance", de 88) em obras reconhecidas pela crítica e que chegam a um público que sabe exigir do cinema obras de reflexão. Prova disso é que, como aqui registramos, durante o Festival de Gramado, mesmo sem "Romance" estar concorrendo, bastou sua exibição paralela para que crescesse a idéia de lhe dar o prêmio da crítica - o que só não se consolidou porque muitos dos críticos alí presentes não puderam assistí-lo. LEGENDA FOTO - Sérgio: "Romance" fez sucesso no festival de Munique.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
19/07/1988

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