Login do usuário

Aramis

O rock curitibano ainda procurando melhores dias

Luís Silvestre, responsável por uma empresa chamada SDP Produção (sic), anuncia que no dia 9 de junho, no Palácio de Cristal do Círculo Militar, estará promovendo o Rock Festival. Afirma que deverão participar 26 bancas da cidade, "quase todas com nomes estranhos e desconhecidos", com duas músicas cada. Muitas delas, pela primeira vez enfrentando um público jovem e que tem lotado espetáculos do gênero. Não existem números certos sobre o número de bandas de rock existentes na cidade. Luiz Antônio Ferreira, do Beijo AA Força, com sua experiência, diz que há dezenas que até hoje não saíram das garagens aonde ensaiam e de apresentações restritas aos grupos de amigos. Em termos "de um trabalho mais regular e profissional", cita, além naturalmente do Baaf, os grupos Opinião Pública, Os Apostulus, Arauto de Deus e os veteranos Metralhas. Estes, com seus integrantes já aproximando-se da faixa dos 40 anos, alguns elepês gravados, várias tentativas de romper o isolamento curitibano e, hoje, garantindo a sobrevivência com a exploração de um quentíssimo rock-bar - o Penny Lane (Alto São Francisco). Se organização, marketing, boa (in)formação e persistência valessem, A Chave teria aberto as portas do sucesso: criado há 23 anos, este conjunto que tinha Orlando Azevedo (hoje um dos mais prósperos fotógrafos da cidade) como seu principal teórico (depois baterista), tentou, de todas as formas, entrar no esquema nacional, mas após anos de luta ficou apenas em um modesto compacto duplo. Hoje, seus integrantes, em diferentes carreiras, são profissionais bem sucedidos. A ausência, até hoje, dos grupos do Paraná no competitivo ranking nacional - apesar dos esforços de várias bandas, que constantemente tentam furar o bloqueio - não desanima a rapaziada que busca "exportar" interestadualmente seu som. Os Metralhas, da paleolítica fase beatleniana, com a organização de marketing do empresário e publicitário Paulo Hilardo (cujo primogênito lidera hoje um grupo dente-de-leite, o 100 Censura), tem conseguido lotar o grande auditório do Guaíra, e fazer sucesso em apresentações em clubes da capital e interior, atingindo a faixa nostálgica dos quarentões que embalaram romances e estrepolias ao som das músicas de Lennon / McCartney. No ano passado, um lp independente ("Cemitério de Elefantes"), reunindo 5 bancas (Tessalia, Bons Garotos Vão para o Inferno, Ídolos do Matinê, Beijo AA Força, Post Merediam), foi tão amadorístico em sua produção que nem chegou a ter qualquer divulgação organizada. Falha que o Beijo AA Força quer evitar agora e que também preocupa outro grupo de rock, Os Apostulus, formado por Francisco Utrabo, 30 anos, Simão Ferreira Jr., 30, Belmiro Jorge, 28, Pedro Paulo, 29 e José Diogo Fonseca, 25, que estão gravando na Gramophone material para um sonhado primeiro lp - e cuja música de trabalho, "Nuvens Negras", um rock-balada, já mereceria encontrar alguma divulgação nas emissoras da cidade. xxx Se os que se dedicam a música popular brasileira no Paraná tem o triste destino de um anonimato permanente (até hoje, Stelinha Egg, 75 anos, mais de 400 gravações, é um exemplo solitário de uma cantora paranaense que teve projeção nacional), com a rapaziada que escolheu o rock também a situação não é fácil. Só que, no pragmatismo yuppie desta geração, poucos são os que se dispõe a insistir num caminho difícil, preferindo frente ao desânimo que o mercado traz, carreiras mais bem sucedidas em outras atividades. Como fizeram os rapazes de A Chave e de tantos outros grupos que estão a espera de uma história sobre a nossa música pop a partir dos anos 60. LEGENDA FOTO - "Os Apóstulus": em estúdio, tentando fazer o primeiro disco.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
16/05/1990

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br