O livro de Penalva sobre Carlos Gomes
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 07 de fevereiro de 1987
Encerrando sua participação na Oficina de Música, que mais uma vez a Fundação Cultural promoveu o professor e compositor José Penalva vai tirar férias em Campinas, sua cidade natal. Só que, possivelmente, terá que interrompê-las a pedido da editora Papirus, daquela cidade. Por uma razão muito especial: comparecer em algumas sessões de autógrafos do livro "Carlos Gomes, O Compositor" (151 páginas, Cz$ 115,00), recém-lançado.
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Religioso que optou pela música, o padre Penalva, 65 anos, é uma das personalidades mais presentes na vida musical curitibana. Fundador da Pró-Música, da qual já foi presidente, criador de vários corais, compositor com obra conhecida nacionalmente e incansável mestre e pesquisador - tendo inclusive feito descobertas de obras importantes do período Barroco Mineiro - ele não poderia, como campineiro que é, deixar de escrever um livro sobre Antonio Carlos Gomes, cujo sesquicentenário de nascimento transcorreu no ano passado. Afinal, como diz o editor, M. R. Cornacchia, Penalva "é um desses brasileiros preocupados em não deixar morrer a lembrança de fatos, feitos e personagens que nos antecederam."
Fruto de anos de pesquisas das mais sérias - inclusive na Itália, esta sua biografia de Carlos gomes foi escirta em linguagem simples e acessível, enveredando por dois caminhos.
No primeiro, é traçado um panorama da vida do compositor, mostrando-o "de fora", digamos assim: sua trajetória desde o nascimento até a sua morte (Belém, 1896), passando pela sua fulgurante estada na Europa. Já no segundo tem-se como que uma "visão interna" de seu trabalho: um estudo de sua evolução estética, acrescido de duas cartas a ele endereçadas por dois músicos de peso - Verdi e Lauro Rossi.
Embora, modestamente, Penalva diga que "como todo trabalho historiográfico, este também é provisório", impressiona a quantidade de documentos citados - cartas, críticas de jornais da época, além de fotos e ilustrações, mostrando que o autor foi a fundo na obra. Com uma humildade franciscana, Penalva diz que "na medida em que se vão descobrindo novos dados e dicumentos, amplia-se a compreensão da vida e da obra do personagem em questão". Com isto, Penalva não se dispõe a encerrar o seu estudo, promentendo ampliá-lo de acordo com o surgimento de novas fontes de informação.
Existem ouros livros sobre Carlos Gomes. Sua obra continua a ser estudada - e merecendo, aliás, maior divulgação, pois são raras as gravações disponíveis, mesmo das obras mais famosas ("O Guarani", por exemplo, teve uma única gravação no Brasil, feita pela antiga Chantecler, há quase 30 anos). O padre Penalva, ao realizar este "Carlos Gomes, O Compositor", deu sua importante contribuição.
Na semana passada, em São Paulo, o padre Penalva participou de um congresso de musicografia. Em duas palestras, fez originais revelações sobre a vida e a obra de Carlos Gomes, inclusive abordando uma ópera inédita, da qual não existia, até hoje, qualquer notícia. Tema de outro livro que, se espera, venha a ser editado ainda em 1987.
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