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Aramis

O novo cinema inglês

O Canadá, que no ano passado com o contundente "O Declínio do Império Americano" era o favorito para a premiação (o filme perdeu para "My Beautiful Laundrette", de Stephan Frears) este ano decepcionou: "A Última Tacada" (The Last Straw) é uma comédia que não se resolve, a partir da sátira sobre Alex Rossi (Sam Grana), um típico cidadão médio - em todos os aspectos menos um - a sexualidade. Considerado o homem mais potente do Canadá, é contratado para fornecer seu esperma com 99,5% de reprodutividade para uma clínica especializada, mas acaba ficando impotente. No início parece um filme de ficção científica, depois tende para a crítica ao feminismo (acusado de ser responsável pela queda da potência dos homens no mundo ocidental), tem toques de fitas de espionagem (com agentes tentando levar o supermacho para a Austrália, necessitando fortalecer sua população) mas acaba como uma comediota daquela fase dos anos 50/60 na Itália, em que o sexo era a motivação para piadas cinematográficas. "Só que faziam as coisas com mais sinceridade", comentava, ao final do filme, o crítico Edmar Pereira. Exibido "hors concours", "Sammy and Rosie", o mais recente filme de Stephen Frears, poderia ser chamado também de "O Declínio do Império Inglês", pelo vigor com que mostra uma Londres violenta, suja e com profundos problemas sociais. Como em "Minha Bela Lavanderia", Stephen Frears volta-se novamente sobre personagens paquistanesas, focalizando dois personagens - Sammy, um contador paquistanês e Rosie, uma assistente social, que moram juntos numa das zonas mais violentas da cidade. O pai de Sammy chega do Paquistão tentando reconquistar o filho, que não via há 5 anos. Com a mesma equipe de "My Beautiful Laundrette"- roteirista (Janif Kureishi), diretor, produtor e alguns intérpretes (Shasi Kappot, Ayub Khan), o filme divide-se em duas tramas: a inadaptação do pai de Sammy a Londres contemporânea (ele tinha na memória a Londres dos anos 40) e a luta de Sammy e Rosie por uma maior liberdade individual dentro do seu relacionamento. A liberação sexual - com swinging matrimonial, relações homossexuais etc. - é colocada claramente por Frears neste filme extremamente crítico a uma Londres diversa daquela London dos anos 60 - época dos Beatles, Abbey Road e "Blow Up". Do mesmo Frears, além da reprise da "My Beautiful Laundrette" (que apesar da premiação no ano passado, permanece inédito comercialmente no Brasil), o FestRio exibe "Prick Up Your Ears" ("Orelhas Quentes"), seu penúltimo filme, baseado numa história real: a relação do dramaturgo Joe Orton (autor, entre outras peças, de "O Olho Azul da Falecida", já montado no Brasil) e Ken Halliwell que se conheceram em 1951, numa academia de artes em Londres e passaram a morar juntos. Ken ensinava a Joe, que vinha da classe operária, todas as coisas sobre arte e literatura; Joe introduzia Ken num mundo de promiscuidade e aventuras eróticas. Assim viveram durante 11 anos escrevendo juntos e buscando sempre novas experiências sexuais, de preferência em lugares públicos. A situação foi deteriorando e Haliwell acabou assassinando a marteladas seu amante Joe Orton, em 9 de agosto de 1967. xxx O VIGOROSO CINEMA INGLÊS - A rara oportunidade de se ver estes filmes de Stephen Frears - um dos cineastas presentes ao FestRio e bastante procurado pela imprensa - deve-se à feliz idéia que os diretores do festival tiveram em homenagear o cinema inglês, aproveitando o fortalecimento que os novos realizadores vem obtendo internacionalmente a partir de 1984. Assim além da mostra "Tesouros da Cinemateca" dar oportunidade de se rever obras clássicas de cineastas como David Lean, Carol Reed e Robert Hammer ("As Oito Vítimas", por exemplo, um clássico com Alex Guinnes, para quem consegue cronometrar o tempo e se dividir entre as diversas salas é possível conhecer obras "Up To Date" dos novos cineastas ingleses, como "A Barriga do Arquiteto" (The Belly of An Architect), de Peter Greenaway, 34 anos, premiado em Cannes e considerado a nova sensação do cinema europeu - de quem também estão sendo mostrados "O Contrato de Amor" (The Draught-Man's Contract) - e "A Zed And Rwo Noughs" (Um "Zé" e dois "zeros") produções sem chances, ao menos imediatas, de lançamento comercial no Brasil. Embora confundidos na América Latina - (assim como a música) - como norte-americano, o cinema inglês tem tido alguns sucessos de bilheteria (e premiações) - "Gandhi", "Carruagens de Fogo", "O Homem Elefante", "Passagem Para a Índia", "A Mulher do Tenente Francês", "Greystock", "Uma Janela Para o Amor" (que encerrou o FestRio no ano passado, "Gritos do Silêncio", "A Missão", "Monalisa" (ainda inédito em Curitiba). Entretanto, desconhece-se ainda um novo cinema inglês que começa a aparecer com vigor. Enquanto Michael Radford, que em 84 trouxe sua versão ao cinema do romance de George Orwell, concorre novamente com "Veneno Branco", na mostra paralela temos além dos filmes de Frears e Greenaway, uma nova comédia anarquista de Terry Jones (ex-integrante do grupo Monthy Python), "Personal Services" (Serviços Íntimos), um filme que fala de prostituição também mostrando uma Londres selvagem; "Rita, Sue And Bob Too", de Alan Clarck, mostra as experiências sexuais de duas adolescentes que nas férias escolares trabalham como babysytters. Outros cineastas ingleses também são apresentados nesta amostragem como Bruce Robinson ("Withna I And I / O Fim de Uma Década"), Harry Hook ("The Kitchen Toto / Entre Dois Mundos"), Peter Richardson ("Eat The Rich / Rico a La Carte"), Robert Smith ("The Love Child / O Menino do Amor"), Pat O'Connor ("A Month in The Country") e até um filme de animação, "Quando o Vento Sopra", de Jimmy Murakami. Oxalá, haja interesse dos distribuidores para que ao menos alguns destes filmes sejam comercializados e lançados em nossos circuitos.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
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25/11/1987
aorei sabe um pouco mas sobre cinema inglêsa se não fosse meu namorado eu não sabia nada sobre cinema inglêsa ele mandou eu pesquisa pra ele ai eu mim interesei um pouco

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