O pornoerotismo na linguagem popular
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 20 de junho de 1980
Mário Souto Maior, 60 anos, diretor do Centro de Estudos Folclóricos, do Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisa Sociais, em tornou-se notícia, h's 3 anos, quando a Censura proibida que publicasse seu << Cicionário do Palavrão e Termos Afins >>, finalmente agora liberado, em lançamento da Editora Guararapes, do Recife - mas que ainda não chegou às livrarias do Sul. Pesquisador incansável da cultura popular, Mário Souto Maior tem, entretanto, uma obra extensa e importante. Uma das mais interessantes, exaustivamente registrada por nós, por ocasião de seu lançamento, foi << Nomes Próprios Pouco Comuns >> (Livraria São José, Rio de Janeiro, 1974), onde Souto Maior incluia, como << nome pouco comum >>, o daprofessora Porcia dos Guimarães Alves, que posteriormente, fazendo conferências no Recife, viria a se tornar sua grande amiga. Para uma segunda - e afuardada - edição deste livro, Mário deverá acrescentar vários nomes pouco comuns, recolhidos no Sul.
Agora, Souto Maior, acaba de publicar um pequeno - mas interesantíssimo - livro: << Folcloerotismo >>. (Edições Pirata, Recife, 44 páginas). Mais uma vez volta-se a linguagem do povo nordestino, examinado, desta vez, o erotismo - em suas várias manifestações. Na primeira parte, Mauro estuda o << folclore e sociologia do sexo no Nordeste brasileiro: uma contribuição >>. Mas é em << pornoerotismo & adivinhas >>, onde oferece as contribuições mais saborosas, especialmente com as perguntas de duplos sentidos, que aparentemente oferecem respostas maliciosas, mas na verdade são ingênuas questões. Por exemplo, a pergunta << qual é o lugar onde a mulher tem o cabelo mais pixaim >>, tem como resposta correta: << na África >>. Ou então, a quadrinha recolhoda pelo escritor Veríssimo de Melo no seu estudo << Adivinhas >>: << o que é, o que é/Luis tem na frente/Miguel tem atrás/As solteiras têm no meio/As casadas não têm mais? >>. Resposta: << a letra << L >>.
A última parte do estudo de Souto Maior é sobre << o sexo na literatura popular nordestina >>, onde inicia com uma apresiação das mais interessantes, que merece transcrição. << A literatura popular nordestina viveu seus grandes dias nas décadas de 20 a 40, quando existiam menos véiculos de comunicação social e os existentes não tinham tanta penetração como agora. O rádio dava seus primeiros passos, sem auxilio do transísto, a televisão ainda era um sonho e as revistas em quadrinhos começavam a engatinhar. O homem da zona rural nordestina formava um círculo em torno daqueles que tinham alguma leitura e, á luz dos candeeiros de querosene, nos galpões das fazendas, escutava folhetos contando as estripulias do padre Cícero, de Juareiro, as aventuras de Pedro Malazartes, do Amarelinho e de outros he'rois populares. O folheto era uma parte de lição do sertanejo com o mundo e uma maneira de pensa (<< pensar >>) e colocar opiniões sobre ele. Daí a vastidão de seus temas, que vão dos heróis aos costumes cotidianos, incluindo também a problemática sexual. E o mais curioso é que o fol heto não penetrava apenas nas casas pobres, mas também nas fazendas dos ricos, que o apreciavam muito.
Atualmente, muitos fatores contribuem para que os folhetos sejam relegados a um segundo plano. O rádio transistorizado conquistou as mulheres com suas novelas. As revistas em quadrinhos e as escolas tiraram outra fatia considerável dos apreciadores da literatura popular. Os homens se deixaram apaixonar pelo futebol e pelas aventuras de Jerônimo, o herói do sertão. A televisão, contando com o auxilio das pregeituras do interior que colocaram aparelhos em praça pública, transformou Chacrinha, Silvio Santos e Flávio Cavalcanti em quase heróis, partindo do princípio chinês de que mais vale uma imagem do que 10 mil palavras, principalmente para quem não sabe ler. Outro fator foi a migração do homem rural que, acossado pelas estiagens prolongadas., partiu para outras terras. E mesmo quendo volta, traz outros hábitos nas grandes cidades e vem gostando de outras distrações.
Os poetas populares não tiveram mais nenhum grande herói de quem cantassem os feitos. Os poderes públicos passaram a usar o folheto como um excelente meio de comunicação, como aconteceu com o governo federal na campanha de incentivo à agricultura ( >>Plante que o Governo Garante >>), quando editou folhetos de José Costa Leite intitulados << O Homem que Enricou Porque Plantava Algodão >> e << Um Pequeno Agricultor que Se Tornou Fazendeiro >>,cujas edições de 50 mil e 150 mil foram largamento distribuidas na Zona Rural. Os políticos também costumam usar a mesma arma no tempo das eleições, procurando se endeusar aos olhos do povo, apregoando suas vírtudes e promessas.
Com a onda de erotismo que está invadindo o mundo os poetas populares aderiam ao movimento. E tanto é verdade que o sociólogo Carlos Alberto azevedo, em << O Erótico e o Massiânicona Literatura do Cordel >>, reformulou com muito acerto à classificação de literatura popular, criando outros ciclos, entre os quais o erótico ou da obscenidade, que eu prefiro chamar de ciclo pornoerótico >>.
A seguir, Mário Souto Maior dá uma série de exemplos. Que, obviamente, não podem aqui ser transcritos. Mas a quem se interessar possa, seu livro pode ser solicitado as Edições Piratas. Rua Betânia, 10/102, Derby, Recife, PE, 50 000.
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utor de tantos estudos dos mais interessantes (<< Cachaça, 70; << A Morte na Boca do Povo >>, 74: << Território da Danação >>, 75; << Nordeste: A Investida e Folclora >>, 79), Mário Souto Maior anuncia mais 3 importantes estudos para breve: << Painel Folclorico do Nordeste >>, << Sogras: Prós & Contras >> e << Comes & Bebes do Nordeste >>.
FOTO LEGENDA- Mário Souto Maior
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