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Aramis

O piano maravilhoso nas teclas de Geraldo Flach

Geraldo Flach é um gaúcho generoso, amigo e, sobretudo, talentoso. Está hoje para a moderna música instrumental brasileira no Rio Grande do Sul como, no passado, Lupiscínio Rodrigues estava como compositor: um criador dos mais competentes ao fazer - e interpretar a sua música. Se o inesquecível Lupe mal batia uma caixa-de-fósforos - mas deixou obras antológicas - Flach, na maturidade de seus quase 50 anos, é um artista que domina o instrumento (piano), arranjador de primeira linha e sobretudo compositor dos mais inspirados. Ao contrário de tantos de seus contemporâneos que têm sido atraídos pelas luzes das metrópoles nacionais ou mesmo internacionais (como Breno Sauer, há mais de 20 anos nos EUA), Geraldo [preferiu] ficar em sua Porto Alegre, onde é personalidade das mais conhecidas e respeitadas. Dono de um moderno estúdio de gravações, requisitadíssimo para muitos trabalhos, é presença sempre importante nos festivais de música nativista (ou não) e, como compositor de várias trilhas sonoras para televisão e cinema (inclusive do melhor curta-metragem realizado no Brasil nos últimos dez anos, "Ilha das Flores", de Jorge Furtado) tem sido também presença respeitada nos juris do festival de cinema de Gramado (para o qual compôs a bela música-prefixo, executada todas as noites durante o Festival) e no qual, novamente como júri na categoria de longa-metragem, estará participando a partir do dia 5 de agosto - ao nosso lado (*). Geraldo Flach compõe como um verdadeiro ourives. Trabalha demoradamente em suas criações, desenvolve os temas, exige o máximo da perfeição - o que explica porque só tem três elepês-solos gravados, o último dos quais ("Piano", RGE), lançado há poucos meses está com lugar garantido em nossa relação dos dez melhores discos instrumentais deste ano. Em seu primeiro elepe ("Alma", produção independente, sêlo Plug, 1981), Gerald acumulava vários teclados (piano acústico e elétrico, acordeon, sintetizador, sintorquestra e até voz (na faixa "Momento"), para mostrar dez grandes momentos de ternura. Com afetivas participações dos amigos Clóvis no baixo, Fernando Pesão na bateria, e Fernando Doô (viola, bandolim, percussão), Ayres Potthoff (flauta), Luiz Fernando (pistão), Paulo Oliveira e Luizinho(flauta) e belas vozes - Malu ("Último Adeus"), Adriana e Paulo ("Fantasia"), Geraldo fez um álbum surpreendente, com harmonias avançadas, levando adiante uma linha instrumental que teve sua grande fase entre 1959/62 (evidentemente, como todos de sua geração, Flach é um Herdeiro da Bossa Nova). Em 1985, Geraldo retornava com outro álbum marcante: "Momento Mágico" (Sigla/Som Livre), produção que Reinaldo Ribeiro e o incrível Airton dos Anjos - o mais importante recordmen do Rio Grande do Sul fizeram numa fase em que o Sistema Globo de Gravações Audiovisuais associado a RBS, vinha movimentando bastante a área fonográfica gaúcha. Novamente pilotando teclados acústicos e sintetizadores, Flach trazia onze criações próprias, desta vez dispensando vocalizações mas mostrando uma linha ainda mais harmoniosa em faixas como "Outubro" e "Nana Rosa" e um balanço contagiante em ""Balanceio". No ano passado, Geraldo Flach foi passar uma temporada em Nova Iorque, na casa de um amigo, Aures Potthoff, flaustista gaúcho radicado nos EUA, e entrou no estúdio da LRP Record Productions. Resultado: em [poucos] dias tinha uma fita digital com 12 faixas que não poderiam ficar inéditas. Novamente o bom amigo Ayrton dos Anjos - o "patinete", agora na RGE, cuidou da edição e o álbum "Piano" saiu há alguns meses - tendo também uma edição em CD. Com exceção de uma reinterpretação de uma das mais belas composições de seu amigo Chico Buarque - "Joana Francesa" , tema criado para a belíssima trilha sonora do filme de Cacá Diegues (que trouxe Jeanne Moreau ao Brasil, rodado em Alagoas na fazenda da família do hoje presidente Fernando Collor de Mello) - todas as outras faixas são do próprio Flach. Numa espécie de homenagem a diferentes fases da MPB, Flach mostra toda sua erudição (mas somada a extraordinária comunicabilidade) oferecendo momentos magníficos, que fazem este "Piano" fluir como um Royal Salute: redondinho, dando aquela sensação de leveza e finalização - mas sem embriagar. Assim " Último Set", "Mestre Pinzindim", "Moça na Janela", "Bem Bom", "Coração Brasileiro", "Dona Margarida", "no Parking", "Baiãozinho" (uma faixa que se poderia destacar nas FMs, houvesse vida inteligente entre os programadores destas emissoras), "Paixão" e, por último, a deliciosa "Choro no Soho". Grande criador musical, personalidade extraordinária dentro da moderna música gaúcha, Flach merece luzes e aplausos - e é de se esperar que Ayrton dos Anjos, com sua eletricidade de produtor faça com que novos discos com as músicas de Geraldo apareçam. O Brasil precisa de momentos instrumentais deste nível. Nota (*) A convite do sr. Esdras Rubin, coordenador do XIX Festival de Gramado do Cinema Brasileiro, estaremos participando do júri de curta-metragens, a partir do dia 5 de agosto. Convidados para [integrar] o júri de longas, optamos, por motivos pessoais, a integrar o dos curtas - setor que tem trazido as grandes revelações do sofrido mas resistente cinema nacional. LEGENDA FOTO: Geraldo Flach, compositor e pianista gaúcho: um terceiro elepê de primeira qualidade.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
4
28/07/1991
Olá, sou netodo Valnir, seu amigo da antiga Loja Musical e ele gostaria de entrar em contato com você. Peço que mande o contato para o meu e-mail! Obrigado.

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