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Aramis

"O Preço da Paixão" é a melhor estréia da semana

Depois de "Cegos, Surdos e Loucos" (Cine Plaza, 3ª semana), temos "De Médico e Louco todo Mundo Tem um Pouco" (Cine Condor) - o que bem exemplifica uma linha de comédias digestivas, amalucadas, mas realizadas com bom senso de marketing. E numa época em que é preciso conquistar o público cada vez mais arredio das salas, estes produtos cumprem sua função - embora não se deva esperar muito em termos artísticos. Afinal, são projetos de target certo, descartáveis em pouco tempo após cumprir o ciclo cinema/vídeo/televisão. Nem mesmo uma produção ultrapromovida como "Batman" resiste a um desgaste prematuro e a prova disto é que suas potencialidades já começam a se esgotar: deixou o cartaz do Cine São João - onde estréia hoje o filme de terror "Demônios de Alcatraz" - e também foi substituído no Bristol - ali pelo melhor lançamento da semana: "O Preço da Paixão" (The Good Mother), de Leonard Nimoy, com Diane Keaton. No Cinema I, após as bem sucedidas reprises de "9 ½ Semanas de Amor", de Adrian Lynne - sempre com um público ampliadíssimo - e "Dirty Dancing", temos agora outra reprise que deve emplacar mais algumas semanas: "Adorável Sedutora", que, em seu lançamento, no Bristol, agradou bastante. Moral em Questão - Leonard Nimoy, 58 anos, que apesar de uma razoável carreira como ator nos anos 50 só se tornaria conhecido como o orelhudo vulcano Dr. Spock, da série "Jornada nas Estrelas" - inicialmente na série de televisão, agora nos cinco filmes realizados para o cinema. Entretanto, Nimoy não queria ficar identificado apenas com este personagem e chegou a publicar um livro de poemas e uma biografia com o título "I Am not Spock". Em 1979, aceitou fazer novamente Dr. Spock no filme "Jornada nas Estrelas - O Filme" (direção de Robert Wise) com a condição de dirigir episódios subsequentes. Assim realizou "A Star Treck III - A Procura de Spock" (84), "Jornada nas Estrelas IV - A Volta para Casa" (86) - o mais ecológico da série - e, no ano passado, já sob direção de William Shatner, atuou em "Star Treck V - A Última Fronteira" (agora em exibição no Lido I). Em 1987, tentaria, entretanto, a comédia - com a versão americana de "Três Homens e um Bebê" (Troi Hommes et um Counfin, 85) - "Três Solteirões e um Bebê" (Three Man and a Baby), com Tom Seleck e Steve Guttemberg. O sucesso de bilheteria foi imenso mas não satisfez Nimoy, ainda em busca de um reconhecimento artístico. Assim, decidiu fazer um filme dramático, sobre os conflitos de uma mulher divorciada (Diane Keaton), que perde a custódia de sua filha devido ao relacionamento com seu amante. Polêmico, dividindo a opinião da crítica que fez boa carreira em São Paulo, "The Good Mother" é daqueles filmes sérios, que não temem tocar na ferida de temas que seriam proibidos há 15 anos, mas hoje são vistos normalmente. Enfim, uma obra que promete, com um bom elenco - além de Diane, os veteranos Jason Robards e Ralph Bellamy - que merece ser visto nesta semana. Comédias Leves - "Cegos, Surdos e Loucos" (See no Evil, Hear no Evil), de Arthur Hiller, com a dupla Richard Pryor e Gene Wilder, em personagens simpáticos e cativantes, com boas gags e muitas piadas que, naturalmente, se perdem para o público brasileiro. A trilha sonora é de Stewart Copelland e continua em cartaz no Plaza. Confusões de internos de hospitais já renderam dezenas de filmes e séries para a televisão, mas "De Médico e Louco todo Mundo Tem um Pouco" (The Dream Team), de Howard Zieff, procura fugir aos padrões tradicionais: Billy (Michael Keaton, o Batman), Henry (Christopher Looyd), Jack (Peter Boyle) e Albert (Stephen Furst) são quatro excêntricos que possuem em comum o fato de serem residentes de um hospital psiquiátrico em New Jersey. Caulfield é um escritor que teve um pequeno problema em controlar sua raiva. Sua filosofia é a de "ficar louco e então ficar tranqüilo". Henry Sikorsky, ex-funcionário dos correios, vive uma crise de identidade. Jack McDermott foi internado no hospital depois de tentar atirar um colega publicitário e seus prêmios Clio pela janela. E Albert Ianuzzi está há 12 anos no hospital e só olha a televisão. Não fala com ninguém. Com estes excêntricos personagens, Howard Zieff ("Recruta Benjamin", "Um Viúvo Trapalhão" e "Do Oeste para a Fama") procura construir uma comédia livre, de situações hilariantes e com bom ritmo em seus 112 minutos. Um programa descontraído para quem disponha de tempo livre. Outra comédia - esta seguramente muito interessante - é "Adorável Sedutora" (Her Alibi), do australiano Bruce Beresford, em reprise no Cinema I. Aos 49 anos, 17 de cinema, em 1983, com "A Força do Carinho" (Tender Mercies, que valeu o Oscar de melhor ator a Robert Duvall), confirmada em "Crimes do Coração" (1986, com Diane Keaton, Jessica Lange). Mostrando versatilidade, saiu-se bem ao dirigir uma comédia sobre um escritor em crise de criação (Philip Blackwood), após sofrer com suas ex-esposas - e que, na melhor maneira dos personagens de Hitchcook, envolve-se com uma belíssima rumena (Paulina Porizkova, a grande revelação como cover-girl nos Estados Unidos neste final de década), acusada de assassinato. O filme tem situações excelentes, Paulina é maravilhosamente bela e sensual e até Tom Seleck - normalmente um ator caricato - saiu-se muito bem neste filme que traz um veterano ator, Hurd Hatfield, há anos ausente das telas mas que os espectadores veteranos, como o Ademar Cavalcanti, coordenador de publicidade da Vitória Cinematográfica, adoram desde que o viram em "O Retrato de Dorian Gray", há 40 anos. No elenco, num pequeno papel, Patrick Wayne - um dos filhos do inesquecível John Wayne - que procurou fazer carreira no cinema, mas sem o sucesso do pai. A trilha sonora é do francês Georges DeLerue, um dos grandes mestres da música de cinema - o que por si já vale (re)ver este "Adorável Sedutora". "Demônios de Alcatraz" - É daquelas produções de terror que a Alvorada costuma importar para lançar em vídeo e no circuito 35mm. Dirigido pelo desconhecido Dimitri Logothetis e com um elenco de anônimos no Brasil - Nicholas Celozzi, Tom Reilly, Donna Donton, Tamara Hyler, etc. - tem uma história ambientada no antigo presídio de Alcatraz, desativado como prisão e que passa a ser "habitado" por fantasmas dos que ali viveram por muitos anos. Sem maiores referências, um filme para o público específico - e por isto mesmo programado para o Cine São João. No circuito da Fundação, enquanto "1º de Abril, Brasil", de Maria Letícia - uma visão meio na base da brincadeira do golpe militar, baseado na peça de Leilah Assumpção ("Vejo um Vulto na Janela, me Acudam que Sou Donzela") permanece em 2ª semana no Ritz. Nas outras salas reprises: no Cine Luz, "O Grande Mentecapto", de Oswaldo Caldeira, baseado no best-seller de Fernando Sabino e com o elenco da TV-Pirata (que ainda não existia quando o filme foi rodado - Deborah Bloch, Luís Fernando Guimarães, Regina Casé) e mais Diogo Viela - agora fazendo a peça "Cabaret", em São Paulo - no personagem título. No Groff, mais uma reprise de "Macunaíma", de Joaquim Pedro de Andrade, com Grande Otelo, Dina Sfat, Paulo José, Milton Gonçalves e Jardel Filho. LEGENDA FOTO 1 - Leonard Nimoy (à direita, como Dr. Spock) é dirigido por William Shatner (à esquerda) em "Jornada nas Estrelas V - A Última Fronteira" (em exibição no Lido). Mas em "O Preço da Paixão" (Cine Bristol) - a melhor estréia da semana - é ele quem dirige Diane Keaton e Jason Robards. LEGENDA FOTO 2 - Fantasmas na prisão: "Os Demônios de Alcatraz" é a atração no São João.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Cinema
8
24/11/1989

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